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Ela começou investindo R$ 30 e hoje tem R$ 100 mil; veja o que ela fez

Camila Mendonça

Do UOL, em São Paulo

18/07/2021 04h00

Nos tempos de infância de Amanda Dias dinheiro não faltava, mas tampouco sobrava. Tudo era muito bem contado. O pai tinha dois empregos, a mãe trabalhava como assistente administrativa, e a avó era empregada doméstica desde os nove anos e marisqueira —atividade comum em Valença, interior da Bahia.

Não faz muito tempo que a jornalista, hoje com 28 anos, descobriu o quanto essa rotina familiar —que poderia ser a de qualquer brasileiro —influenciou suas decisões financeiras. "Aprendi muito com minha família, com todas essas influências. Era preciso ter muita criatividade para fazer com que o dinheiro desse para tudo", diz.

Assim como também não faz muito tempo que descobriu que sua infância em Valença contribuiu para a decisão de criar, em 2018, o Grana Preta, programa de educação financeira para autônomos e microempreendedores de baixa renda. Hoje, Amanda também comanda o podcast Fala, Emancipade. "Minha família foi minha inspiração para criar o Grana Preta, porque quando a gente fala da população de baixa renda, o salário mínimo está defasado cinco vezes em relação à inflação", afirma.

Só controle financeiro não basta

Mesmo com mais acesso à informação e à educação do que seus pais, Amanda sentiu na pele a falta que o dinheiro faz.

"Passei dificuldade na época da faculdade, porque não conseguia trabalho na cidade onde estudava, e aumentei muito os custos com aluguel e transporte. Comecei a entender a necessidade de ir além do controle financeiro que aprendi com meus pais", diz.

Foi em 2014 que Amanda começou a pesquisar mais sobre investimentos. Na época, os pais a ajudavam com o aluguel, e o trabalho que conseguiu pagava R$ 600 por mês. Em suas pesquisas na internet, ela encontrou grandes influenciadores que falavam sobre finanças e investimentos.

Mas na hora de aplicar as "dicas práticas" que aprendia, ela sentiu o peso de ser uma mulher negra e com pouco dinheiro no Brasil. Até para ter uma conta essencial gratuita em um banco —direito garantido por resolução do Banco Central —ela esbarrou no preconceito.

"Como mulher negra, tive uma série de dificuldades. Só consegui [a conta essencial] ligando, porque assim não viam a minha cor", afirma.

A questão do desconto é a mesma coisa: quando você entra num shopping, você já está ali como uma pessoa indesejada e piora quando você pede desconto, porque as lojas já partem do pressuposto de que você não tem dinheiro. Os conteúdos que existiam não me abraçavam como mulher negra, não dialogavam com a minha realidade.

Tudo começou com R$ 30

Antes mesmo de criar o Grana Preta, Amanda saiu do papel de controlar as contas para se tornar investidora. Ainda em 2014, ela aplicou R$ 30 no Tesouro Selic, título do Tesouro Direto. "Criei o hábito de sempre investir, e com a Selic alta, eu tinha bons ganhos", afirma. Naquele ano, a taxa básica de juros estava em 14,25% ao ano —hoje, está em 4,25% ao ano.

Quando se formou, em 2016, Amanda já tinha em torno de R$ 3.000 de reserva de emergência —valor inédito para sua realidade, conta.

"No meu primeiro emprego depois de formada, eu ganhava R$ 450, mas não ficava só nele. Cheguei a trabalhar em três lugares ao mesmo tempo, sempre na correria para fazer mais dinheiro, porque me apaixonei muito por investimento", afirma.

Não foram apenas os juros compostos que fizeram Amanda trabalhar mais. Ela queria viajar e conhecer o Brasil. A primeira viagem da vida que fez, para Chapada Diamantina (BA), com a namorada, foi a realização de um sonho. "Fiquei frenética", diz.

Quando realizei essa primeira viagem, mudou tudo e vi o quanto era poderosa a organização financeira. Cheguei a ouvir dos meus pais 'a gente se matando de trabalhar aqui e você aí, rica'. Quando o filho começa a ter mais acesso que os pais, sempre tem um pouco de culpa, então, comecei a explicar que eu não estava rica, mas que era um processo, quase que me justificando.

