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Na Rússia, caixas eletrônico serve para pedir e sacar empréstimo de até R$ 700

Ilya Khrennikov

26/02/2015 15h03Atualizada em 26/02/2015 15h51

(Bloomberg Business) - Sergei Amirkhanov passa andando por uma fileira de máquinas de venda automática e caixas eletrônicos na estação ferroviária Kursky, em Moscou (Rússia), e para em frente a um caixa de cor laranja radiante.

Em vez de inserir seu cartão bancário, ele escaneia seu passaporte, posa para uma foto e digita seu número de celular. Minutos mais tarde, ele recebe uma mensagem de texto que lhe pede voltar à máquina e sacar o dinheiro de que precisa.

Este tipo incomum de caixa eletrônico começou a aparecer em estações ferroviárias e shoppings de Moscou no ano passado. Parece um caixa comum, mas serve para pedir empréstimos e sacar o dinheiro imediatamente.

Negócio é de bilionário que financia filme Scarlett Johansson

O caixa de empréstimos é um produto de Oleg Boyko, um bilionário russo que acumulou sua fortuna administrando caça-níqueis. Quando o presidente Vladimir Putin proibiu o jogo, em 2009, Boyko mudou a unidade de jogo para fora do país, mas continua controlando empresas financeiras e outras companhias na Rússia.

Um dos seus investimentos é a 4finance Holding e sua afiliada, a SMS Finance, que opera os caixas de microempréstimos.

Boyko, que é paraplégico e ajuda a financiar os Jogos Paralímpicos, também tem relações com Hollywood. Ele é investidor em "Summer Crossing", um filme baseado em um romance de Truman Capote que marcará a estreia de Scarlett Johansson como diretora.

Máximo de R$ 700, prazo de 20 dias e juros de 730% ao ano

Atualmente há cerca de 20 caixas eletrônicos de empréstimos instalados em toda Moscou. Os clientes podem pedir até 15 mil rublos (cerca de R$ 700), que devem ser devolvidos em, no máximo, 20 dias.

A taxa de juros é de 2% por dia, o que equivale a 730% por ano.

Pode parecer uma loucura, mas alguns russos têm se mostrado dispostos a adotarem a tecnologia para pagar as contas entre um salário e outro.

Cliente perdeu emprego em obra

Amirkhanov, 37, pegou um empréstimo de 3 mil rublos depois de perder seu emprego na construção de uma usina em Moscou em fevereiro.

Ele precisava do dinheiro para sustentar sua família enquanto ele procura emprego, porque seu banco não quis lhe emprestar.

"Eu tenho um cartão bancário, mas o saldo é zero", diz ele. "Estou em uma situação desesperada".

As consequências negativas do conflito na Ucrânia têm tido seu peso sobre a economia russa, e resultou no congelamento de alguns projetos de construção e num fluxo de chegada de refugiados ucranianos, que estão aumentando a concorrência por empregos, diz ele.

Amirkhanov tem 15 dias para reembolsar o empréstimo, incluindo 900 rublos em juros.

Banco atende clientes ignorados por outros

A ausência de regulamentações estritas permite às empresas de microempréstimos oferecer opções a pessoas que seriam ignoradas pelos bancos tradicionais, segundo Kieran Donnelly, presidente da 4finance, financiada por Boyko.

A empresa oferece empréstimos para consumidores em uma dezena de países europeus, principalmente por meio de sites. Mais de 11 milhões de pedidos de empréstimos foram enviados à 4finance, que emprestou 831 milhões de euros (R$ 2,6 bilhões) no ano passado.

Empresa quer entrar na Bolsa

A empresa, que recentemente separou a unidade russa da SMS Finance para tranquilizar investidores com aversão a riscos, planeja realizar uma abertura de capital ainda em 2016, diz Donnelly.

"Nossas metas têm a ver com a rentabilidade e o retorno sobre os investimentos", diz ele. "Grande parte do que estamos oferecendo às pessoas é conveniência".

Quando vence o pagamento de um empréstimo, os clientes podem pagá-lo em um banco local, em uma loja de produtos eletrônicos, pela internet ou utilizando um sistema digital de pagamentos, como Qiwi ou Yandex.Money.

Quem não paga...

Se alguém tentar driblar o pagamento, representantes da companhia enviam e-mails e mensagens de texto e telefonam para a pessoa.

Depois de dois ou três meses perseguindo um cliente, eles podem envolver cobradores de dívidas.

Cerca de 10% dos mutuários dão calote nos seus empréstimos, mas a empresa está recuperando 55% da dívida atrasada, diz Donnelly.

Como Boyko, o investidor e bilionário empresário do jogo, quase certamente possa certificar, são probabilidades mais favoráveis das que ele terá em um cassino.