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Empresa de Maceió cria app que traduz escrita para linguagem de surdos

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

19/03/2015 06h00

Com um aplicativo que traduz textos da web para a língua de sinais (libras), usada na comunicação de pessoas com surdez, a empresa Hand Talk, de Maceió, pretende faturar R$ 4 milhões em 2015. 

Para quem tem deficiência auditiva, compreender a língua portuguesa é um desafio. Como a língua de sinais é sua primeira língua, nem sempre são fluentes na leitura e escrita de textos. 

Outras empresas também estão investindo em aplicativos de acessibilidade. A Mobile2You, de São Paulo, criou o Visita Guiada, que auxilia cegos e surdos em visitas a museus

Para que um site seja traduzido pela Hand Talk, o administrador da página deve fazer uma assinatura do programa. O usuário, por sua vez, precisa instalar o programa no computador. No lado direito da tela, um personagem chamado Hugo faz os sinais correspondentes ao texto indicado pelo internauta.

Hugo é capaz de traduzir cerca de 200 mil palavras do português para a língua de libras, segundo Ronaldo Tenório, 29, um dos criadores da empresa. De acordo com ele, a cada dia novas palavras são sugeridas por usuários e acrescentadas ao repertório do personagem. “É como se ele ficasse mais inteligente”, diz.

Segundo o empresário, as características físicas do personagem foram pensadas para facilitar a compreensão dos sinais. “Ele tem as mãos e o rosto grandes e a sobrancelha em destaque para que a mensagem fique mais clara”, afirma. “A diferença entre uma pergunta e uma afirmação está na expressão facial.”

O preço da assinatura varia de acordo com a quantidade de páginas traduzidas no mês. Até 500 traduções, o serviço é grátis. Entre 501 e 2.000, o custo é de R$ 49 mensais. Até 12,5 mil traduções, o preço sobe para R$ 199. Para sites que precisam de mais de 40 mil páginas traduzidas, o valor chega a R$ 499. A empresa tem mil assinaturas ativas.

Além disso, o negócio tem outra fonte de renda. A empresa desenvolve projetos de acessibilidade sob encomenda. Uma das ações em implantação são terminais de autoatendimento com língua de libras em shoppings. O valor cobrado por esses projetos não foi divulgado.

Programa falha ao traduzir palavra dentro de contexto

A pedido do UOL, Neivaldo Augusto Zovico, deficiente auditivo e diretor regional da Feneis-SP (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos de São Paulo) testou o programa. Segundo ele, muitas palavras são traduzidas individualmente para a língua de sinais e não são consideradas dentro do contexto da frase, o que pode alterar seus significados.

"A ferramenta funciona mais como um dicionário de libras. Como tradutor, ainda precisa de ajustes", diz. A conversa foi feita por telefone com a ajuda de uma intérprete de libras.

Empresa começou com aplicativo grátis

A Hand Talk nasceu em 2013 como um aplicativo grátis, que continua disponível, para tablets e smartphones. Desde o lançamento foram mais de 300 mil downloads. O programa converte textos de até 140 caracteres e áudios de até 15 segundos em libras, novamente com a ajuda do personagem Hugo.

Desde o começo do negócio, Tenório estima ter investido cerca de R$ 1,5 milhão. Segundo ele, o montante veio de recursos próprios dos fundadores e de investidores-anjos. O percentual de investimento de cada parte não foi revelado.

Entender quem é o público-alvo é desafio

Ganhar dinheiro com aplicativos é a nova onda entre os jovens, segundo Leonardo Dias, diretor de tecnologia do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia) da USP. No entanto, de acordo com ele, faltam planejamento e visão de negócio a empreendedores da área.

“Muitos lançam o aplicativo sem entender quem é o público-alvo, que problema vão resolver, aonde querem chegar e quanto isso vai custar”, afirma. “É preciso planejamento, pesquisar o tamanho do mercado e ouvir sugestões de pessoas interessadas naquela ideia.”

Segundo Dias, há uma visão romântica em torno do negócio que não acontece na prática. “Criar um aplicativo é só um dos passos da empresa. Ela precisa ter clientes (usuários), gerar lucro e fazer novos aplicativos”, diz. “O retorno financeiro é um processo demorado, incompatível com o imediatismo do jovem.”

Reportagens do UOL podem ser ouvidas

As reportagens do UOL têm um recurso de acessibilidade para quem tiver qualquer grau de deficiência visual. Basta acionar o botão "Ouvir texto" que fica ao lado das áreas de compartilhamento, no alto de cada reportagem, e escutar a leitura da notícia.

Onde encontrar:

Hand Talk: www.handtalk.me

Mobile2You: www.mobile2you.com.br