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Inflação: clientes gastam R$ 200 na manicure e R$ 400 no estacionamento

Luiza Calegari

Do UOL, em São Paulo

08/03/2013 09h00

Daniela Cohen e Rose Nicacio trabalham juntas em uma corretora imobiliária na região do Jardim Paulistano, em São Paulo. Segundo elas, o emprego exige que tenham uma boa apresentação pessoal. No início do ano passado, cada uma costumava deixar, no mínimo, R$ 120 no salão de beleza por mês. "Isso se a gente considerar só o básico: manicure, pedicure e uma escova no cabelo", afirma Daniela.

Elas já sentem o aumento de custos neste serviço. Agora, elas afirmam, é difícil deixar menos de R$ 200 no salão. "Isso sem contar os extras que passaram a cobrar: se a manicure é R$ 20, pra fazer francesinha fica R$ 22, por exemplo", diz Cohen, referindo-se à unha com a ponta pintada em cor diferente.

A conta assusta: enquanto a inflação oficial medida pelo IPCA nos 12 meses entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013 foi de 6,15%, o aumento de gastos das duas no salão foi de 67%.

Mesmo com a alta nos preços, elas nem cogitam deixar de frequentar o salão. "Não dá pra abrir mão. Além da manicure e pedicure, de tempos em tempos, precisa fazer alguma coisa no cabelo, corte, hidratação, [escova] progressiva", comenta Rose Nicacio.

A alta dos preços se estende também a outros aspectos do cotidiano. Que o diga Diego da Silva Furtado, consultor de RH em São Paulo. Ele trabalha visitando clientes, e viu os gastos com estacionamento subirem muito de um ano para cá. "Se antes eu conseguia gastar, em média, R$ 12 a R$ 15 por dia com estacionamento, hoje o custo fica entre R$ 20 e R$ 25, quando não chega a R$ 30". 

Considerando o menor valor que Furtado pagava no ano passado (R$ 12) e o menor valor atual (R$ 20), a alta também é de 67%. Se forem considerados os extremos (de R$ 12 para R$ 30), a alta é de 150%. Por mês, cerca de R$ 400 do orçamento de Diego são reservados para o estacionamento.

A inflação também chega aos restaurantes. O analista de sistemas Rodrigo Eduardo Pinto de Souza almoça fora cinco vezes por semana. Há mais ou menos um ano atrás, ele conta que costumava gastar entre R$ 12 e R$ 15 por uma refeição e um copo de suco. "A média hoje é de R$ 19 a R$ 22", diz o analista. A alta é de 47% a 58%.

Às vezes, o vale-refeição fornecido pela empresa não cobre o valor do almoço, e ele tem de completar com dinheiro do próprio bolso. Por causa disso, agora procura lugares com preço mais em conta para comer. "E jantar, só em casa."

Comerciantes dizem não repassar aumento total de custo

Não são só consumidores que sentem o aumento dos preços pesar no orçamento. Maria Helena D'Angelo Cirilo e Julieta Maria Cirilo de Oliveira são irmãs e proprietárias do salão de beleza CabelArte, em São Paulo. Elas afirmam que os preços dos serviços estavam congelados havia três anos, mas que, em 2013, o aumento foi inevitável.

"Todo mês o nosso custo sobe. Subiu o aluguel do meu apartamento, o aluguel daqui, o preço do esmalte, da acetona, da tintura. Alguma hora a gente precisa compensar", afirma Maria Helena.

Elas já aumentaram o preço do corte de cabelo (de R$ 35 para R$ 40 o feminino, e de R$ 25 para R$ 30 o masculino) e da manicure (de R$ 15 para R$ 17). "A pedicure a gente deixa pra aumentar no inverno, quando a procura é menor", explica Julieta.

Victor Vital, proprietário do Studio M Personale, faz coro às irmãs e afirma que os custos de manutenção do seu salão de beleza sobem, pelo menos, 15% ao ano. "Mas tento repassar aos poucos." Ele aumentou em R$ 5 o preço do corte de cabelo (que fica entre R$ 60 e R$ 100 para mulheres) no ano passado, e pretende fazer mais reajustes ao longo do ano.

Os donos de restaurantes também tentam absorver a alta dos preços até o limite. Celso Simões, proprietário de um restaurante na zona oeste de São Paulo, trabalha no ramo há oito anos e afirma: "Se aumentar R$ 1, as pessoas param de vir comer aqui".

Claudio Yokoyama, que é dono de um restaurante vizinho, calcula que, a cada ano, seu faturamento diminui cerca de 5%, por não reajustar os preços de acordo com os gastos.

A advogada Marcia Matsubara frequenta o restaurante de Yokoyama, e tem uma fórmula para escapar do aumento dos preços, pelo menos em relação aos serviços. "Eu frequento o local aqui há muito tempo, trabalho neste prédio. Quando os preços aumentam um pouquinho, a gente já tem intimidade, então reclamo mesmo".