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REPORTAGEM

Passagem aérea fica até 45% mais cara em março; a culpa é só do petróleo?

Retomada do setor aéreo pode ser afetada por alta no preço das passagens, que são influenciadas pelo câmbio e valor do petróleo - Getty Images/iStockphoto
Retomada do setor aéreo pode ser afetada por alta no preço das passagens, que são influenciadas pelo câmbio e valor do petróleo Imagem: Getty Images/iStockphoto

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/03/2022 04h00

As passagens aéreas no Brasil registraram um grande aumento na primeira quinzena de março em relação ao mesmo período de fevereiro, segundo o metabuscador de viagens Kayak. Os percentuais variam conforme o destino: 45% para Florianópolis (SC), 41% para Brasília e 40% para São Paulo e Rio de Janeiro. A busca considera só o destino, sem especificar a origem.

Essa elevação também se espalhou por outros serviços prestados pelas companhias, como o despacho de bagagens, que também teve alta (de 6% a 36%, dependendo da companhia e da categoria do bilhete).

Os reajustes acompanham o petróleo no mercado internacional, por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.Mas até onde o petróleo é o único responsável por esse aumento? Existem outros fatores?

Composição do valor

Nas companhias aéreas brasileiras, entre 20% e 30% do valor da passagem é composto por gastos com combustível e lubrificantes, que estão ligados diretamente ao petróleo. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, afirmou que esse custo já chega a 50% com os recentes aumentos.

Segundo Fabio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o preço do petróleo afeta profundamente o valor final da passagem, mas não é o único fator.

De acordo com o especialista, o câmbio também influencia, e pode ser um dos motivos que ainda estão segurando uma alta maior, tendo em vista que a cotação do dólar apresentou queda nos últimos dias.

Em março, o litro do querosene de aviação rompeu pela primeira vez na história a barreira dos R$ 4 nas refinarias, o que deve ser sentido com mais força nas próximas semanas, diz o economista.

Entretanto, como a demanda ainda está em recuperação, o repasse não deve ser tão grande aos consumidores. "Como a demanda ainda está cerca de 30% abaixo dos níveis pré-pandemia, as companhias não possuem margem para o repasse, podendo atrapalhar a retomada do setor", diz o especialista.

Quanto aumenta?

De acordo com Bentes, tanto o preço do petróleo quanto o câmbio do dólar têm de ser analisados para apurar o impacto no valor das passagens. Os aumentos ocorrem na seguinte proporção, segundo o economista:

  • Se o preço do petróleo sobe 10%, o querosene aumenta 6%
  • Se o câmbio do dólar sobe 10%, o querosene avança 6,7%
  • Se o querosene aumenta 10%, a passagem sobe 2,1%

"Em um mês, o câmbio caiu 6%, e o petróleo aumentou 25%. Com isso, o querosene de aviação deve ficar 15% mais caro, com uma expectativa que a alta chegue a 19% nos próximos dias", diz Bentes.

Ainda segundo o economista, a expectativa é que a alta do querosene e outros fatores relacionados ao petróleo representem passagens 4% mais caras em breve.

Repasse diluído

Alessandro Azzoni, advogado e economista, diz que os aumentos não devem ser repassados diretamente no valor da passagem, mas sim diluídos em outros serviços prestados pelas empresas. Isso explica o aumento no valor do despacho de bagagens.

"As empresas podem diluir uma parte no valor da passagem e o restante nas rendas acessórias, para não afugentarem quem usa poucos serviços, como embarque preferencial, despacho de bagagens e alimentação", diz o advogado.

Para evitar repassar o aumento, também será preciso que as empresas alterem suas estratégias, como rever rotas e reduzir a quantidade de voos, diz Azzoni.

"Em vez de colocar um voo saindo por hora, é possível começar a espaçar as decolagens para ter os aviões mais cheios", afirma.

Empresas tentam se proteger

Para evitar impactos mais severos sobre suas operações com a elevação do preço do querosene de aviação, as empresas vêm tomando uma série de atitudes, como mudanças em suas rotas.

A Latam adiou a estreia de seis novas bases para junho e agosto, além de postergar a inauguração de cinco novas rotas para julho. Ao mesmo tempo, a companhia se viu diante da necessidade de suspender temporariamente dez rotas que já operava, como as que ligavam o aeroporto de Brasília (DF) a Rio Branco (AC), Uberlância (MG) e Imperatriz (MA).

Em nota, a Azul informa que a "continuidade desse cenário poderá adiar uma retomada mais vigorosa da oferta de voos no país, assim como a inclusão de novas cidades e novas rotas e frequências entre aeroportos que já contam com serviço aéreo".