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Empreendedores ansiosos: muita calma nessa hora

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

04/09/2013 06h00

A ansiedade e a necessidade por resultados quando se combinam, tendem a prejudicar mais do que ajudar na sobrevivência de uma empresa. Principalmente se ela for nova e contar com mais euforia do que com profissionais experimentados.

Daí a necessidade de se montar uma placa imensa e colocar na sala onde os novos empreendedores costumam se reunir: “Muita calma nessa hora”.

Calma para preparar nos instantes iniciais da conversa uma pauta que servirá de guia mestra para a troca de ideias que se seguirá.

Calma para ouvir até a última gota cada uma das propostas, sem as explosivas e incômodas interrupções.

Calma para apresentar suas ideias de maneira concisa e clara.

Calma para evitar as redundâncias. Se alguém já apresentou bem sua ideia, não há necessidade de você se manifestar.

Calma para, com muita gentileza, alertar algum interlocutor ou interlocutora que escorrega para fora da pauta, e chamá-lo de volta ao assunto.

Calma para respeitar e valorizar as expertises que foram agrupadas em torno de sua empresa. Até ter a chance de harmonizá-las e avançar para a consolidação do seu empreendimento.

Tanta calma para quê?

Tão importante quanto o capital investido, os talentos agregados, as instalações de sua empresa e a definição do produto e/ou serviço que você entregará ao mercado é a calma para construir artesanalmente o fluxo gerencial de sua empresa.

Porque somos, muitas vezes, vítimas de nossas necessidades e ansiedades. E temos razões de sobra. Porque os resultados estão lá no fim do mês pressionando nossa sobrevivência. Porque já falhamos algumas vezes e não podemos errar de novo. Porque nossos aliados estão impacientes.

Mesmo assim a calma na condução de cada uma das reuniões é essencial para se construir o eventual sucesso ou simplesmente desistir, antes de assumir grandes prejuízos.

É da calma em cada encontro que apreenderemos o real potencial de cada aliado. Evitando, sempre que possível, que a reunião descambe para um papo de clube de amigos, em que cada um cria uma variante própria. E, ao fim da conversa, já não sabemos mais para onde vamos e já nos esquecemos quais eram nossos propósitos.

É a calma que nos afina os sentidos. E nos ajuda a perceber a linguagem corporal, quando um sim veemente é sublinhado por uma postura desanimada, que deve ser incorporada na nossa análise global. Com calma, sempre. Com gentileza, sempre.

Porque calma não é sinal de fraqueza. Como a verborragia não se transforma em convencimento. Porque toda empresa é um processo permanente. Vivo e dinâmico que assimila, com fome, novas ideias, propostas, encaminhamentos todos os dias.

Ao organizarmos com calma as reuniões nas quais desenhamos a estratégia da empresa, nos preparamos para antecipar discrepâncias e ceder posição para ajudar a harmonizar o conjunto.

Dessa maneira, o consenso será ao mesmo tempo vivo e forte. E os encaminhamentos terão como referência as discussões objetivas, porque realizadas calmamente no momento que lhes deram origem.

E ao colocar a empresa para bombar, descobriremos que a calma na tomada de decisões nos tornou muito mais fortes e determinados na busca de nossos objetivos.

Poderemos, então, repetir Che Guevara: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."

E todos: fornecedores, colaboradores e clientes finais nos entenderão plenamente e agirão, na prática, com determinação e objetividade.