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ANÁLISE

Com guerra na Ucrânia, investimento baseado na inflação pode render mais?

15.mar.2022 - Três grandes explosões consecutivas sacudiram a cidade de Kiev, na Ucrânia - André Liohn
15.mar.2022 - Três grandes explosões consecutivas sacudiram a cidade de Kiev, na Ucrânia Imagem: André Liohn

16/03/2022 11h00

Petróleo, gás natural e grãos estão com preços nas alturas. A Petrobras (PETR3 e PETR4) anunciou reajustes que encareceram os preços de combustíveis e pesam agora no bolso dos brasileiros. Os valores disparados são reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que, apesar de envolver dois países a quilômetros de distância, tem afetado o Brasil.

É possível esperar uma maior alta de preços? O mercado deve aumentar as projeções para inflação e, consequentemente, os juros neste ano? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, responde a todas essas dúvidas abaixo e aborda, ainda, como o conflito deve afetar os investimentos em renda fixa no curto prazo.

Uma guerra em dois fronts

Ao invadir a Ucrânia, a Rússia iniciou uma guerra em dois fronts, de acordo com o analista. O primeiro é o front de batalha no território ucraniano, "no qual o poderoso exército russo enfrenta a feroz resistência de militares e civis ucranianos, que lutam em defesa de sua pátria sob a carismática liderança do ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky". diz.

"Apesar da dura resistência dos invadidos, reforçada pelo sentimento patriótico dos cidadãos ucranianos, é inegável a superioridade bélica do invasor. O orçamento militar russo em 2021 foi mais de 10 vezes superior ao do país vizinho. Fora que o presidente Vladimir Putin conta com 840 mil militares na ativa, contra uma tropa de 219 mil sob o comando de Zelensky", declara Bevilacqua.

Mas para ele, o segundo front, que diz respeito à batalha geopolítica que Moscou trava com o Ocidente, é diferente. "No lugar de metralhadoras e mísseis, as armas utilizadas são sanções, embargos econômicos e o bloqueio de bens e serviços financeiros. Nesse campo de batalhas, a Rússia se encontra em desvantagem", afirma.

Da outra trincheira, Estados Unidos, Reino Unido, países membros da União Europeia (UE) e muitos outros impõem duras baixas à economia russa, que já começa a dar sinais de desgaste acelerado. Mas a Rússia também possui armas para travar essa batalha, sendo o terceiro maior produtor de petróleo do planeta, e responsável pelo fornecimento de cerca de 40% do gás natural importado pela UE.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante

Dessa forma, o especialista diz que nações situadas a milhares de quilômetros da zona de guerra acabam sofrendo as consequências indiretas do conflito, como o Brasil.

A guerra, a inflação e os juros

Como era esperado, o conflito envolvendo uma das maiores potências energéticas do planeta e um importante exportador de grãos tem pressionado a alta dos preços de diversos insumos e produtos.

O petróleo, o gás natural e os grãos (especialmente o trigo e o milho) têm sofrido constantes altas de preços desde o início da guerra. No cenário doméstico, a Petrobras (PETR3 e PETR4) anunciou, em 10 de março, reajustes de 18,77% para a gasolina e 24,9% para o diesel. O gás liquefeito de petróleo (GLP), por sua vez, sofreu um reajuste de 16%.

Assim, o mundo já se prepara para uma nova onda de inflação, o que tende a acelerar o processo de alta dos juros e retirada de estímulos por diversos países —dentre os quais o Brasil.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic —taxa básica de juros do Brasil— foi elevada em 1,5 ponto percentual, chegando a 10,75% ao ano.

"Antes da eclosão da guerra, projetava-se que a taxa deveria encerrar o atual ciclo de alta no patamar entre 11,75% e 12,25% ao ano, mas as estimativas começaram a mudar", declara Bevilacqua.

O Relatório de Mercado Focus, divulgado na segunda-feira (14), trouxe uma piora das projeções para a inflação e para os juros neste ano. A inflação estimada para 2022 subiu de 5,65% na última semana para 6,45% no último relatório, enquanto a Selic projetada foi de 12,25% para 12,75% ao ano.

"Com essa mudança de perspectiva, a renda fixa também deve ser afetada", afirma o analista da Levante.

Com o novo cenário, onde investir?

Evidentemente, os ativos de renda fixa são os que mais devem se beneficiar desta nova conjuntura, especialmente aqueles indexados à Selic e ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação.

Bevilacqua declara que uma primeira opção de investimento a ser levada em consideração no presente momento é a gama de fundos DI (Fundos de Renda Fixa Referenciados DI). O objetivo desses fundos é acompanhar a taxa CDI, sigla para Certificado de Depósito Interbancário, um instrumento utilizado para a realização de empréstimos de curto prazo entre bancos.

"Esses fundos devem se beneficiar da alta da Selic, uma vez que alocam a maior parte de seu patrimônio em títulos de renda fixa com rentabilidade indexada ao CDI ou à taxa Selic —duas taxas de referência que normalmente se encontram em patamares semelhantes", diz.

Além disso, ele declara que os fundos DI são considerados investimentos bastante conservadores, ou seja, que oferecem menor risco ao investidor.

Outra classe de ativos que o analista diz que deve apresentar boa performance na atual conjuntura são os Certificados de Depósito Bancário (CDB) pós-fixados —ou seja, aqueles que têm sua rentabilidade atrelada à taxa de juros ou ao IPCA.

Ao investir em um CDB, você empresta dinheiro para uma instituição financeira que, por sua vez, utiliza os recursos captados para conceder empréstimos aos clientes. Como recompensa, a instituição remunera o investidor com parte dos juros cobrados do tomador do crédito.

Por fim, existe a opção de investir nos títulos públicos disponíveis para compra Tesouro Direto, novamente priorizando aqueles atrelados à Selic, chamados de Tesouro Selic, e à inflação, conhecidos como Tesouro IPCA+. Ao investir nesses ativos, é importante se atentar ao vencimento. Escolha a opção que melhor se alinha aos seus objetivos e ao horizonte de tempo no qual você pretende contar com os ganhos do investimento.

De olho na renda fixa

Segundo o analista, é difícil tentar prever quanto tempo pode durar a guerra entre Rússia e Ucrânia e até onde irão se estender as sanções impostas à Rússia pelas nações do Ocidente.

"O conflito já vem impactando a economia global e trazendo mais incertezas aos mercados. Assim, o investimento em ativos de renda fixa atrelados à taxa de juros ou à inflação pode ser estratégico para reduzir a exposição da sua carteira aos riscos do presente momento", declara.

Acesse aqui o relatório completo da Levante sobre os possíveis impactos da guerra na inflação e na renda fixa.

Carteiras conforme o perfil

Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:

- Carteira para quem não aceita risco algum

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco

- Carteira para quem é mais moderado

- Carteira para quem aceita mais risco

- Carteira para quem aceita alto risco

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.