Um dos maiores medos de quem está voando é não saber o que fazer se o piloto passar mal e não houver como pousar o avião.
Mesmo com sistemas automatizados de voo, como o piloto automático, o avião ainda precisa da interferência humana em diversas etapas para garantir a segurança do voo.
Entretanto, um novo sistema de inteligência artificial feito para aviões de pequeno porte promete um pouso seguro com o simples apertar de um botão caso o piloto não esteja disponível para fazê-lo, como em caso de mal súbito ou morte.
A fabricante de equipamentos aeronáuticos Garmin International desenvolveu o sistema Autonomí, que calcula as melhores possibilidades e comanda o avião em direção ao aeroporto mais adequado para realizar o pouso sozinho.
O UOL visitou o hangar da Plane Aviation, no aeroporto de Jundiaí (SP), onde conheceu o sistema a bordo de um Cirrus Vision Jet. Veja como ele funciona:
Emergência detectada
No momento em que quem está a bordo do avião detecta que o piloto não poderá fazer o pouso ou continuar o voo, ele deve pressionar um botão chamado "Safe return autoland" por um determinado tempo, o que inicia uma série de ações no avião. A primeira é a ativação: o jato passa a voar em linha reta e nivelado, ou seja, nem subindo nem descendo.
Esse acionamento também é feito caso o Vision Jet identifique que houve uma descompressão na cabine, o que pode levar os tripulantes a ficarem inconscientes devido à falta de oxigênio. Com isso, o avião desce a uma altitude de 15 mil pés (4,6 km), onde é possível respirar sem máscaras de oxigênio.
Se o botão ficar pressionado por mais de 60 segundos, ele irá acionar o sistema de pouso automático. Nesse momento, o "robô" da inteligência artificial do avião passa a fazer uma varredura na aeronave para levantar informações como:
- Qual a localização geográfica?
- Quanto combustível ainda resta?
- Qual a altitude?
- Qual o clima?
- Qual o aeroporto mais próximo?
- Há obstáculos próximos no relevo?
Calculando a rota
O avião tem conectividade via satélite para obter algumas informações, como o clima, sentido do pouso e direção do vento. Com isso, a inteligência artificial da aeronave traça a rota para o aeroporto, desviando de obstáculos (como montanhas e torres) e calculando como deverá ser feita a aproximação e em qual sentido, levando em conta todas as informações coletadas anteriormente.
Ao mesmo tempo, as telas da aeronave mudam para o chamado modo passageiro. No lugar de informações com os parâmetros do Cirrus Vision Jet, passam a ser exibidas informações para quem está a bordo sobre o que está acontecendo e orienta sobre procedimentos.
Os passageiros passam a ser informados qual será o aeroporto de destino, quanto tempo falta para chegar até lá, entre outras informações.
Os rádios do avião ainda são colocados em uma frequência usada em emergências para que o próprio sistema avise os órgãos de controle de tráfego aéreo o que está acontecendo e o que ele irá fazer. Se o passageiro precisar falar, basta ele apertar um botão na tela, que a configuração já está pronta para isso.
Continuando na rota
O avião segue o voo mantendo a comunicação com o controle de tráfego aéreo e muda o transponder da aeronave para o número 7700, que indica que há uma emergência a bordo. A comunicação é feita por meio de uma voz sintetizada pelo computador da aeronave.
Enquanto fala com os controladores, uma outra voz dentro do jato avisa os passageiros o que está acontecendo e orienta se for necessário tomar alguma atitude.
Pouso
Após checar todas as condições necessárias e traçar uma rota livre de obstáculos, o sistema de pouso automático faz um checklist para saber se pode continuar ou não. Nesse momento, a inteligência artificial configura o avião baixando os trens de pouso, posicionando os flaps, escolhendo a velocidade certa e alinhando com a pista.
Sensores instalados na aeronave detectam o centro da pista para manter o alinhamento e o ponto de toque. Após tocar o chão, ele mantém o alinhamento sozinho.
Após a parada total, as telas passam a mostrar para os passageiros como abrir a porta e sair da aeronave em segurança. Mesmo com o avião vazio, o sistema ainda ajuda a tirar o aparelho da pista, mostrando para as equipes de solo como destravar o freio, levar o avião para um lugar seguro e desligar o motor.
Ainda assim, se não encontrar um aeroporto próximo para o pouso, o avião voará até o destino já programado, onde irá pousar de maneira autônoma.
Veja o sistema em funcionamento:
Paraquedas
O Cirrus Vision Jet ainda possui um sistema de paraquedas de emergência para a aeronave. Quando acionado, o avião reduz a velocidade até uma margem segura e o paraquedas é acionado, fazendo com que ele desça em direção ao solo com uma velociade menor.
Esse sistema é chamado de Caps (Cirrus Airframe Parachute System, ou, Sistema de Paraquedas de Fuselagem Cirrus). Segundo a fabricante, esse sistema já foi acionado 105 vezes em todas as suas aeronaves fabricadas até hoje, e 220 pessoas tiveram suas vidas salvas com isso.
O modelo
O Vision Jet é um avião de pequeno porte, com capacidade para até sete pessoas a bordo. Ele é desenvolvido para ser fácil de pilotar, e o objetivo é que o próprio dono do avião conduza sua aeronave.
Seu interior pode ser configurado para uma versão executiva, com menos assentos, mesa w tela para trabalhar a bordo.
O monomotor tem uma envergadura (distância de ponta a ponta da asa) de 11,79 metros, altura de 3,32 metros e comprimento de 9,42 metros. Ele precisa de uma distância de 620 metros para decolar, e de menos de 500 metros para pousar, aumentando o seu acesso a uma quantidade maior de pistas.
Sua velocidade máxima é de 576 km/h, e pode voar a até 2.361 km de distância sem precisar parar para reabastecer.
No Brasil, ele custa US$ 3,75 milhões (R$ 18,43 milhões), incluindo os impostos, com a hora de voo a partir de US$ 700 (R$ 3.420), o que inclui manutenção e combustível. São 350 Vision Jets entregues até hoje no mundo, e há uma fila de 400 clientes para receberem o modelo, com entregas programadas para até o final de 2026.
No Brasil existem, dez aviões, e mais dois devem chegar até o fim do ano. Ainda há uma fila de 20 clientes para comprar o jato no país, o que representa 5% da fila de espera mundial.
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