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ANÁLISE

Da gasolina ao agronegócio: como a guerra na Ucrânia afeta o Brasil?

Moradores atravessam uma ponte destruída ao deixar Irpin, perto de Kiev, Ucrânia - Jedrzej Nowicki/Agencja Wyborcza.pl via Reuters
Moradores atravessam uma ponte destruída ao deixar Irpin, perto de Kiev, Ucrânia Imagem: Jedrzej Nowicki/Agencja Wyborcza.pl via Reuters

09/03/2022 11h00

Após semanas de tensão na região de fronteira entre Rússia e Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin ordenou uma invasão ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, sob o pretexto de assegurar a paz nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no extremo-leste ucraniano.

Assim, a Rússia deu início a uma invasão em larga escala à Ucrânia. Poucos dias depois do envio de militares para o leste separatista, as tropas russas já se deslocavam pela porção ocidental do país, rumo à capital Kiev. A eclosão do conflito trouxe pânico aos mercados e derrubou Bolsas de Valores ao redor do planeta, interrompendo uma sequência de ganhos do Ibovespa —o principal índice de ações da B3.

Como a invasão pode afetar a economia brasileira e, consequentemente, seus investimentos? Quais os setores mais impactados pelo conflito? Como cada um deles deve reagir aos desdobramentos da guerra? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, responde a todas essas dúvidas abaixo.

Mais difícil do que Putin imaginava

Putin - Sputnik Photo Agency/via Reuters - Sputnik Photo Agency/via Reuters
O presidente russo, Vladimir Putin
Imagem: Sputnik Photo Agency/via Reuters

De acordo com o analista, diante da postura que vinha sendo adotada por Putin, não é possível dizer que a invasão pegou os investidores de surpresa, assim como as sanções impostas à Rússia pelo ocidente em resposta ao ataque.

"O que de fato surpreendeu o mercado —e que não parecia estar nos cálculos do autocrata russo— foi a força da resistência ucraniana, que tem conseguido conter o avanço das tropas inimigas e impor duras perdas ao exército russo com forte engajamento da população civil no conflito", afirma.

Ele declara ainda que, diante da bem-sucedida resistência ucraniana e da imposição de sanções cada vez mais severas à Rússia, a guerra se estende por mais tempo —e a um custo mais alto— do que o estimado inicialmente.

Impacto global

Engana-se quem pensa que a guerra na Ucrânia afeta apenas os países diretamente envolvidos no conflito e seus vizinhos mais próximos. O conflito e seus desdobramentos políticos afetam a economia global como um todo, podendo afetar até mesmo o desempenho de empresas brasileiras listadas na B3.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante

O embate envolve as duas maiores nações da Europa em termos de extensão territorial, sendo a Rússia uma potência energética e a Ucrânia uma das maiores produtoras de grãos do planeta.

Diante disso, Bevilacqua diz que o conflito e seus desdobramentos políticos afetam a economia global como um todo, podendo afetar até mesmo o desempenho de empresas brasileiras listadas na B3.

Óleo e gás

Uma das mais relevantes consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia tem sido a alta da cotação do petróleo, que chegou ao patamar de US$ 125 pelo barril do óleo tipo Brent —aquele extraído no Mar do Norte e negociado na Bolsa de Londres.

A alta se dá em meio à perspectiva de que nações ocidentais podem impor sanções à exportação de petróleo e gás natural pela Rússia. Isso gera preocupação entre os investidores, uma vez que a Rússia é a principal fornecedora do insumo para os países do continente, e parte do gás precisa passar pela Ucrânia para chegar até a porção ocidental da Europa.

Zelensky - Reprodução/Telegram - Reprodução/Telegram
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Imagem: Reprodução/Telegram

Com a perspectiva de escassez do gás, cresce a especulação em torno dos preços da energia, movimento que acaba impulsionando ainda mais o preço do petróleo, que é referência no setor.

