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REPORTAGEM

Drones podem derrubar um avião? Isso é mito ou verdade?

Colisão de um drone com aviões e helicópteros pode ocasionar até mesmo a queda da aeronave - StockSnap/Pixabay
Colisão de um drone com aviões e helicópteros pode ocasionar até mesmo a queda da aeronave Imagem: StockSnap/Pixabay

Por Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/07/2021 04h00

Nos últimos anos, o aeroporto de Congonhas (SP) teve suas atividades paralisadas devido a um drone em duas ocasiões pelo menos. Em uma oportunidade, o local teve suas operações interrompidas por duas horas.

Mas, será que um objeto tão pequeno em comparação com um avião consegue colocar em risco a aviação desse jeito? Embora a chance de colisão entre os dois possa ser remota, a resposta ainda é sim.

Nos Estados Unidos, a FAA (Administração Federal de Aviação, na sigla em inglês) recebe mais de cem relatórios todos os meses sobre drones observados em rotas de aviões. Apenas no último trimestre de 2020, foram 366 casos registrados destes equipamentos realizando voos onde não havia autorização.

Testes conduzidos em laboratório mostram que, embora pesem quase o mesmo que um pássaro, os drones podem causar sérios danos a um avião.

Mas seria possível um drone derrubar um avião? Seja com o impacto na parte externa ou em caso de o aparelho ser "engolido" pelos motores, existe um risco que pode ocasionar desde uma pane até mesmo a queda da aeronave, já que, em alguns casos, teriam força suficiente para danificar a estrutura do avião na colisão.

Asa danificada

Drone Dayton - Montagem/YouTube/University of Dayton Research Institute - Montagem/YouTube/University of Dayton Research Institute
Teste de impacto com drone de pequeno porte causou danos significativos à asa de um avião
Imagem: Montagem/YouTube/University of Dayton Research Institute

O Instituto de Pesquisa da Universidade de Dayton, nos Estados Unidos, realiza desde 2018 testes de impacto de drones em aeronaves. Em um deles, um drone quadricóptero (com quatro hélices) pesando 950 gramas, foi arremessado contra a asa de um avião.

O drone ficou completamente destruído após o impacto, e a asa do avião sofreu danos significativos. "Enquanto o quadricóptero se partia no impacto, sua energia e massa se uniam para causar danos significativos à asa", disse Kevin Poormon, líder do grupo de física de impacto da Universidade de Dayton à época dos primeiros testes.

Ainda segundo a pesquisa, mesmo pesando o mesmo que alguns pássaros, o drone entrou na asa e danificou sua estrutura. As aves, por sua vez, causam danos mais superficiais ao avião em caso de colisão, diferente do quadricóptero.

Com os resultados observados, os pesquisadores da universidade norte-americana dizem acreditar que o importante é regulamentar esses objetos para que eles causem o mínimo de danos possível. Uma alternativa seria construir drones mais frágeis, que se quebrariam mais facilmente em caso de impacto com um avião. Ou, ainda, manter um limite de peso, para que não representem uma ameaça maior às aeronaves.

"Não é prático regulamentar as aeronaves com passageiros para tentar evitar que elas colidam com os drones, cuja quantidade vem crescendo. É mais prático regulamentar a operação dos drones", disse Poormon, afirmando que a FAA já tem diversas regulações para o setor.

A universidade de Virginia, também nos EUA, realizou simulações onde drones de uso profissional, com peso entre quatro e cinco quilos, colidiam com aviões. Nos testes, foi constatado que esse impacto poderia causar danos irreversíveis em várias partes das aeronaves, como o para-brisa, ou estragos severos em superfícies de controle do avião. Isso também poderia levar à perda de controle e a uma eventual queda.

Veja como foi o teste na Universidade de Dayton:

Difícil fiscalização

Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o país contava em junho com 83.710 drones cadastrados, sendo 49.238 para uso recreativo e 34.472 para uso profissional. O estado com o maior número de aparelhos registrados é São Paulo, com 28.448 unidades ao todo.

Ainda existem 61.617 pessoas habilitadas a operar estes equipamentos. Entretanto, nem sempre quem pilota esses aparelhos ou o próprio drone está registrado junto ao órgão federal.

Junto a isso, é difícil fiscalizar esses aparelhos, que não têm de voar com equipamentos de identificação ou matrícula, necessariamente, como em aeronaves de maior porte.

Mesmo que o aparelho seja localizado após um acidente, ele pode acabar abandonado pelo seu operador e, dificilmente, será possível ficar sabendo quem é o seu dono.

Regulamentação

Drone DJI - Florian Pircher/Pixabay - Florian Pircher/Pixabay
Falta de respeito às regras de uso de drones colocam a aviação em risco
Imagem: Florian Pircher/Pixabay

Drones e aeromodelos de até 250 gramas são dispensados de serem registrados na Anac, assim como seus voos. Acima desse peso, é preciso realizar um cadastro no site da agência.

Equipamentos com peso máximo de decolagem de até 25 kg e que não irão voar acima de 400 pés (122 metros) de altura não precisam de um piloto licenciado. Fora de qualquer um desses limites, será necessário que o operador esteja habilitado para o voo, e ainda pode ser requisitado um exame médico dependendo do modelo que será utilizado.

Também é proibido voar o drone a menos de 30 metros na horizontal de outras pessoas ou nas proximidades de aeroportos. Essa distância não precisa ser respeitada se existir alguma barreira que proteja as pessoas da aproximação do aparelho ou se for alguma operação de segurança pública ou fiscalização de órgãos públicos, por exemplo.

Quem for flagrado utilizando drones de forma indevida pode responder a processos administrativo, civil e penal. Mais informações podem ser conferidas na cartilha de orientações para usuários de drones, da Anac.

Piloto relata drone perto do instante do pouso no aeroporto de Guarulhos (SP):