Dólar tem maior alta em um dia desde maxidesvalorização do real
Em apenas oito horas, o mercado de câmbio brasileiro voltou 18 anos no tempo, mais precisamente para janeiro de 1999, quando o real sofreu sua maxidesvalorização.
A crise política que mergulhou o Brasil em novo momento de profunda incerteza fez o dólar subir 8,06% nesta quinta-feira, para R$ 3,3836. É a maior alta diária desde 15 de janeiro de 1999, quando a cotação disparou 11,10%, no dia em que foi anunciada a mudança do regime de câmbio para flutuante.
Ontem, o dólar havia fechado a R$ 3,1313, depois de chegar a tocar R$ 3,08 nesta semana.
Com tamanha pressão, o mercado espera uma onda de revisões para cima nas estimativas para o dólar. O Credit Suisse deu o pontapé inicial. O banco suíço revisou de R$ 3,20 para R$ 3,50 a expectativa para o dólar em três meses. Para 12 meses, a estimativa saiu de R$ 3,50 para R$ 3,70. Essa taxa embute expectativa de que o dólar se aprecie mais 9,4% ante o fechamento desta quinta.
Ao longo de todo o dia, operadores chamaram atenção para a falta de liquidez no mercado. Com todos os investidores correndo para tomar dólar, o custo da moeda disparou. Isso atraiu exportadores, que aproveitaram para internalizar recursos parados no exterior no então período de dólar mais fraco. Mas esses fluxos no máximo impediram que o dólar subisse ainda mais. O operador de uma tesouraria relata estrangeiros "desesperadamente" na ponta de compra, tentando proteger posições na renda fixa, que sofreram tombos históricos nesta quinta.
Na máxima, o dólar subiu 8,85%, para R$ 3,4083. O alívio frente a esses patamares veio na esteira das quatro ofertas líquidas de swap cambial tradicional realizadas pelo Banco Central. No total, a autoridade monetária injetou no mercado US$ 4 bilhões. É a maior colocação de liquidez em um só dia desde a sessão de 18 de junho de 2013, quando o BC vendeu ao todo US$ 4,51 bilhões via swaps. Na ocasião, o câmbio operava sob forte estresse vindo do exterior, em meio à sinalização do então presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano) Ben Bernanke de que o BC americano começaria a reduzir a disponibilidade de liquidez.
Nas mesas de operação, os comentários ao longo do dia eram sobre a JBS ter comprado moeda estrangeira ontem e também em dias anteriores. Na BM&F, a posição líquida comprada em dólar por parte de empresas não financeiras quase dobrou. A aposta que ganha com a alta do dólar saiu de 13.880 contratos no fim da segunda-feira para 23.240 ontem. Na quarta, a alta foi de 31% em relação à terça. A posição atual equivale a uma aposta líquida na alta do dólar de US$ 1,162 bilhão.
Do grupo de empresas não financeiras fazem parte algumas grandes companhias exportadoras com mesas próprias de operação. A JBS é conhecida no mercado por sua presença ativa nas negociações.
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