Desastre em Maceió pode aumentar custos da Braskem, e ação cai na Bolsa
As ações da Braskem estão em queda na Bolsa. Desde o dia 28, quando o solo de uma mina da Braskem (BRKM5) para extração de sal-gema em Maceió começou a ceder, a ação da companhia petroquímica e seu valor de mercado sofreram na Bolsa de Valores de São Paulo.
O que aconteceu com a Braskem na Bolsa
A queda nos últimos dias é de 13,28%. O papel, que custava R$ 20,45 até o dia 28 de novembro, agora está sendo negociado a R$ 17,90. Em 2023, a companhia perdeu mais de R$ 5 bilhões de valor de mercado. Hoje, a Braskem vale R$ 14,4 bilhões. "Apenas na última semana, a empresa perdeu R$ 900 milhões em valor de mercado", diz o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti. O auge do valor da Braskem foi em setembro de 2021, quando chegou a R$ 66,7 bilhões.
A Braskem foi multada hoje (5) em R$ 72 milhões pelo Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas. A autuação é referente aos danos ambientais e à omissão sobre o risco de colapso causado pela mina 18, situada na região do Mutange, em Maceió.
Braskem deixou índice de sustentabilidade da Bolsa. Hoje, 5, a B3 informou que excluiu a companhia do seu índice ISE B3, que reúne empresas que adotam as melhores práticas de sustentabilidade ambiental e social e de governança.
Rating da Braskem pode cair, o que pode afastar investidores. A Fitch Ratings, empresa de análise de crédito, pode rebaixar a classificação da Braskem, atualmente em BBB-. Isso porque a situação em pode levar a um aumento de ações judiciais contra a Braskem, impactando seu caixa. Isso pode afastar investidores, principalmente os "mais restritivos e preocupados com questões ambientais, sociais e governamentais (ESG)", como publicou a agência de risco.
Por que a ação está caindo?
A queda é decorrente do maior custo que a Braskem pode ter com o desastre. Desde que a mina começou a afundar, em 2018, a Braskem já fez provisões de R$ 14,4 bilhões e, desse total, já desembolsou R$ 9,2 bilhões. Mas nem todo esse dinheiro foi para as vítimas do solo que cede em Alagoas. Até agora, a petroquímica pagou 17.828 indenizações ou 93,2% do total esperado. Somadas aos auxílios financeiros, o valor gasto chega a R$ 3,85 bilhões, média de R$ 215,9 mil por pessoa que tinha casa ou comércio na área afetada. O restante foi usado em ações paliativas, como colocar areia e tentar preencher o buraco da mina.
Quem investe na Braskem é o investidor institucional. Os investidores pessoa física são mais afetados pelas notícias do maior desastre ambiental urbano do mundo, mas eles não costumam investir na Braskem. A maior parte dos investidores na companhia são fundos e, para eles, o que afeta a cotação da empresa é a possibilidade de a empresa ganhar menos ou ter prejuízo com o afundamento de solo em Alagoas, diz Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos.
O Ministério Público Federal de Alagoas entrou com uma ação de R$ 27,6 bilhões e pede indenização por danos socioambientais e outros de natureza coletiva contra a Braskem. A ação inclui seus principais acionistas, a Petrobras (PETR3 e PETR4) e a Novonor (antiga Odebrecht) e tramita em sigilo.
Montante é superior ao seu valor de mercado atual, e empresa vai recorrer para não pagar esse total. É o que diz Lage, da Valor Investimentos. A Braskem já recorre na Justiça para não desembolsar esses valores. "Além disso, mesmo que seja condenada, ela pode dividir o prejuízo com suas acionistas, a Petrobras e a Novonor", diz o especialista. No Brasil, é comum que as empresas recorram para diminuir seus prejuízos com multas e indenizações. É o que diz Bertotti, da Messem.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Vale (VALE3). Em 2019, a barragem de Brumadinho rompeu e causou 270 mortes. Apenas em um dia, as ações da mineradora caíram 25,93%. A barragem de Mariana já havia rompido anos antes. Em relação ao no rompimento de Brumadinho, ela já fechou 5.655 indenizações individuais, envolvendo 11.711 pessoas e pagamento de R$ 3,4 bilhões, e 1.487 indenizações trabalhistas, envolvendo 2.509 pessoas. A mineradora foi ainda condenada a pagar R$ 1 milhão por cada trabalhador falecido. A empresa recorreu. Em junho, a Terceira Turma do Tribunal Superior do Trabalho confirmou a sentença. Contatada, a companhia não comentou o que fará agora.
Da mesma forma, a Brasken deve demorar muito para fazer esse pagamento e dificilmente isso deve ocorrer no curto prazo
Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital
Venda da parcela da Novonor pode ser afetada
A venda da parcela da Novonor na Braskem, em tramitação há anos, pode empacar. Em junho, a Unipar (UNIP6) apresentou uma oferta de compra da empresa de R$ 35 por ação (cerca de R$ 10 bilhões), e as ações da Braskem (BRKM5) chegaram a subir 10%. Mas o negócio não foi para frente. "Essa venda agora fica muito prejudicada, nenhum comprador vai querer assumir essa responsabilidade, esse passivo ambiental", diz Bertotti.
O que pode acontecer é a Petrobras ter que assumir 100% da Braskem. É o que diz Moura, da Matriz Capital. "Essa bomba iria ser transferida para a Petrobras, que depois seria transferida para a União. É uma situação muito complicada e dificilmente a gente consegue imaginar que a Braskem por si só consiga resolvê-la", afirma.
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