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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Valor de companhias na Bolsa cresce até 526% com guerra da Ucrânia

Qual o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia nas Bolsas latinas e americana? - Cris Faga/NurPhoto via Getty Images
Qual o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia nas Bolsas latinas e americana? Imagem: Cris Faga/NurPhoto via Getty Images
Nilson Brandão

30/03/2022 04h00

O valor de companhias listadas nas Bolsas das Américas foi diretamente impactado pelos primeiros 30 dias da guerra da Ucrânia. Comparadas à véspera da invasão russa, o crescimento do valor de mercado de empresas alcançou o patamar dos 500%.

Seis dos 15 maiores crescimentos de empresas negociadas na Bolsa dos Estados Unidos foram de companhias de óleo, gás e de serviços de mineração. Com a invasão russa, o preço do petróleo ultrapassou a barreira dos US$ 100, rondou perto dos US$ 130 e bateu recorde de cotação máxima em 14 anos.

O valor da prestadora de serviço em petróleo Enservco saltou 526% no período; Houston American Energy, 382%; Indonesia Energy, 240%; as empresas de gás natural Nextdecade, 154%; e Tellurian, 125%.

A Arcadia Biosciense mais do que duplicou de tamanho, crescendo 134%. A empresa de tecnologia desenvolve melhorias de produtividade em cultivo trigo, cânhamo e soja. Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% de todo trigo exportado no mundo.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou aumento de fornecimento de gás para a Europa, para diminuir a dependência da Rússia. Para analistas, a decisão poderia beneficiar as empresas americanas de gás.

Já o secretário americano de Estado, Antony Blinken, havia dito que o país estava conversando com parceiros e aliados para analisar a perspectiva de proibir a importação de petróleo russo, garantindo ao mesmo tempo suprimento adequado do produto no mundo.

Mercados latinos

Nas Bolsas latinas, oito das 15 maiores expansões de valor de mercado foram em petróleo, mineração e siderurgia. A Sociedad Quimica y Minera de Chile e a mineradora e siderúrgica chilena CAP cresceram 38% e 37%, respectivamente, em 30 dias.

A petroleira brasileira Enauta avançou 36%; 3R Petroleum, 27%; e Petroreconcavo, 27%. A empresa de energia Raízen aumentou de tamanho em 28% e a siderúrgica Guerdau, 25%.

No primeiro mês da guerra da Ucrânia, o grupo das 189 empresas de energia e mineração nos Estados Unidos, Brasil, México, Chile, Colômbia, Peru e Argentina cresceu na casa dos dois dígitos: 13%, quase o dobro dos 7% de aumento do total das 4.282 listadas.

Juntas, mineradoras e empresas de energia nas Américas alcançaram valor de U$ 1,8 trilhão, cerca de U$ 200 bilhões acima do dia anterior ao início da conflagração no Leste Europeu.

Os preços de energia e commodities aumentaram desde o início da guerra, o que explica grande parte desta variação. Em regra, os mercados de energia e de petróleo respondem diretamente a riscos geopolíticos no mundo.

Cotações de commodities minerais também avançaram de forma expressiva como efeito das sanções à Rússia e das dificuldades logísticas da Ucrânia sob ataque. Isso beneficiou grandes exportadoras destes segmentos em outras regiões do globo.

A Rússia é forte exportadora de metais como o paládio, minério de ferro, níquel, alumínio e urânio, além do petróleo e do gás natural. A Ucrânia produz óleo, gás natural, carvão, minério de ferro, giz, calcário e manganês.

Multinacionais perdem espaço

Em contrapartida, um conjunto de multinacionais da região selecionadas pela maior exposição aos mercados russo e ucraniano em seus negócios experimentou movimento oposto e encolheu de tamanho, no mesmo comparativo.

Foi o caso das companhias McDonald's (fast-food), PepsiCo (alimentação), Mohawk (revestimento), Arconic (metais) e Philip-Morris (cigarros), que têm nos dois países em guerra entre 4% e 10% do movimento total de suas operações.

O tamanho do valor de mercado da indústria Arconic diminuiu 22%; Philip Morris, 13%; Mohawk, 5%; McDonald's, 2%; e PepsiCo, 0,8%.

No capítulo de riscos ao negócio do relatório anual de 2021, a gigante PepsiCo ressalta que a atividade pode ser adversamente afetada caso a companhia não consiga crescer nos mercados emergentes e em desenvolvimento.

Em seguida, o mesmo relatório registra que os negócios nestes mercados —Rússia inclusa— podem ser afetados por condições econômicas, políticas, sociais, atos de guerra, terroristas e agitação civil, dentre outros riscos enumerados.

A performance destas companhias sofre outros efeitos, como a performance de seus negócios domésticos e em outras regiões, além do peso da operação russa e das decisões de suspensão de investimento e retirada deste mercado.

Na última quinta-feira (24), a Philip Morris anunciou novas medidas quanto ao mercado russo, como a suspensão de investimentos planejados e redução das operações de fabricação.

Atividades de marketing forma suspensas, marcas foram descontinuadas e lançamentos, cancelados. Informou, ainda, que o Conselho de Administração e executivos trabalham em opções para deixar o mercado russo de maneira ordenada.