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As incertezas e os erros que fortalecem os empreendimentos

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

31/07/2013 06h00

Muitas vezes, nas incertezas de nossas vidas de empregados, buscamos nos empreendimentos que criamos o porto seguro de nossas vidas.

E organizamos a nova empresa com critérios sólidos, ordens claras, normas rígidas e, especialmente, um planejamento que antecipe eventuais problemas, baseado nas experiências passadas.

Todas essas afirmações acima, que fazem parte do nosso senso comum, na busca sempre presente por segurança, são contestadas de maneira radical por Nassim Nicholas Taleb.

Ele é autor do livro “Antifragile: Things That Gain from Disorder”, que livremente traduziríamos por: “Antifrágil: coisas que podemos ganhar da desordem”.

O livro foi lançado no ano passado e se tornou um best-seller e foi elogiadíssimo pelos críticos da revista inglesa “The Economist”, pela revista norte-americana “Newsweek” e pelos jornais “Wall Street Journal” e “Chicago Tribune”.

Entre as belas analogias do livro consta uma que nos é familiar em nossa cultura popular. “As adversidades que não nos derrubam, nos fortalecem”, ou seja, “o que não mata, engorda”.

O autor mostra também que na ansiedade por segurança, protegemos tanto nossas estruturas, nossas empresas e até mesmo nossas crianças e jovens que criamos tanto profissionais, quanto organizações frágeis, que literalmente quebram diante do primeiro revés, crise ou prejuízo inesperado.

Para tornar nosso empreendimento “Antifrágil”, um neologismo criado pelo autor para contrapor as estruturas rígidas e fáceis de serem quebradas, devemos aprender a gerenciar as incertezas e transformar os erros (tanto de funcionários quanto dos gestores) em investimentos que fortaleçam a empresa nos seus desafios.

Um dos exemplos citados por Nassim Nicholas Taleb é a comparação entre dois irmãos. Um deles é empregado de um grande banco. O outro ganha a vida como taxista.

O taxista vive da incerteza das ruas. Um dia ganha mais, outro menos e aprendeu, mesmo assim, a conviver com a insegurança de suas entradas mensais. O irmão bancário tem uma carreira sólida, trabalha das 10h às 16h com a perspectiva de aposentadoria tranquila.

Até que a mais recente crise econômica fez evaporar a função e o emprego do irmão bancário. Ou seja, um emprego aparentemente estável, mas frágil, gera um impacto direto na sobrevivência do agora ex-bancário.

Enquanto que o taxista, apesar de sentir o baque da crise econômica, consegue buscar novos nichos e manter grande parte de seu rendimento, por exercer uma função  que o preparou para conviver e sobreviver constantemente com as incertezas.

Se conseguirmos captar as lições de Nassim Nicholas Taleb o que, infelizmente não consigo resumir plenamente nesse espaço, talvez consigamos trazer para nossas empresas novas habilidades.

A visão de camelôs, taxistas, cabeleireiras e das pessoas que vivem como surfistas, equilibrando suas vidas produtivas e financeiras nas ondas da economia todos os dias de suas vidas empreendedoras.

Porque enquanto criamos ou trabalhamos dependentes de estruturas e funções sólidas, nos tornamos, contudo, reféns de uma maneira de pensar que poderia ser traduzido pelo ditado popular: “O hábito do uso do cachimbo é que entorta a boca”.

O que nos torna incapazes de tratar erros, quedas de venda, desistência de clientes antes tão fiéis, como alertas que devam ser equacionados com um gerenciamento mais flexível, que nos faria ajustar nosso empreendimento para nos tornar mais fortes do que antes da crise.

E sermos capazes de assimilar as pequenas dificuldades para ganhar musculação e resistência a partir da análise e superação dos erros, das desatenções e mudanças de hábitos dos consumidores de nossos produtos e serviços.

Ao transformar erros e incertezas em alertas temos a oportunidade de, aos poucos, tirar nossas organizações da perigosa situação de fragilidade e aprender a gerenciar nossos empreendimentos ouvindo a canção “Viuva Negra”, dos compositores G. Chaves, P. Luchete e V. Aragon.

A música afirma que “A única certeza que tenho é que não tenho certeza de nada”.

Você pode ouvir a canção clicando aqui. Quem sabe o verso “Quando entro no jogo da vida não me importo em perder/Pois a dor é bem maior se você parar” e nos animemos a seguir as lições do livro de Nassim Nicholas Taleb.