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Criatividade sem ação vira bravata

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

27/11/2013 06h00

Há os empreendedores que combinam criatividade com ação e consolidam organizações diferenciadas, competitivas e com pouco investimento inicial. Como há também os que, apesar de terem grandes ideias e, por isso, se julgarem criativos, acabam reféns da própria inação.

O que nos leva a concluir que é praticamente impossível aproveitar a criatividade, muita ou pouca, caso não tenhamos a ousadia de agir. E é aí, no momento da ação, que se definirá o nascimento ou o aborto de uma futura empresa.

Porque é durante a abertura formal e física de uma empresa que os riscos saltam do papel e se tornam reais e concretos. É quando o empreendedor compromete, de fato, as finanças pessoais e familiares e, até mesmo, os bens móveis e imóveis adquiridos ao longo de dezenas de anos.

Nesses períodos decisivos, antes de se dar o salto para o sucesso imaginado ou se afundar no perigo real de um fracasso, toda a intuição do empreender emerge à flor da pele.

Porque ela (ou ele) terá que manter o sangue frio de se endividar primeiro, investir na empresa, torná-la lucrativa a tempo de iniciar o resgate das próprias dívidas.

Muitos param antes do salto. E consomem anos em bravatas junto aos amigos e parentes o quão criativos poderiam terem sido, caso tivessem tido a oportunidade de colocar a empresa de pé.

Na verdade, se justificam para si mesmos, porque a pressão psicológica de uma criatividade subaproveitada é imensa. Porque todos os dias a empresa que poderia ter sido consolidada pipoca aqui e ali na frente do empreendedor que quase deu certo.

Mas a vida do empreendedor criativo que age nem sempre é lá esse mar de rosas. Porque um dos componentes necessários à sobrevivência de quaisquer empresas, mesmo comandadas por empreendedores criativos, é a superação dos erros.

Portanto, a imensa maioria dos projetos bem sucedidos já amargaram fases de verdadeiro pesadelo. Quando seus gestores perderam praticamente tudo o que arriscaram. Com dívidas aparentemente intransponíveis.

Mesmo assim, superaram as dificuldades, mantiveram o sangue frio e se revigoraram com altas doses de criatividade e foram em frente. Souberam se manter em ação sem abrir mão dos diferenciais criativos que os tornaram, hoje, grandes empreendedores.

O que definiria o sucesso ou fracasso de um empreendimento poderia ser, portanto, a combinação da criatividade com ação. Mas os “quase empreendedores” que travam na beira do precipício imaginário também são profissionais de ação.

Continuam produtivos, apesar de não dirigirem as próprias empresas. E se destacam na gestão de departamentos das empresas que os contratam.

Mas nesse caso, ao deixarem de fora de suas vidas o risco e abrirem mão conscientemente da ação decidem, por tabela, entregar também a própria criatividade para seus patrões e chefias. Que vai como um extra, nem sempre reconhecido em salários ou bônus, junto com suas expertises.

O que é legítimo, normal e adequado.

Desde que seus amigos e parentes não sejam obrigados a ficar ouvindo suas grandes bravatas do “grande empresário que poderia ter sido” se tivesse tido a ousadia de colocar em prática as suas grandes ideias criativas.