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Fixação do yuan se transforma de indicador nebuloso em obsessão para traders do mundo

Santanu Chakraborty

14/08/2015 14h21

(Bloomberg) - Trata-se do novo indicador que deve ser acompanhado pelos mercados do mundo inteiro, com poder para deslocar preços de Tóquio até Londres e Chicago.

A fixação diária para o yuan do banco central da China, ignorada durante muito tempo pelos investidores fora do país, se transformou em um evento que movimenta os mercados mundiais depois que uma desvalorização na terça-feira pegou quase todos de surpresa.

Nos últimos três dias, a fixação influiu sobre todo tipo de coisas, de moedas asiáticas e commodities até futuros de índices dos EUA, levando traders do mundo inteiro a modificarem seus cronogramas a fim de conseguirem reagir ao anúncio que é feito todos os dias às 9h16 da manhã, horário de Hong Kong.

"Estamos acordando cedo e todos os meus amigos têm o yuan no topo das suas telas", disse Dhiraj Bhutoria, diretor da Varun Tradecom Pvt, uma corretora de títulos com sede em Kolkata.

Depois de anos sendo uma das grandes moedas com menor volatilidade, o yuan teve seu maior declínio desde 1994 na terça-feira, quando a China permitiu que as forças do mercado tivessem mais influência. O rumo da moeda a partir de agora impactará não apenas nas perspectivas de crescimento para a maior economia da Ásia, mas também na política de taxas de juros do Federal Reserve (Fed) e nos lucros para várias empresas internacionais, da Apple Inc. até a BMW AG.

O Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês), reduziu sua taxa de referência 1,1% na fixação da quinta-feira, provocando uma queda de quase 0,4% nos futuros de índices acionários dos EUA, um recuo de 1,2% no cobre e uma anulação dos ganhos dos títulos do Tesouro dos EUA.

Movimentos

O mergulho do yuan nesta semana desencadeou a maior corrida para venda em dois dias de moedas asiáticas desde 1997 e levou um indicador de commodities para seu menor valor em treze anos. O dólar se enfraqueceu porque os investidores especularam com que a desvalorização do yuan consumirá a inflação no mundo. Os traders empurraram para baixo as probabilidades de que o Fed aumente as taxas de juros em setembro para cerca de 40% na quarta-feira, frente a 54% ainda em 7 de agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg.

As ações da BMW, que recebeu cerca de 19% da sua receita da China em 2014, afundaram 7,8% na Alemanha nos dois dias até a quarta-feira, e a Apple recuou para seu valor mais baixo desde janeiro.

Para Mark Matthews, diretor de pesquisa na Ásia e diretor-gerente do Bank Julius Bär Co. em Cingapura, a obsessão com o yuan - também conhecido como o renminbi - desaparecerá conforme a moeda declinar.

Nova fixação

"Um mês atrás, todos estavam focados no mercado acionário de Xangai, e um mês antes disso, todos estavam focados na Grécia", disse Matthews. "Certamente, a primeira coisa que todos analisam quando chegam de manhã agora é o renminbi. Mas será assim daqui a um mês? Duvido".

O yuan reduziu suas perdas para 0,2 por cento no encerramento da quinta-feira e o Shanghai Composite Index aumentou 1,8 por cento depois que o banco central disse que não há fundamentos para que a desvalorização da moeda persista e que intervirá para controlar grandes flutuações.

Para Bhutoria da Varun Tradecom, a imprevisibilidade da fixação implica uma mudança de estratégia.

"Estamos reduzindo riscos nas posições overnight, tanto para ações quanto para moedas", disse ele. "Estamos aceitando o fato de que agora o yuan está passando a ser determinado pelo mercado".