IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Todos a Bordo

REPORTAGEM

Avião Antonov, maior cargueiro do mundo, com 6 motores, volta a voar; veja

Por Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

31/07/2021 04h00

O AN-225, o maior avião cargueiro do mundo, voltou a realizar voos comerciais em junho deste ano após ficar parado por cerca de dez meses, período em que houve a troca de motor e implementação de melhorias em seus sistemas.

Mais recentemente, a Antonov Airlines, que opera o modelo, divulgou um vídeo captado por um drone com imagens muito interessantes desse gigante decolando do aeroporto de Gostomel, na Ucrânia. Nele, é possível ver de perto o avião em rota de subida para realizar mais uma missão.

O vídeo completo foi divulgado pelo piloto do avião, Dmytro Antonov, em seu canal no YouTube, e pode ser visto no alto deste texto (com a decolagem iniciando a partir de 3min57s).

O AN-225 também é chamado de Mriya, que significa sonho ou inspiração em ucraniano, ou pela designação de Cossaco, dada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Esse é considerado o maior avião em operação atualmente, com peso máximo de decolagem de 640 toneladas, o que inclui o peso da própria aeronave somado ao combustível e à carga transportada.

Sua capacidade o coloca à frente até mesmo do Airbus A380 e do Boeing 747, os maiores aviões de passageiros do mundo na atualidade, com peso máximo de decolagem de até 572 ton e 447,7 toneladas, respectivamente.

Para conseguir sair do chão, ele conta com seis motores, e seus trens de pouso têm 32 pneus ao todo (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal).

Programa espacial russo

Buran AN-225 - Divulgação/Antonov - Divulgação/Antonov
Ônibus espacial Buran é preparado para ser transportado sobre o avião Antonov AN-225 Mriya
Imagem: Divulgação/Antonov

O Mriya foi desenvolvido a pedido do governo da então União Soviética na década de 1980 para o transporte do Buran, o ônibus espacial russo, e do foguete propulsor Energia.

O primeiro voo do AN-225 ocorreu em dezembro de 1988, mas foi apenas em maio de 1989 que ele levou sua principal carga, o Buran.

Tanto a espaçonave quanto o foguete russos foram acoplados na parte superior para serem transportados. Para isso, o projeto da cauda do avião teve de ser adaptado e passou a ter um estabilizador vertical duplo, já que o fluxo de ar causado pela carga na parte de fora poderia dificultar o controle em voo nos modelos tradicionais.

Sua tarefa, inicialmente, era de transportar as várias partes do ônibus espacial, que foram produzidas em diversos locais da União Soviética, para o cosmódromo de Baikonur, o maior do mundo, localizado no Cazaquistão (então pertencente ao bloco de países comunistas).

Entretanto, com o fim do financiamento do programa espacial, o avião deixou de voar em 1994, e ficou parado até 2001.

AN-225 Buran URSS - Divulgação/Antonov - Divulgação/Antonov
Ônibus espacial Buran é transportado sobre o Antonov AN-225
Imagem: Divulgação/Antonov

Renascimento

De acordo com a fabricante Antonov, o dia 7 de maio de 2001 marca o renascimento do Mriya. Após passar por um ciclo de modernização, iniciado em 2000, o avião voltou à ativa como cargueiro comercial.

Ele não realiza voos regulares, apenas fretados, em situações onde é necessário levar uma carga com peso muito elevado a longas distâncias.

Em muitas de suas operações, realizar o transporte por terra ou por navio se mostraria mais lento, o que compensa o valor pago pelo seu fretamento.

Esse avião hoje transporta, principalmente, peças de grande porte, como geradores de energia e transformadores, ou ajuda humanitária.

O avião registra duas passagens pelo Brasil, uma em 2010 e outra em 2016. Em ambas as situações, foi feito o transporte de equipamentos para o setor de energia.

Atualmente, estima-se que uma hora de voo custe algo entre US$ 30 mil e US$ 60 mil (R$ 153 mil e R$ 307 mil). Questionada, a empresa não confirmou o atual valor para o fretamento de sua aeronave, que deve levar em consideração não apenas a duração da operação, mas o peso da carga transportada e a distância a ser percorrida.

