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Novo presidente do BC argentino é aliado fiel do governo

02/10/2014 22h22

Por Sarah Marsh e Hugh Bronstein

BUENOS AIRES (Reuters) - O currículo do funcionário público de carreira Alejandro Vanoli no setor bancário é pequeno, e sua defesa firme de reformas para elevar o controle estatal da economia argentina sugere que ele será um aliado incondicional do governo em seu novo emprego como presidente do Banco Central.

O ex-chefe da agência que supervisiona os mercados, de 53 anos, se diz um "economista do povo", apesar de estar longe de ser um nome familiar na Argentina e pouco conhecido nos círculos financeiros externos.

Professor de finanças internacionais, Vanoli teve passagens no Ministério da Economia e como conselheiro para o banco central. Ele é visto como politicamente ambicioso e com vontade de entrar no círculo íntimo da presidente esquerdista Cristina Kirchner.

Ao contrário de seu antecessor, Juan Carlos Fábrega, não é esperado que ele resista às políticas fiscais expansionistas do poderoso ministro da Economia, Axel Kicillof, apesar de uma inflação galopante, ou que seja favorável a aumentar as taxas de juros que estão em território negativo.

"O objetivo dele é representar o governo no banco central", disse uma fonte do mercado financeiro local. "Ele está sempre fazendo o que o governo acha que tem que ser feito."

Como chefe da Comissão Nacional de Valores, Vanoli ajudou a elaborar o projeto de lei dando ao órgão mais poderes de supervisão das empresas listadas em bolsa.

Ações e títulos argentinos tiveram forte queda após a sua nomeação, já que investidores temem que ele possa aprofundar os controles sobre o comércio exterior e o câmbio, enquanto o governo se esforça para proteger suas reservas internacionais.

"O risco é que o aperto monetário recente será agora invertido, com consequências desastrosas para o peso", disse a analista da Economist Intelligence Unit, Fiona Mackie.

Com o peso recuando para níveis recordes de baixa desde que a Argentina entrou em moratória de sua dívida externa em julho, Vanoli herda um Banco Central com reservas cobrindo apenas 4-1/2 meses de importações.

Martin Redrado, que deixou o cargo de presidente do Banco Central em 2010, depois de recusar os pedidos do governo para usar as reservas para pagar dívida, disse a uma emissora local que Vanoli tinha pouca experiência para lidar com os desafios que se avizinham.

"Durante todo o meu mandato ele era um burocrata", disse Redrado. "Ele não demonstrou qualquer capacidade técnica que lhe permitiria ganhar o respeito dos funcionários do Banco Central."

Em um sinal de que suas visões se tornaram cada vez mais politizadas, segundo analistas, Vanoli repetiu nesta semana as alegações da presidente Cristina Kirchner de que os especuladores estão tramando o colapso do peso.

Em seu último ato como regulador do mercado, Vanoli ordenou uma investigação sobre as manobras do mercado acionário por meio das quais os investimentos em pesos podem ser convertidos em dólares.

"Há interesses econômicos concentrados que estão tentando gerar instabilidade e um clima nos mercados financeiros que não tem nada a ver com a economia real", disse ele segundo a mídia local.

Os investidores vão observar como Vanoli vai lidar com o declínio do peso.

Acredita-se que dificilmente ele irá pressionar o governo a realizar outra forte desvalorização, apesar de o diferencial entre as taxas de câmbio oficial e do mercado paralelo ter aumentado para mais de 80 por cento.

"Ele provavelmente vai buscar aumentar as pressões sobre os bancos e casas de câmbio para conter as pressões crescentes sobre a moeda", disse Daniel Kerner do Eurasia Group, acrescentando que isso provavelmente só vai atiçar a demanda no mercado paralelo.

Vanoli esteve nas manchetes dos meios de comunicação estatais no ano passado ao dizer que "publicar a taxa de câmbio do mercado paralelo é como publicar o preço diário de cocaína".