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Trator anda de ré para colher camomila, exportada do Paraná para a Europa

Talita Boros

Do UOL, em Curitiba

30/10/2013 06h00

Sem ter máquinas adequadas, pequenos produtores brasileiros "dão um jeitinho" na hora da colheita da camomila, conhecida por suas propriedades calmantes.

Eles usam um trator andando de marcha ré, com duas ou três pessoas sentadas na parte traseira, recolhendo e soltando as plantas que ficam presas no equipamento.

Mesmo com essa "adaptação", o Brasil conseguiu aumentar em 15% a produção da erva. Até o ano passado, o país tinha que importar camomila do Egito e da Argentina. Agora, nossa produção dá conta do consumo interno, e é exportada para a Europa.

A camomila é um dos destaques da economia de Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba. Com pouco mais de 24 mil habitantes, a cidade é responsável por cerca de metade dos 3.000 hectares da camomila do Paraná, maior produtor de ervas medicinais do Brasil. As cidades próximas --como São José dos Pinhais, Araucária e Campo do Tenente-- também produzem a erva.

No ano passado, os produtores paranaenses iniciaram exportações para a Itália, com o envio de 16 toneladas de camomila.

"O volume deve ser repetido neste ano, e também há pedidos da Alemanha", disse o especialista em plantas medicinais Cirino Corrêa Júnior, engenheiro agrônomo do Emater-PR (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural).

Colheita é feita com trator conduzido de ré pela lavoura

A colheita de camomila no Paraná geralmente é feita com a ajuda de um trator. Ainda assim, o processo demanda trabalho manual.

Normalmente, duas ou três pessoas se sentam numa espécie de pá acoplada na traseira da máquina, que é conduzida de ré pela lavoura. Os dentes da pá cortam as hastes das plantas, mas os agricultores precisam recolhê-las e soltar as que ficam presas nos dentes do equipamento.

Os produtores paranaenses aguardam recurso do governo do Estado para a compra de uma máquina específica para colher camomila, importada da Itália.

"Com a chegada da colheitadeira, o processo melhoraria tanto em qualidade quanto em rendimento por área", diz Cirino Corrêa Júnior.

Valor da produção supera R$ 11 milhões

A colheita deste ano praticamente chegou ao fim no Estado e deve dar origem a 1.500 toneladas de plantas secas, afirma o especialista em plantas medicinais do Emater-PR. 

Segundo ele, o valor da produção no campo corresponde a mais de R$ 11 milhões.

A safra paranaense deste ano, diz o agrônomo, sofreu algumas baixas com a forte geada que atingiu o estado em julho. Mas como a camomila é uma planta com grande capacidade de gerar novas flores, a perda não foi tão grande.

Camomila chegou ao Paraná com alemães, ucranianos e poloneses

O plantio de camomila chegou ao Estado há mais de cem anos, trazido por imigrantes alemães, ucranianos e poloneses.

"Começou como cultura alternativa de inverno na região de Curitiba. Hoje, o Paraná é o maior produtor de plantas medicinais do Brasil, respondendo por 90% de toda a produção nacional. A camomila é a rainha do grupo", diz Corrêa Júnior.

Além da indústria alimentícia, a camomila é utilizada amplamente pelos setores farmacêutico e fitoterápico. Com o mercado em expansão, a área plantada de camomila paranaense cresceu 15% no último ano, área que corresponde a 400 hectares.

"Pode parecer pouco, mas é um grande aumento para uma cultura de plantas medicinais", afirma o agrônomo do Emater-PR. "O cultivo de um hectare de camomila corresponde a dez de milho, por exemplo, em termos de necessidade de mão de obra e rentabilidade".

Segundo o especialista, a camomila paranaense é vendida para todos os Estados brasileiros.

Produtor fez parceria com vizinhos para ter mais matéria-prima

Arildo de Oliveira Franco, há 30 anos deixou a fabricação de móveis para se dedicar à camomila em Mandirituba. Hoje, além de cultivar a planta em cerca de 100 hectares, mantém, junto com o filho Luis Adriano, uma empresa para selecionar, secar e embalar a erva.

"Fizemos uma parceria com pequenos produtores. Nós damos a semente, eles plantam e colhem. Depois compramos a camomila deles", explica Luis Adriano Franco.

Na empresa, a camomila de primeira --composta somente pelas flores-- é separada da de segunda --também chamada de mista, formada por flores e galhos. Os dois tipo passam, separadamente, pela secagem e pelo picador, depois são embalados em pacotes ou sachês para chá.

O chá de camomila de primeira é bem mais forte e cheiroso. O de segunda é mais leve.

O produtor importou uma máquina para embalar a camomila e hoje tem capacidade para produzir mais de 30 mil caixas com 20 sachês.