Moradores de favelas pacificadas do Rio viram empresários
Dominadas pelo tráfico de drogas e pelos negócios informais em um passado recente, as comunidades cariocas pacificadas, que receberam UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), começam a ganhar força com o empreendedorismo.
Segundo o Sebrae-RJ, serviço de apoio à micro e pequena empresa, em 2011, cerca de 1.700 negócios foram formalizados durante mutirões realizados nas regiões pacificadas, principalmente nas áreas de alimentação, beleza e comércio varejista.
Porém, o número real de regularizações pode ser bem maior, já que é possível se tornar empreendedor individual (EI) por conta própria, preenchendo um formulário disponível pela internet pelo no Portal do Empreendedor.
Com a sensação de maior segurança e o aumento de turistas nas regiões pacificadas, a empreendedora Andréia Miranda, 31, aproveitou para formalizar seu bar e abrir uma banca de souvenires no morro Santa Marta, onde comercializa camisetas com imagens da comunidade nas estampas.
Carolina Pacheco dos Santos, 33, é outra empreendedora que aproveitou o bom momento de sua comunidade, o Morro da Providência, para abrir o próprio negócio. Ao lado de mais seis sócias, ela comanda o café-bar Favela Point.
E Cristina da Silva Oliveira criou o Favela Inn, um albergue com 18 leitos que recebe turistas brasileiros e estrangeiros durante o ano inteiro, no morro Chapéu-Mangueira.
Acesso à informação é a maior dificuldade para formalizações
De acordo com a coordenadora de empreendedorismo em comunidades pacificadas do Sebrae-RJ, Carla Teixeira, a grande dificuldade em combater o índice de trabalho informal nas comunidades pacificadas é fazer a informação chegar aos empreendedores. Segundo levantamento do Sebrae-RJ, 92% dos negócios nas favelas não estão regularizados.
Em 2011, a entidade intensificou a atuação nessas áreas e realiza plantões de orientação, mutirões de formalização, consultorias, capacitações, entre outros serviços.
“Temos consultores nas UPPs e nas associações de moradores. Utilizamos rádios comunitárias e até capacitamos soldados da polícia sobre a importância do comércio legal. Os territórios são grandes e tudo isso é feito para que a informação de como se formalizar seja passada adiante”, diz.
Teixeira afirma ainda que a atividade formal tem ligação direta com a prosperidade local. “A formalização é uma cultura. Se tem segurança e mais serviços funcionando, a tendência é que mais negócios sejam formais.”
Pacificação trouxe necessidade de regularização
Segundo o professor de empreendedorismo da PUC-Rio (Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro), Raphael Zaremba, a pacificação dessas comunidades gera uma necessidade de formalização.
Com as pessoas mais informadas, surgem empreendedores mais capacitados, que obrigam seus concorrentes a se estruturarem para se manterem no mercado. “O empresário informal não vai conseguir competir com o formal. Ele vai ter de melhorar seus serviços e produtos. Se não se estruturar, não vai sobreviver”, diz o professor da PUC-Rio.
Lei nas comunidades era diferente
Zaremba diz que, antes da chegada das UPPs às comunidades, a população ficava à mercê dos chefes do tráfico de drogas. As leis para essas áreas não eram as mesmas leis do restante do país.
“Hoje, em tese, as pessoas estão livres disso e as leis da sociedade como um todo também se aplicam a essas comunidades. As empresas se sentem mais seguras para entrar lá e os empreendedores locais sentem necessidade de se formalizar.”
Oferta de informação e oportunidades estão maiores
O contato do professor da PUC-Rio com as comunidades pacificadas vem da ONG VemSer, da qual é o fundador. Desde 2001, a ONG utiliza o esporte como ferramenta de ensino, inclusive de empreendedorismo, para meninas entre cinco e 19 anos das favelas da Rocinha, Vidigal e Parque da Cidade.
“Há uma oferta maior de oportunidades e informação. Todas as meninas atendidas pela ONG têm acesso à internet. O conhecimento gera oportunidades de negócio e as pessoas estão mais preparadas para identificá-las e agarrá-las”, afirma.
O processo de pacificação das comunidades cariocas começou em dezembro de 2008, com a instalação da primeira UPP no Morro Santa Marta, na Zona Sul. Atualmente, são 22 postos que, somados, são responsáveis por uma área onde vivem mais de 295 mil pessoas, de acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, com base em dados do Censo 2010.
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