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Cinco lições dos mercados selvagens da semana passada

Mohamed A. El-Erian

31/08/2015 15h46

(Bloomberg View) -- Pode ser tentador concluir que não há lições a aprender com os mercados financeiros selvagens da semana passada. Afinal, o Standard Poor's 500 Index fechou em alta de 1 por cento na sexta-feira e o Dow Jones Industrial Average e o Nasdaq 100 Index acabaram registrando sua melhor semana em quase dois meses. E há quem possa até mesmo minimizar a volatilidade incomum como sendo um reflexo de um simples ataque de irracionalidade do mercado que é temporário, reversível e irrelevante.

Uma abordagem do tipo seria inapropriada, assim como concluir que cruzar campos minados não é perigoso só porque fomos capazes de fazê-lo uma vez sem sofrer danos.

Muitos indicadores confirmam que a semana que passou foi notável e histórica. Foram estabelecidos recordes atrás de recordes, incluindo o de maior movimentação diária, maior reversão intradiária e as quedas acentuadas intradiárias mais angustiantes.

No todo, o Dow moveu-se um total inédito de 10.000 pontos em apenas cinco sessões de negociação. O VIX, muitas vezes mencionado como o índice do medo dos mercados, elevou-se a níveis que não eram vistos desde o pior momento da crise financeira global de 2008. E fora dos EUA as moedas dos mercados emergentes caíram para abaixo dos níveis atingidos nos piores dias daquela crise.

O destino muitas vezes importa mais que a jornada, por isso há uma inclinação natural em acreditar que a volatilidade extrema da semana passada não tem muito valor preditivo. Isso seria um engano, por pelo menos cinco razões:

Primeiro, deveria ficar claro, agora, que as bases dos mercados financeiros são -- no mínimo -- um tanto frágeis. Como resultado, são feitos questionamentos legítimos em relação à força da economia global, o que potencialmente cria uma incerteza para os preços do mercado, que já vêm sendo notavelmente dissociados dos dados fundamentais das políticas dos bancos centrais.

Segundo, muitos investidores varejistas parecem incapazes de tolerar essas crises de volatilidade, resultando em disposições desmedidas dos fundos mútuos de ações (com a maioria das vendas aparentemente ocorrendo durante o pior momento de excesso e contágio do mercado).

Terceiro, a área de escape do mercado parece longe de estar imune à disfunção durante os períodos de grande volatilidade de preço. Entre as manifestações possíveis estão a liquidez elusiva ou sistemas de negociação que ficam sobrecarregados quando muitos investidores correm para a saída ao mesmo tempo. O impacto é amplificado pela popularidade dos fundos negociados em bolsa, dentre os quais alguns tiveram dificuldades para funcionar conforme o prometido quando sujeitos a descontinuidades de mercado e circuit breakers.

Quarto, durante uma volatilidade intensa, os bons são prejudicados pelos maus. Isso ocorre em particular com marcas de investimento amplamente mantidas pelos investidores -- como Apple, GE e Google --, que eles transformam em caixas automáticos quando estão correndo para levantar dinheiro, seja por precaução, por motivos especulativos ou para cumprir obrigações repentinas. Quando investidores superalavancados e desequilibrados precisam vender, a seleção cuidadosa de ativos de renome e as alocações diversificadas de portfólio deixam de ser uma proteção.

Finalmente, embora os bancos centrais ainda estejam ansiosos para reduzir os picos de volatilidade no mercado, eles já gastaram muita munição por meio de flexibilização quantitativa, mantendo as taxas de juros no chão e usando outras políticas não convencionais. Como resultado, a série de medidas de política monetária da China e as observações tranquilizadoras do presidente do Fed de Nova York, Bill Dudley, na semana passada, poderiam em breve ser testadas por evoluções no terreno.

Considerando que ainda pode haver mais voltas na montanha-russa pela frente, os investidores seriam bem aconselhados se chamados a avaliar imediatamente duas coisas: se são capazes de tolerar esse tipo de volatilidade novamente sem serem forçados a vender no pior momento possível e se têm suficiente poder de fogo em reservas de investimentos para apanhar as pechinchas que inevitavelmente surgem durante esses episódios de loucura do mercado.

Essa coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.