"Pensando no curto prazo, a disparada dos preços do petróleo tende a impulsionar os resultados das companhias do setor de óleo e gás. Por outro lado, com o aumento dos preços dos derivados de petróleo, é possível que os parlamentares priorizem projetos que tenham como finalidade reduzir os preços finais dos combustíveis nas bombas brasileiras, o que pode limitar os ganhos do setor", afirma o analista da Levante.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que é urgente que se impeça a elevação das tarifas nos postos de gasolina, fazendo-se "mais do que nunca" para avançar os projetos que tratam do tema na Casa.

Assim, Pacheco informou que o Senado deve retomar os debates sobre o Projeto de Lei acerca da cobrança do ICMS sobre os combustíveis, bem como a proposta de redução da volatilidade dos preços por meio de mecanismos de estabilização.

Mineração e siderurgia

"A percepção de que o conflito no leste europeu também tende a afetar a oferta global de aço tem contribuído para a alta do preço do minério de ferro, diante da retomada da demanda pela commodity [matéria-prima] na China", diz Bevilacqua.

A Rússia responde por cerca de 10% do comércio global de aço, enquanto a Ucrânia tem uma participação de 4%. A interrupção do fornecimento do produto por essas duas nações faz com que os consumidores saiam em busca de fontes alternativas.

Neste cenário, a China é o único país capaz de suprir essa demanda, e é também a principal consumidora do minério de ferro produzido no Brasil.

Com as siderúrgicas chinesas em busca de matéria-prima, o preço do minério de ferro voltou a subir nas últimas semanas, sendo cotado a US$ 152,97 por tonelada no porto de Qingdao, na China, em 4 de março.

Agronegócio

O conflito também deve impactar o agronegócio brasileiro, uma vez que Ucrânia e Rússia são duas grandes produtoras de grãos. Juntas, elas respondem por 29% das exportações globais de trigo, 19% de milho e 80% de óleo de girassol.

Bevilacqua declara que a consequência é a subida das cotações destes produtos no mercado futuro, diante da perspectiva de diminuição da oferta global em decorrência da guerra. Destaca o aumento do preço do milho, produto que serve como base para a ração que alimenta os rebanhos brasileiros.

Com um custo mais alto para produção de ração, podemos esperar uma elevação do preço da carne produzida pelos frigoríficos ao redor do mundo, em decorrência da redução das margens destas empresas.

Outro fator relevante para o agronegócio brasileiro, segundo ele, é a possível diminuição da oferta global de fertilizantes, especialmente nitrogênio, fósforo e potássio, em virtude da guerra.

Cerca de 70% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados, e a Rússia é a principal fornecedora do insumo, tendo comercializado cerca de 23% do total utilizado no Brasil em 2021.

Belarus, aliado da Rússia que também enviou tropas para a Ucrânia, é responsável pelo fornecimento de cerca de 6% dos fertilizantes utilizados no Brasil, e também enfrenta dificuldades para escoar sua produção.

Diante da escassez de fertilizantes no mercado doméstico, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, informou que o governo federal lança, este mês, um plano nacional para ampliar a produção do insumo no país, na tentativa de evitar que a safra deste ano seja prejudicada.

Próximos capítulos dos impactos no Brasil

Bevilacqua afirma que os setores de óleo e gás e mineração e siderurgia tendem a se beneficiar do cenário de alta dos preços do petróleo e do minério de ferro em meio à guerra na Ucrânia.

"Mas é preciso levar em consideração os esforços políticos que podem ser empregados para conter a elevação dos preços, especialmente no caso dos combustíveis", declara.

De acordo com o analista, o agronegócio, por outro lado, pode ser prejudicado tanto no ramo agrícola quanto na pecuária, devido à escassez de fertilizantes e de insumos utilizados na produção da ração consumida pelos rebanhos brasileiros.

"Portanto, o conflito no leste europeu tende a afetar setores cruciais da economia brasileira, podendo se refletir em perdas expressivas para algumas empresas do Ibovespa, e em ganhos igualmente relevantes para outras, a depender de sua área de atuação", diz.

Acesse aqui o relatório completo da Levante os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia ao mercado brasileiro.

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- Carteira para quem não aceita risco algum

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco

- Carteira para quem é mais moderado

- Carteira para quem aceita mais risco

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.