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Análise: Plano da Foxconn não será tuitado por @realDonaldTrump

Tim Culpan

03/01/2017 11h03

(Bloomberg) -- Aqui vai um desafio para o plano do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de levar empregos de volta aos EUA antes da posse, que será realizada no dia 20 de janeiro.

Em um comunicado feito pouco antes do Ano-Novo, o carro-chefe da Foxconn, a Hon Hai Precision Industry, disse que investirá US$ 8,8 bilhões na construção de uma gigantesca fábrica de painéis de visualização para sua joint venture com a Sharp. O crucial é que a localização escolhida pelo presidente do conselho da Foxconn, Terry Gou, é a China, não os EUA.

O revés evidente é que esses US$ 8,8 bilhões não serão injetados nos EUA de Trump. Mas a perda é mais profunda. De todas as áreas em que a Apple e suas parceiras poderiam ter encontrado oportunidades de emprego para a fabricação nos EUA, os painéis de visualização pareciam uma das mais promissoras.

Deixe-me fazer uma digressão para explicar as distintas etapas de fabricação do iPhone. Algumas áreas exigem equipamentos e materiais caros, como os semicondutores e as telas eletrônicas; outras dependem mais da mão de obra, como a montagem final.

É o braço de trabalhadores da linha de montagem da Foxconn que fica com os louros, mas no processo de fabricação do iPhone, composto por diversas etapas, um valor muito mais alto é agregado por trabalhadores de outros lugares da cadeia de abastecimento.

Essas são as pessoas que montam o equipamento do semicondutor de vários bilhões de dólares para construir os processadores série A da Apple, as que operam as máquinas que cortam metal e transportam as peças em cada passo para fabricar a reluzente carcaça do iPhone, ou folhas de vidro através de um coquetel de produtos químicos que formam uma tela retina fina e cristalina.

Esses não são trabalhos para uma mão de obra barata, são o tipo de cargos de fabricação de alta qualidade que o presidente eleito prometeu criar.

Se é que algumas partes do processo de fabricação do iPhone serão transferidas para os EUA a fim de criar empregos valiosos, então as melhores candidatas são as áreas que exigem grandes investimentos de capital, como os chips e as telas, ou os processos automatizados, como o corte de metais e a modelação de plásticos.

Nas telas, onde o excesso de oferta obrigou o setor a suportar bilhões de dólares em prejuízos durante a última década, a construção de uma fábrica na China reduz imediatamente as chances de uma fábrica nos EUA e, com isso, as perspectivas de novos empregos, cujo total poderia ter chegado à casa dos milhares.

Mas não são apenas as telas. Cada vez que qualquer fabricante opta por investir na China, ele decide não construir nos EUA -- na maioria dos casos, os EUA sequer são considerados. O mérito de Donald Trump é que ele forçou os executivos a pensar na possibilidade de abrir fábricas nos EUA.

Mas, como delineei na paródia de uma carta de Terry Gou dirigida a Donald Trump no mês passado, considerar uma ideia não é a mesma coisa que colocá-la em prática, mesmo que um executivo visite a Trump Towers para tirar uma foto para a imprensa.

A decisão tomada pela Foxconn evidencia que simplesmente voltar a colocar os EUA entre as possibilidades não vai fazer com que os EUA voltem a ser grandiosos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.