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Ela começou na Bolsa com ações de R$ 0,04, e hoje é dona de casa de análise

Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, começou com pouco na Bolsa - Divulgação
Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, começou com pouco na Bolsa Imagem: Divulgação

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

12/08/2021 04h00

Se você ainda acredita que não dá para começar na Bolsa com pouco dinheiro, imagine investir menos de R$ 1 em uma ação. Bem menos. A analista Marília Fontes ainda estava na faculdade de Economia quando decidiu entrar na Bolsa, estimulada por um amigo que já investia. No seu primeiro investimento na Bolsa, ela comprou ações que valiam, cada uma, R$ 0,04.

"Se o papel começasse a valer R$ 1, eu estaria milionária", diz a analista. Não foi bem assim. A ação, que já estava barata, ficou ainda mais e caiu para R$ 0,02. Marília perdeu metade do que tinha investido. O valor total aplicado na empresa ela não lembra, mas o erro do primeiro investimento ela não esquece, mesmo depois de 15 anos.

Marília é uma das convidadas do próximo Guia do Investidor UOL, que vai mostrar como investir para realizar metas e por fase de vida. O evento é gratuito e você pode se inscrever no cadastro abaixo.

"Esse foi o meu maior erro como investidora, que é investir no que você não sabe, no que você não entende, só porque o preço está baixo. Se o preço está baixo não significa que o investimento é bom. Foi aí que vi que o buraco era mais embaixo e que eu precisava estudar", afirma.

Esse erro também ajudou a especialista a chegar onde está. Hoje, Marília Fontes é especialista em renda fixa e macroeconomia, e é sócia-fundadora da casa de análises Nord Research. Com 12 anos de experiência no mercado financeiro, Marília acumula passagens em grandes instituições financeiras, como Itaú Asset Management, Mauá Capital, Kondor Invest e Empiricus.

Ambiente agressivo de mesa de operações não assustou

Na faculdade de Economia, Marília era uma das sete mulheres de uma turma de 35 alunos, mas foi somente quando começou a trabalhar que ela percebeu a falta de mulheres no mercado financeiro.

Antes mesmo de se formar, conseguiu trabalho em uma mesa de operações de renda fixa de uma grande instituição financeira. Por algum tempo, ela foi a única mulher em um ambiente com cerca de 60 homens.

O ambiente muito masculino e "agressivo" não assustou Marília. Nem a responsabilidade do trabalho. Em uma mesa de operações, bilhões estão em jogo e qualquer erro pode resultar em um prejuízo enorme.

"Como eu era estagiária, já era esperado que eu não tivesse tanta experiência, então nunca fui cobrada e nem ridicularizada, mas a mesa de operações era um local muito agressivo e de muita pressão. Hoje em dia já não é tanto, mas na minha época era muito. Era comum que os superiores gritassem com você. Eles tinham a impressão de que mulher não aguenta", afirma.

"Mas eu não encarei como 'ah, não aceito isso'. Encarei como ', vamos fazer, vamos tentar fazer dar certo', e acho que eles perceberam que eu entendi, e depois que você passa por isso, você não precisa mais dessa agressividade. Não estou falando que é natural, mas na minha época era assim. Encarei e colhi os frutos depois", diz.

Experiência como gestora contribuiu para investir melhor

Gestores de investimentos têm restrições para investirem como pessoas físicas. Existem regras da própria CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que garantem que gestores não operem em benefício próprio.

Por isso, quando começou a crescer na área como gestora, Marília pouco investiu na Bolsa. A saída era a renda fixa, principalmente títulos públicos.

"Como profissional aprendi muito. Aprendi o que os melhores gestores do mercado fazem para ganhar dinheiro, e o que não funciona. Como investidora, aprendi que não dá para ganhar sempre. No mercado, a gente acha que é infalível, mas não é", afirma.

Marília percebeu isso quando foi demitida em 2014, por não conseguir fazer o dinheiro dos fundos que geria crescer.

"Era época de eleição e meu desempenho foi muito ruim. Pensei, 'nossa como sou inútil, como sou ruim no que faço'. Mas operar com eleições é o tipo de coisa que não se faz. Eu ficava como uma barata tonta sem saber onde investir, sendo que deveria ter ficado quieta", afirma.

Foi na Empiricus, porém, que Marília acertou mais do que errou, e provou a si mesma que era boa no que fazia.

"Foi muito bom para mim, cresci muito na minha carreira, acertei muito. Claro que a gente erra, mas não pode se cobrar tanto. Se você gosta do que você faz, vai dar certo", afirma.

Carteira conservadora

Mesmo com toda experiência em investimentos, Marília é super conservadora: 90% da carteira dela está em renda fixa pós-fixada.

"Eu mudo minhas teses de investimentos conforme muda o cenário. Estou super conservadora. A gente está em um cenário difícil de renda variável, e com possibilidade de aumento da taxa de juros dos EUA, que pode deixar o cenário ainda mais difícil", diz.

Além disso, Marília está em outra fase da vida, com filhos. O que muda o jeito de investir —é sobre isso que ela vai falar no próximo dia 17, no Guia do Investidor UOL.

E a Bolsa?

"Os 10% em renda variável que tenho, estou naquilo que realmente acredito e que está barato", afirma.

Para quem está começando, Marília diz que não é preciso esperar para entrar na Bolsa, mas faz uma ressalva.

"Acho importante saber que ele [o investidor] não está entrando em uma Bolsa barata. Não é um passeio no parque. Faz a lição de casa e investe em boas empresas que ainda estão baratas", diz.

Outro aviso é sobre quem te dá a "dica" do investimento. Quando Marília começou, ela investiu em uma empresa que não conhecia, porque se inspirou na empolgação de um amigo que estava na Bolsa. Toda inspiração, porém, requer cuidado.

"Cuidado com quem te aconselha. Se quem te aconselha não é remunerado por você e somente por você, a opinião pode ser enviesada. Muita gente delega o dinheiro para o banco investir. Ele vai investir onde é melhor para ele. E corretora? Vai investir nos ativos que pagam mais taxas. Procure pessoas que ganham se você ganha e somente se você ganha", afirma.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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