Os primeiros R$ 100 mil

Amanda uniu o controle que aprendeu desde nova, os conhecimentos práticos que tinha com investimentos, a formação como planejadora financeira que buscou e a realidade que via e vivia para passar conteúdo sobre finanças de um jeito realista, para quem via esse assunto como algo distante.

Ela mesma evoluiu como investidora ao longo do tempo. De 2014 a 2018, explorou os investimentos mais conservadores, como títulos públicos e privados, e fundos multimercados. Na Bolsa, ela só entrou em 2020, onde investe em ações e ETFs. Hoje, até uma carteira de criptomoedas Amanda tem.

A carteira diversificada a ajudou a chegar nos primeiros R$ 100 mil, após seis anos dos primeiros R$ 30 investidos. A planejadora, contudo, faz um alerta: "é muito difícil alguém, sozinho, conseguir chegar nos R$ 100 mil em seis anos. Esse processo foi muito difícil, porque tem uma questão de priorização —sempre mantive meus gastos baixos para ter reserva —, e ainda tem a questão do trabalho. Hoje, trabalho com publicidade, uma área privilegiada", diz.

Apesar disso, Amanda diz que é possível chegar nos R$ 100 mil, se o investidor criar estratégias para aumentar a renda —ponto muito esquecido no planejamento de muita gente. Veja alguns passos que Amanda usou para chegar lá.

1. Organize suas contas

"Essa é a primeira coisa: organize a casa, o orçamento. Faça uma previsão de gastos, estabeleça limites", afirma.

A planejadora recomenda que os gastos totais somem até 70% da renda, sendo que uma fatia de 10% seja direcionada para o que a pessoa quiser fazer. "Ficar só focando no futuro não é sustentável", diz

2. Reserve 30% para investir

A fatia de 30% deve ser dividida, segundo Amanda, em 10% para investimentos de longo prazo, visando a aposentadoria; 10% para investimentos de curto prazo, para a reserva de emergência; e 10% para investimentos de médio prazo, para a realização de metas do ano.

3. Pense antes de comprar

Antes de comprar eu vejo, eu olho, e penso se vale a pena. Esses sacrifícios foram importantes na minha caminhada. As pessoas não têm o hábito de adiar uma decisão de compra em prol de uma meta maior. Mas pense: será que realmente vale a pena você deixar de investir no seu futuro para sair com os seus amigos?

4. Aprenda sobre investimentos

"Aprender mais sobre investimentos é importante para fazer o dinheiro crescer, mas também para entender que não existe fórmula mágica. Se você quer acelerar seus ganhos, você pode investir melhor, mas tenha em mente que isso não basta", afirma.

5. Busque ganhar mais

Só investir não basta. Para Amanda, é preciso aumentar os ganhos.

Esse ponto é mais difícil para a baixa renda, porque quem vem de baixa renda tem necessidades que precisam ser supridas quando ela começa a ganhar dinheiro, porque são essas coisas que passam a imagem para a sociedade de que você tem mais valor. Seja comprar uma roupa, ir a uma pizzaria —coisas que são básicas para muita gente.

6. Tenha paciência

Esse ponto pouca gente quer ouvir. "É preciso paciência, fazer ajustes constantes no orçamento, e repetir o processo", afirma Amanda.

As pessoas estão sempre caçando um tesouro, e infelizmente muitos produtores de conteúdo fomentam a ideia de que você pode ficar milionário em pouco tempo. Você não vai ficar milionário investindo R$ 30 por mês. Se fosse assim eu já estava. Você também não vai ficar milionário em cinco ou seis passos. O investimento é catalisador, mas ele precisa estar atrelado a hábitos melhores, organização, busca de conhecimento e por ganhar mais e poupar mais.

Amanda Dias é uma das convidadas do Guia do Investidor UOL, série de eventos quinzenais e gratuitos para quem quer aprender a investir. No próximo encontro do Guia, ela estará ao lado de Ilana Bobrow, sócia-fundadora da Vitreo, para falar sobre o papel da poupança, e se é hora de você tirar o seu dinheiro de lá.

O evento do Guia do Investidor UOL com a Amanda acontecerá no dia 20 de julho, às 11h, nas páginas do UOL, UOL Economia e UOL Economia+. O encontro é gratuito, mas você precisa fazer o cadastro acima, ou por aqui.

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