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REPORTAGEM

A aeronave soviética da Guerra Fria que parecia barco e fugia de radares

Ecranoplano classe Lun em praia no Daguestão, na Rússia - Divulgação/Alexey Komarov
Ecranoplano classe Lun em praia no Daguestão, na Rússia
Imagem: Divulgação/Alexey Komarov

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/02/2022 04h00

Em pleno Mar Cáspio, um monstro dominava as águas no período da Guerra Fria (1947-1991). Não era uma figura mitológica, como o monstro do lago Ness, na Escócia, mas ecranoplanos militares, um tipo de aeronave gigante fabricada pela União Soviética (1922-1991).

Elas foram desenvolvidas para a utilização na guerra, e podiam contar com forte poder bélico, além de serem invisíveis aos radares, já que sempre estavam em baixas alturas. Elas voavam em torno de quatro metros acima da superfície, seja ela a água, gelo ou superfícies planas, e dificilmente passavam dessa altura.

Os ecranoplanos conseguiam se deslocar devido ao efeito solo, um fenômeno aerodinâmico que permite que ele flutue devido a um "colchão" de ar que é formado entre a asa e o solo. Isso é comum em aviões e helicópteros quando estão próximos do chão, mas eles conseguem voar em maiores alturas, ao contrário dos ecranoplanos, que se deslocam apenas sob esse efeito.

Sua forma lembra um avião com asa pequena, e seu funcionamento é confundido com o de um aerobarco (hovercraft), mas ele é uma aeronave completamente diferente.

Monstro do mar Cáspio

ecranoplano - Divulgação/Sergey Rodovnichenko - Divulgação/Sergey Rodovnichenko
O ecranoplano soviético A-90 Orlyonok (Eaglet), o Monstro do Mar Cáspio
Imagem: Divulgação/Sergey Rodovnichenko

Projetados por Rostislav Alekseyev, alguns ecranoplanos conseguiam voar normalmente sobre a água, gelo ou outras superfícies lisas. Eles foram apelidados de Monstro do Mar Cáspio pela CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.

O desenvolvimento das versões militares dessas aeronaves teve início na década de 1970 de forma secreta pela União Soviética. Uma das classes de ecranoplanos desenvolvidos com a finalidade militar é chamada de Lun, cujo único exemplar entrou em serviço em 1987 e ultrapassava os 500 km/h.

Ele possuía 73 metros de comprimento, 44 metros de envergadura (distância de ponta a ponta das asas) e peso máximo de decolagem de 380 toneladas. Como comparação, o maior avião do mundo na atualidade, o Antonov An-225, possui cerca de 84 metros de comprimento e decola com até 640 toneladas.

No interior do Lun havia salas de descanso, camas, cozinha, além de diversos sistemas de radar para evitar impactos e detectar ameaças.

Artilharia contra porta-aviões

Uma das principais funções do Lun era atacar porta-aviões. Para isso, o ecranoplano foi equipado com seis mísseis do tipo Mosquito na parte superior, capazes de destruir aquele tipo de embarcação.

Como ele voava a poucos metros acima da superfície, era praticamente impossível de ser detectado por radares. Como também não encostava na água, sonares não conseguiam acusar sua presença.

Com essa vantagem tática, o Lun podia chegar mais perto dos seus alvos antes de ser descoberto, conseguindo realizar disparos mais precisos e mais rápidos, o que dificulta o contra-ataque.

Encontrado na praia

O ecranoplano Lun ganhou notoriedade recentemente após ser encontrado em uma praia russa em 2020. Antes disso, ele passou 30 anos abandonado em uma base militar.

Com um projeto de se tornar um ponto turístico, a aeronave foi rebocada da base da Marinha russa em Kaspiysk para Derbent, no Mar Cáspio. Ali ele ficou aguardando na praia até ser rebocado para o seu destino, um museu onde ficará exposto ao lado de outros aviões militares.

Outros modelos dos ecranoplanos além do Lun podem ser encontrados em diversos locais da Rússia. Um deles, o A-90 Orlyonok, conta com um exemplar em exposição em Moscou.

Ficha técnica

Ecranoplano classe Lun
Comprimento: 73 metros
Envergadura: 44 metros
Altura: 19 metros
Distância voada: Até 2.000 km
Altitude de voo: Até cerca de 5 metros
Peso máximo de decolagem: 380 toneladas
Velocidade: Acima de 500 km/h
Tripulação: Até 15 pessoas
Propulsão: Oito motores a jato