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Como garimpar tendências que sustentarão novos empreendimentos?

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

18/09/2013 06h00

Antes de iniciar sua aventura empreendedora é aconselhável um exame profundo das próprias competências, que deve ser complementado por outra análise mais profunda ainda do que realmente o motiva.

Porque a excelência nas qualificações, apenas, pode garantir no máximo um bom emprego, com as eventuais promoções e as permanentes demissões.

Mas quando a excelência profissional se combina com a motivação plena, sai de baixo. O mundo se abre à sua capacidade empreendedora.

Pelo menos é assim que a gente constata nas histórias de sucesso, sempre escritas depois que um empresário surpreendeu os seus pares, identificou um novo nicho de mercado e teve talento e competência para ocupá-lo.

A imensa dificuldade que o empreendedor de primeira viagem enfrenta é, depois de ter reavaliado com calma suas experiências e motivações, identificar o novo nicho de mercado.

Geralmente, vale a regra: se o tema já virou notícia é muito provável que já esteja devidamente ocupado por pessoas capacitadas e que tiveram mais iniciativa que o novato.

Mesmo assim, vale a pena dar uma checada e verificar se os ocupantes de tal nicho estão sendo criativos o suficientes para a plena satisfação da clientela ou se o ajudaram por criarem o ambiente de negócio adequado para sua agressiva atuação, com altas doses de valor agregado e criatividade.

Mas dos jornais também podem surgir tendências que não estejam ainda plenamente percebidas e ocupadas por seus potenciais concorrentes.

Acompanhe, por exemplo, duas notícias recentes. Uma delas traz a seguinte informação, já no título: “Dilma: Brasil terá dinheiro para educação nos próximos 30 a 50 anos”. A outra, assinada pelo colunista da Folha, Nizan Guanaes, publicitário e presidente do Grupo ABC, com o título: “A nova classe alta”.

Os dois temas, se soubermos levá-los profundamente a sério, nos trazem um calidoscópio de oportunidades empreendedoras.

Por que?

O Brasil passará por imensas mudanças comportamentais em todos os seus extratos sociais nos próximos 30 anos e terá como grande impulsionador a Educação.

Nossa elite, aprendemos com Nizan Guanaes, ou se reeduca, se sofistica, aprende a valorizar bibliotecas e conteúdos reflexivos ou entregará os anéis para uma nova classe média emergente, que mesmo menos preparada tem mais pegada e disposição de ocupar seus espaços econômicos.

Aconteceu mudanças semelhantes no fim do Século 18, na França, nos Estados Unidos, na Europa quando a burguesia tida e havida como classe menos educada, sem o refinamento da nobreza, avançou e ocupou seus espaços econômicos e depois culturais.

Com a disponibilidade de investimentos continuados em Educação no Brasil, emergirá a autoconsciência das pessoas, em quaisquer posições sociais que se encontram.

Mais do que as manifestações de ruas, conviveremos com as vinculações em redes sociais, com o alastramento e confirmação de interesses recíprocos que passarão a ser traduzidos em atitudes e votações coletivas.

Um atendimento arrogante em quaisquer instâncias comerciais, seja no shopping ou na rua, na hora do crediário ou na cobrança deselegante, significará risco iminente de fechamento do negócio.

Assim como, saber interagir com a alma e o conhecimento das pessoas, respeitar suas culturas, origens e emoções, será tão importante quanto um excelente ponto comercial.

Porque a Educação nos dará consciência de nós mesmos, em primeiro lugar. E nos transformará em portais universais das comunidades em que estamos inseridos, como já acontece nas economias em que ter uma estante de livros na sala não é mera decoração.

Mas para atender esse novo público consumidor, o empreendedor terá que provar muito mais do que boas intenções e oportunismo. Será obrigado a se aliar com talentos que o ajudem a refletir, ponderar, aprofundar suas análises.

Se é bom por acabar com a famosa solidão dos desbravadores de sertão, que com o tempo se tornaram bem sucedidos mas extremamente autoritários, será ótimo para estimular nossos jovens, de todas as camadas sociais, a investir mais na calmaria de uma biblioteca do que na esquizofrenia de um jogo eletrônico, somente.

Ou seja, descortina-se uma nova versão do Admirável Mundo Novo, mas sem as castas sociais, sem as drogas e sem os condicionamentos psicológicos que nos propôs Aldous Huxley, em 1932.

Uma nova geração de homens e mulheres, jovens e idosos, de todos os matizes raciais, hábeis e capazes de rápidas conexões locais e mundiais, emergirá com as portas que se abrem pela Educação plena. Que já começa a estar disponível e que nos oferecerá oportunidade de novos negócios.

Se o novo empreendedor estiver preparado, fará parte dos que regerão esse novo mundo de empreendimentos. Ou terá a oportunidade de se fazer plenamente respeitado, como consumidor e cidadão, pelos novos gestores de negócios.