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REPORTAGEM

Brasil terá nova fabricante de aviões em MG e Portugal: conheça a Desaer

Avião ATL-100, da fabricante brasileira Desaer - Divulgação/Desaer
Avião ATL-100, da fabricante brasileira Desaer Imagem: Divulgação/Desaer

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, de São Paulo

30/05/2021 04h00

O Brasil terá mais uma fabricante de aviões. A Desaer (Desenvolvimento Aeronáutico) planeja construir sua fábrica em Araxá (MG) para produzir o avião bimotor ATL-100 (aeronave de transporte leve). As obras estão previstas para começar no segundo semestre.

A empresa foi fundada pelo engenheiro Evandro Fernandes Fileno, que saiu da Embraer em 2016 para criar o ATL-100 e, em seguida, fundar a Desaer. Hoje, conta com diversos sócios que têm passagens por companhias como Embraer e Boeing.

Escritório em São José dos Campos (SP)

Apesar da fábrica em Minas, a Desaer irá manter seu escritório na Incubaero, uma incubadora de empresas e projetos criada pela Fundação Casimiro Montenegro Filho, localizada em São José dos Campos (SP), local onde tudo começou.

A ida para Minas se deu após diálogos com vários estados, entre eles, Espírito Santo, Goiás e São Paulo.

São sete sócios e 40 colaboradores. "Hoje, o Brasil tem mais de mil aeródromos certificados, mas só cerca de 65 são utilizados [frequentemente]. Muitas cidades têm pista para receber aviões, mas não têm voos", diz o fundador da Desaer sobre o potencial do avião no mercado, que poderá operar em pistas curtas.

Design "quadrado" dá mais espaço de carga

Rampa de embarque traseira do avião ATL-100, da Desaer - Divulgação/Desaer - Divulgação/Desaer
Rampa de embarque traseira do avião ATL-100, da Desaer
Imagem: Divulgação/Desaer

O ATL-100 busca suprir uma demanda de mercado de voos de curta distância. Sua velocidade máxima é de aproximadamente 380 km/h, podendo alcançar uma autonomia de até 1.600 km e transportar até cerca de 2,5 toneladas.

Por voar a baixas altitudes, não precisa ser pressurizado nem ter um perfil arredondado. Com isso, sua fuselagem pode ser mais próxima à de um quadrado, o que amplia a capacidade de carga.

Leva pessoas de dia e cargas à noite

O projeto é desenvolvido para transporte de até 19 passageiros, 12 paraquedistas ou até três contêineres LD3, os mesmos que são utilizados em aviões cargueiros de grande porte.

Assim, não seria necessário descarregar os produtos do contêiner de um avião maior para serem colocados no ATL-100, o que economiza tempo e reduz custos.

Corte transversal da fuselagem do ATL-100 - Divulgação/Desaer - Divulgação/Desaer
Corte mostra tamanho da fuselagem do ATL-100 e das principais concorrentes
Imagem: Divulgação/Desaer

Junto a isso, em cerca de uma hora o avião pode ser adaptado de transporte de passageiros para cargueiro ou ambulância aérea. Empresas podem se favorecer dessa rápida mudança, voando com passageiros durante o dia e, durante a noite, com a menor movimentação, fazer voos de carga.

O embarque de passageiros pode ser realizado pela porta lateral situada na frente do avião ou por meio da rampa traseira em situações específicas.

O avião ainda pode ser adaptado para uma versão militar, com função de patrulha, reconhecimento ou transporte de tropas, entre outras.

ATL-100 militar - Divulgação/Desaer - Divulgação/Desaer
Avião Desaer ATL-100, que pode também pode ser configurado para operações militares e de resgate e salvamento
Imagem: Divulgação/Desaer

Fábrica em Portugal

Junto com a construção em Araxá, a Desaer mantém uma joint-venture com a empresa portuguesa Ceiia (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto), especializada em engenharia e inovação aeronáutica. Essa companhia foi responsável por elaborar partes do avião militar C-390 Millennium (também conhecido como KC-390, da Embraer).

No país europeu, se chamará Desaer Portugal, com escritório em Évora e fábrica em Ponte de Sor. A parceria tem 70% de participação nacional e 30% portuguesa.

De acordo com Fileno, a ideia é fabricar e voar em Portugal primeiro, pois há incentivo financeiro do governo português. "O apoio que a gente não conseguiu aqui, a gente conseguiu lá", diz o engenheiro.

Outro motivo para o ATL-100 ser construído na Europa é o alcance da aeronave. Como o modelo não foi desenvolvido para voar longas distâncias, não teria capacidade para cruzar o oceano.

A fábrica brasileira alimentaria os mercados das Américas, e a portuguesa, o mercado internacional. Quando estiverem operando, a expectativa é que cada fábrica entregue quatro aviões por mês.

A empresa ainda busca ampliar sua capitalização, mas não se atém ao mercado nacional. "Hoje estamos abertos para quem quiser investir na companhia, e conversamos com grupos da Europa, Ásia e Oriente Médio", diz Fileno.

Aviões concorrentes são velhos

O segmento da aviação que a Desaer pretende explorar com o ATL-100 deve crescer nos próximos anos.

A maioria dos modelos dessa categoria é antiga. São aviões cujos projetos remontam à década de 1960 e 1970 e vêm sendo modernizados, mas, mesmo com as atualizações, estão se aproximando do fim de suas vidas úteis.

Poucos concorrentes

ATL-100 - Divulgação/Desaer - Divulgação/Desaer
Diferentes configurações do avião ATL-100, da brasileira Desaer
Imagem: Divulgação/Desaer

Atualmente, as aeronaves utilitárias para até 19 passageiros têm poucos projetos em andamento pelo mundo. Entre as vantagens desses modelos está o fato de não precisarem de comissários de voo para serem operadas, além de não serem pressurizadas, já que voam a baixas altitudes, o que economiza na criação de diversos sistemas.

O ATL-100 teria como concorrente direto o SkyCourier, da norte-americana Cessna, fabricante do Caravan. Ambos os projetos são muito similares, tanto em tamanho quanto em capacidade de passageiros e de transporte de carga.

Rampa traseira é uma das vantagens

Uma das vantagens do ATL-100 em relação ao modelo estrangeiro está na rampa de acesso traseiro. Com ela, é possível agilizar o embarque de contêineres e até de passageiros com restrição de mobilidade.

Segundo a empresa, já existem 12 intenções de compra assinadas, sendo sete no Uruguai e cinco no Brasil. A Desaer ainda tem mais seis projetos em desenvolvimento, entre eles, modelos de transporte de passageiros e um modelo de ALE (Aeronave Leve Esportiva).