Modelo único

Segundo AN-225 - Divulgação/Antonov - Divulgação/Antonov
Estrutura do segundo AN-225, que nunca foi concluído, na fábrica da Antonov, na Ucrânia
Imagem: Divulgação/Antonov

Existe apenas um AN-225 em funcionamento atualmente. A fabricante iniciou a fabricação de uma segunda unidade, mas o projeto foi abandonado.

O esqueleto desse novo exemplar encontra-se guardado até hoje na fábrica da Antonov, na Ucrânia.

Em entrevista ao site Kyiv Post, o presidente da empresa, Oleksandr Donets, descartou finalizar o segundo exemplar, afirmando que ele teria de ser redesenhado para se adaptar às inovações tecnológicas mais recentes.

Por ser tão único, ele também tem dificuldades para encontrar locais para pousar, já que poucos aeroportos comportam seu peso e tamanho. Ele também precisa voar com peças de reserva para manutenções de emergência, já que não existe outro modelo similar em operação no mundo.

Recordista

AN-225 - Lucas Lima/UOL - Lucas Lima/UOL
Antonov AN-225 conta com 32 pneus ao todo em seus trens de pouso
Imagem: Lucas Lima/UOL

De acordo com a Antonov, o modelo já quebrou centenas de recordes, como o transporte de carga mais pesada por meio aéreo e de carga mais comprida levada em um avião.

No Guinness, o livro dos recordes, o avião consta em pelo menos três recordes:

  • O item mais comprido transportado em um avião

Em 2011, o AN-225 transportou duas pás de turbinas eólicas, com 42,1 metros de comprimento, entre a China e a Dinamarca. O avião teve de pousar em um aeroporto militar, o único capaz de receber uma carga tão grande.

  • O de item mais pesado transportado por via aérea

Foi um gerador de energia com peso de 187,6 toneladas, que decolou do aeroporto de Frankfurt (Alemanha) em 2009.

  • O de aeronave mais pesada de todos os tempos

O avião consegue decolar com um peso total de 640 toneladas. Seu projeto inicial conseguia sair do chão com até 600 toneladas, mas, após a reforma entre os anos de 2000 e 2001, sua capacidade foi aumentada

O Antonov AN-225

  • Dimensões: 84 m de comprimento por 88,4 m de envergadura (distância de uma ponta da asa à outra) e altura de 18,2 m
  • Área da asa: 905 m²
  • Velocidade de cruzeiro: 800 km/h
  • Distância máxima de voo: 15,4 mil km, quando está vazio, ou cerca de 4.000 km, com carga máxima
  • Peso máximo de decolagem: 640 toneladas
  • Peso máximo da carga transportada: 250 toneladas
  • Altitude máxima de voo: 9.000 metros
  • Seis motores ao todo
  • O trem de pouso tem 32 pneus (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal). Por ser um modelo único, tem de transportar pneus reservas em cada voo caso ocorra algum problema.
  • O avião tem um guindaste interno para a movimentação de cargas
  • O modelo foi baseado no seu irmão menor, o AN-124 Ruslan
  • Em 2016, o avião transportou um transformador de São Paulo para o Chile, com o peso total de 182 toneladas. Segundo o fabricante, foi o a segunda maior peça transportada por via aérea no mundo e a mais pesada entregue por meio de uma aeronave na América do Sul
  • A parte da frente do avião abaixa quando está sendo carregado, para facilitar a entrada da carga
  • A tripulação do AN-225 é composta por, pelo menos, seis pessoas, entre elas, os pilotos e engenheiros de voo. Em missões com duração maior, esse número pode dobrar
  • A parte de cima do avião é onde fica a cabine de comando e a área para descanso da tripulação
  • A vida útil do avião deve ir até, pelo menos, 2033, quando completará 45 anos de serviço e terá sido operado 20 mil horas em 4.000 voos