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Com apoio de Bill Gates, ovo vegetal quer tirar galinhas das gaiolas

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

09/10/2013 06h00

Um pó verde-claro, criado por uma empresa americana, pretende substituir o ovo em algumas receitas.

O Beyond Eggs (Além dos Ovos, em português), desenvolvido pela Hampton Creek, vem sendo chamado de ovo vegetal e tem como principal objetivo, de acordo com o fundador da empresa, Josh Tetrick, poupar milhões de galinhas.

De acordo com ele, as aves vivem em granjas “onde passam suas vidas inteiras em baterias de gaiolas -tão pequenas e superlotadas que não podem sequer abrir suas asas”.

A empresa tem apoio financeiro de Bill Gates, fundador da Microsoft, e criou uma receita de "ovo artificial" que leva uma variedade de ervilha, outra de feijão, sorgo, óleo de girassol e de canola, além de outros ingredientes naturais.

Entre as características ressaltadas por Tetrick, está o fato de o ovo vegetal ser livre de colesterol e de salmonela, uma bactéria encontrada na casca que, se ingerida, pode causar intoxicação alimentar.

Uma das formulações do pó pode ser utilizada para substituir ovos em produtos assados, como biscoitos. Outra, em molhos e maionese, por exemplo. Tanto os biscoitos como a maionese começarão a ser vendidas em março do ano que vem pela Hampton Creek nos Estados Unidos.

Segundo a empresa, ainda neste ano duas outras grandes companhias alimentícias americanas começarão a usar o Beyond Eggs, mas os nomes não foram revelados.

No futuro, Tetrick espera desenvolver um produto líquido, que possa ser usado para fazer ovos mexidos, assim como expandir as atividades da empresa internacionalmente, em países como Brasil, China e Nigéria.

Sobre o gosto, Tetrick afirma que o ovo não fica tão evidente na receita, o que ressalta o sabor de outros elementos. “Você sente mais o gosto do chocolate no biscoito, por exemplo. E a maioria das pessoas também prefere o gosto da nossa maionese”, diz.

Para Bill Gates, empresa é o "futuro da alimentação"

De acordo com informações da Hampton Creek, que tem sede em São Francisco (EUA), a empresa tem apoio financeiro de Bill Gates, que a identificou como uma das principais empresas que "moldarão o futuro da alimentação".

“Bill Gates é um investidor em nossa empresa através da Khosla Ventures [empresa de investimento]. Na verdade, ele tem falado publicamente sobre esse investimento e nos selecionou como uma das três empresas em seu fundo especial para o futuro da alimentação”, afirmou a diretora de comunicações da Hampton Creek, Morgan Oliveira. Os valores envolvidos não foram revelados.

A diretora diz que a empresa vê no Brasil um mercado em potencial para a venda desses ovos vegetais. “Os preços dos ovos estão aumentando globalmente. A segurança do alimento também é uma preocupação em todo o mundo, assim como as questões de sustentabilidade. Além disso, os brasileiros são conhecidos por seu amor aos produtos de ponta”, afirma. Ainda não há previsão para a venda por aqui.

A Hampton Creek também pretende expandir a linha de produtos. Segundo Morgan Oliveira, o líquido para fazer ovos mexidos deve ficar pronto em março, assim como uma massa pronta para fazer biscoitos em casa.

  • Empresa divulga ovo líquido comercializado em caixinhas

Produção de ovos no Brasil segue regras do Ministério da Agricultura

De acordo com o presidente do Instituto Ovos Brasil, Rogério Belzer, todas as granjas que produzem ovos no Brasil e tem o selo de inspeção sanitária são auditadas pelo Ministério da Agricultura, diminuindo, assim, o risco de contaminação dos produtos e garantindo as condições das gaiolas que abrigam as aves.

"Há dois tipos de criação no país: a de galinhas em gaiolas e as que vivem mais soltas, como as orgânicas. Você oferece à população as duas formas de produção e cabe a ela decidir qual ovo quer comprar. Os ovos orgânicos costumam ser mais caros, e ainda temos no Brasil uma parcela da sociedade que não tem muitos recursos para a alimentação e precisa dos nutrientes que um ovo fornece. É importante ressaltar que essas produções são tão seguras quanto as orgânicas, por exemplo", afirma.

Belzer conta ainda que, de acordo com dados recebidos pelo instituto, o Brasil ainda consome menos ovos do que os Estados Unidos e países da Europa. "São 162 ovos por pessoa ao ano, enquanto que nos EUA são 260, em média. Na Europa, são 220. Não há um excesso de galinhas poedeiras, visto que o consumo não é tão grande assim", diz.

Ovos em pó já são vendidos no Brasil para padarias e restaurantes

Ovos em pó feitos a partir do produto de origem animal já são encontrados há algum tempo no Brasil, assim como na forma líquida. O produto é vendido a restaurantes e padarias.

A Sina Cheff, um dos fabricantes, quer passar a também vender essas duas versões de ovos de galinha diretamente ao consumidor final (veja vídeo acima). Segundo a empresa, o ovo líquido deve ser vendido no mercado no início de 2014. Cada 50 gramas equivale a um ovo comum.

Ha marcas que também oferecem embalagens contendo apenas as gemas ou apenas claras dos ovos, tanto na forma líquida quanto em pó.

Ovo vegetal não é ovo, diz nutricionista

Para Edson Credidio, doutor em Ciências de Alimentos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), algumas vitaminas e minerais podem ser eliminados no processo de obtenção de ovos nesses formatos alternativos.

“Porém, a indústria alimentícia pode fortificar o alimento industrializado para repor o que foi perdido”, afirma.

Já para a nutricionista e consultora do Instituto Ovos Brasil, Lucia Endriukaite, não há perda de nutrientes, mas apenas de água no processo de pasteurização e secagem do ovo.

Ela ressalta que todas as formas de ovos que não preservam o conteúdo animal do produto -como é o caso do ovo vegetal em pó -, não podem ser chamados de ovos. “Ovo é um produto animal, é a partir de um  ovo que nasce um novo ser. Ovo vegetal não é ovo”, afirma.