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Vale investir na waves, cripto russa que subiu mais de 100% na guerra?

Qual é a melhor oportunidade de o investidor ganhar com a criptomoeda waves, considerada o ethereum russo? Descubra abaixo - Getty Images
Qual é a melhor oportunidade de o investidor ganhar com a criptomoeda waves, considerada o ethereum russo? Descubra abaixo Imagem: Getty Images

Paula Pacheco

Colaboração para o UOL, de São Paulo

18/03/2022 04h00

Uma criptomoeda russa, criada por um ucraniano, tem conquistado destaque entre os ativos atrelados à economia virtual desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Em 15 de fevereiro, a waves (WAVES) era negociada a R$ 53,74, chegando a R$ 133,41 um mês depois —o que significa uma alta de 134%. Um dia antes de a guerra começar (ou seja, em 23 de fevereiro), seu valor foi de R$ 46,61. Nesta quinta-feira (18) era negociada a R$ 143,90.

Com uma grande valorização em tão pouco tempo, vale a pena investir na moeda digital russa? Para responder a essa pergunta, o UOL conversou com especialistas no tema. Confira logo abaixo.

O que é a waves?

A waves é uma criptomoeda russa criada em 2016 por Sasha Ivanov, empreendedor de tecnologia nascido em Zaporozhye, sexta maior cidade da Ucrânia. A cripto é apontada por muitos como uma espécie de versão russa de outro ativo digital (a criptomoeda ethereum).
A plataforma de negociação da moeda digital, a Waves Plataform, conta com 300 mil usuários ativos em 25 países. Além disso, foi financiada por US$ 18 milhões, sendo o segundo maior projeto de blockchain (sistema que faz o bitcoin e outras criptomoedas funcionarem) com financiamento coletivo no mundo --apenas atrás de outra moeda que teve o mesmo processo, a ethereum (ETH).

Movimento especulativo

Fundador e CEO da BitPreço, Ney Pimenta diz que a waves ganhou uma série de atualizações tecnológicas e passou a ser listada em algumas das grandes corretoras do mundo. Ainda assim, não são fatos suficientes para justificar a disparada do ativo.

A meu ver, como quase sempre se vê na valorização de criptos, há um viés especulativo no preço da waves por ter relação com os dois países envolvidos no conflito. Ou seja, a valorização expressiva em um intervalo de tempo tão curto não foi por causa de um grande diferencial tecnológico ou pela adoção ainda maior da cripto.
Ney Pimenta, fundador e CEO da BitPreço

Da mesma forma, Bernardo Schucman, vice-presidente sênior da divisão das moedas digitais da CleanSpark, atribui a um movimento especulativo o avanço da cripto russa.

Já Lucas Schoch, CEO da Bitfy, aponta outros fatores que têm influenciado na performance da waves. Entre eles, o fato de a Bolsa russa operar em grande queda e o rublo atingir uma queda histórica, o congelamento de bens de cidadãos russos e a imposição de restrições econômicas ao país.

Com isso, segundo Schoch, muitos têm optado por utilizar uma finança descentralizada para armazenar seu capital, optando pela waves.

Fuga das sanções

Analista de mercado financeiro da Oanda, Edward Moya cita ainda o fato de a waves, como uma espécie de "ethereum russo", ter servido como oportunidade para as empresas da Rússia evitarem sanções econômicas. Para João Canhada, CEO da Foxbit, a influência na alta da waves pode estar ligada ao movimento da população do país em trocar a moeda local (rublo) pela criptomoeda.

Mas não é possível sinalizar se o movimento de alta da waves vai durar muito tempo. Os especialistas acreditam que, da mesma forma que o valor da cripto disparou nas últimas semanas, seu preço pode cair de uma hora para outra.

"Essa cripto pode até subir um pouco mais, mas existe a possibilidade de vermos uma queda bruta a qualquer momento. Hoje, não vejo nada que mantenha esse valor de moeda por um período maior", disse Pimenta, CEO da BitPreço.

Melhor momento já passou

A melhor oportunidade de ganhar com a criptomoeda russa pode ter ficado para trás, segundo Schoch, da Bitfy.

O melhor momento para se adquirir um ativo digital é sempre em seu momento de baixa, quando ainda não explodiu a sua valorização. Para mim, qualquer investimento em ativos vinculados à Rússia é de extremo risco neste momento.
Lucas Schoch, CEO da Bitfy

Moya, da Oanda, acrescenta: "A guerra na Ucrânia fez com que muitas empresas tivessem dificuldades para encontrar maneiras de contornar as sanções, e isso fez a waves disparar. Essa correlação pode durar um pouco mais... Mas quando o rali da waves terminar, se deteriorará rapidamente".

Para Schucman, executivo da CleanSpark, não há razão para otimismo com a waves por causa das sanções à Rússia. O especialista lembra que todos os ativos russos ou associados ao país estão com alta probabilidade de impedimentos e proibições pelos EUA e seus aliados, o que enfraquece qualquer tipo de possibilidade de ganho e aumenta os riscos sobre o ativo.

Já Canhada, da Foxbit, diz que, apesar da ligação com empresas e bancos russos —e por ser conhecida, então, como cripto russa—, a waves não se declara propriamente como russa. Ainda assim, o especialista afirma que é preciso sempre ter cuidado com as especulações de curto prazo, pois diversos fatores técnicos e políticos podem afetar as negociações de qualquer ativo em momentos instáveis.

Ativo arriscado

O comportamento da waves deve servir de sinal de alerta para o investidor, de acordo com Canhada, da Foxbit. Para o especialista, "nada que sobe 170% em dez dias pode ser considerado seguro de ser surfado tardiamente".

Para ele, se for para especular, a compra do ativo russo pode ser interessante. Mas olhando no longo prazo é preciso entender o que prevê o seu projeto, ou seja, não basta analisar a cotação na hora de fazer uma análise.

Atualmente Moya, da Oanda, não está otimista em relação a waves ou outras criptos.

Até que o apetite ao risco esteja de volta, as criptos terão dificuldades para se destacar no curto prazo. Os surtos de criptomoedas muitas vezes param abruptamente e, em seguida, são seguidos por um colapso. No caso da waves, existe um risco elevado de as sanções visarem a cripto russa. Além disso, também não está claro como o governo russo lidará com a ascensão da waves, e isso pode limitar seu potencial de crescimento a longo prazo.
Edward Moya, analista de mercado financeiro da Oanda

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