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Divida seus sonhos e projetos com seus funcionários

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

07/08/2013 06h00

Muitas vezes o novo empreendedor reserva para si as expectativas e perspectivas de seu negócio, excluindo de seus sonhos (por considerá-los intangíveis demais, nebulosos demais) seus principais aliados e, especialmente, seus colaboradores diretos.

Quem sabe se fôssemos mais familiarizados com o poeta e Prêmio Nobel de Literatura, T. S. Eliot, em “Burnt Norton”, aprendêssemos a dividir nossas perspectivas e expectativas com quem é importante para o sucesso de nossa empresa, incluindo aí nossos potenciais clientes:

“O tempo presente e o tempo passado/Estão ambos talvez presentes no tempo futuro”.

Clique aqui para ler o poema completo.

Todo empreendedor acumula experiência, principalmente, até dar o grande salto e arriscar suas economias e a estabilidade de um emprego por se sentir preparado para superar os desafios futuros.

Gasta tanta energia nessa tensão permanente de contornar desafios, de criar novas maneiras de vender e convencer seu nicho de mercado, que corre o sério risco de excluir de sua visão empreendedora seus colaboradores. Que se tornarão, assim, incapazes de contagiar seus futuros consumidores.

Quando entramos nas lojas ou buscamos algum serviço e somos bem tratados pelos profissionais que nos atendem descobrimos, na primeira interação, que são jovens, homens e mulheres sintonizados com a mesma perspectiva e expectativa de acerto dos proprietários do estabelecimento.

Da mesma maneira, quando nos defrontamos com a indiferença, o chiclete sendo mascado, o fone de ouvido e o gerúndio do “estamos providenciado”, por exemplo, durante um atendimento que gostaríamos fosse exclusivo, descobrimos apenas com um olhar que aquele profissional, jovem ou não, está excluído dos planos estratégicos da empresa.

Planos que talvez até existam mas que não foram devidamente repassados para o conjunto da empresa e que nos afeta, enquanto clientes, com uma desistência daquela empresa ou daqueles produtos ou serviços que buscávamos com tanta disposição.

Exemplo prático

Comecei a escrever esse texto no Junior Restaurante e Lanches, em Sobradinho, no Distrito Federal. Fiquei tão positivamente animado com o atendimento que julguei que o garçom que nos atendia, o Trindade, fosse o dono.

Não era. Mas é um profissional extremamente preparado, que age como “se dono fosse”, que registra e se lembra dos nomes das pessoas que atende, que cuida da gente como gente, com carinho e com atenção.

Ou seja, mesmo não sendo o proprietário, Trindade (e depois pude perceber, os demais garçons) emociona os clientes que frequentam o restaurante pela primeira vez, como era o meu caso.

E o melhor, os pratos muito bem preparados e bem servidos confirmam a atenção e profissionalismo do proprietário, que fiquei sabendo estuda gastronomia e pretende transformar o restaurante numa franquia.

Descobri também que a expectativa de expansão do proprietário chega às atitudes de seus funcionários.

E a presença constante de fregueses confirma o acerto da estratégia adotada de dividir as perspectivas do negócio com os responsáveis diretos (os empregados do restaurante) e incluir no projeto os clientes, que como eu e minha família, saímos com vontade de voltar. E voltamos.

Ou seja, “o tempo presente e o tempo passado/Estão ambos talvez presentes no tempo futuro”.

Claro que nem preciso chamar sua atenção para os exemplos negativos. Basta a gente sair às compras e, infelizmente, em pleno Século 21, em metrópoles do porte de São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, ainda vamos encontrar desatenções, descuidos e profissionais que nos atendem mecanicamente, sem carinho, sem a atenção que nossos reais merecem.

Profissionais que apesar de consumirem investimentos do proprietário em salários agem com tanto descaso que comprometem todo o projeto.

Culpa, muito provavelmente, do proprietário que se esquece da importância de dividir com seus colaboradores o sonho de criar uma empresa que emocione e que gere sensações próximas do vício, nos levando para lá de novo, sempre que possível.

Porque no fundo, no fundo, o consumo de bens e serviços é apenas uma desculpa para nos confirmar plenamente humanos. Da mesma maneira que nos emocionamos com a poesia de T. S. Eliot.