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Alexandre Pellaes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Plano de carreira também é responsabilidade das pessoas; qual o peso disso?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

08/09/2022 04h00

Carreira é um tema central na vida do trabalho organizado.

Faz parte do discurso de grandes organizações: "Aqui, você terá uma carreira de sucesso!"; dos debates escolares no ensino médio: "Que profissão vai lhe garantir uma boa carreira?"; das definições de aprofundamento técnico no começo da vida adulta: "Quais são os cursos e especializações que te destacam nessa carreira?"; e dos conflitos na maturidade quando começamos a despertar para novos interesses além do sucesso comercial, que é vendido como único objetivo do trabalho formal: "Será que eu posso mudar de carreira?".

Mas, afinal, o que é carreira?

De maneira geral, carreira tem duas definições:

1. Refere-se a uma profissão, ofício ou área de atuação de trabalho, que demanda conhecimentos técnicos específicos, impondo ao trabalhador um ajuste de si para direcionar seus interesses e energia rumo aos saberes necessários para ser aceito em uma determinada jornada profissional.

2. Diz respeito à sequência de experiências de trabalho que uma pessoa vivencia ao longo de sua vida, tradicionalmente focando no avanço e aumento de complexidade do trabalho, incluindo múltiplas áreas de conhecimento, diferentes empregos, cargos, títulos e conquistas alcançadas ao longo do tempo.

Portanto, dependendo da compreensão e da abordagem sobre carreira, é possível dizer que as carreiras fazem as pessoas, ou concluir que as pessoas fazem as carreiras. Embora possam parecer visões opostas, na verdade, são complementares —e ambas têm colocado um peso danado nas nossas costas nos tempos "modernos" (cof!).

A pressão se inicia na decisão sobre as áreas de estudo, ainda no ensino médio, e na transição para a vida universitária. Jovens de 15 e 16 anos continuam sendo questionados sobre "o que você quer ser quando crescer?" e são direcionados para campos específicos de aprofundamento técnico (humanas, exatas, biológicas...). Ainda que haja uma área de maior facilidade ou interesse, essa tomada de decisão se apresenta como um compromisso de acertar uma escolha sobre a qual não temos conhecimento suficiente.

A propósito, vale ressaltar que a discussão sobre carreira é, em certo ponto, um privilégio, tanto em relação ao nível de consciência, como de acesso; afinal, em um país com desemprego elevado e caracterizado pelo descaso governamental com a educação, apenas uma parcela pequena da população pode, de fato, pensar em escolhas reais de caminhos de carreira. Isso não significa que o peso do desenho da carreira e das definições de jornada de trabalho não apresentem desafios e questionamentos para todas as outras pessoas, porque, em cenários de mudanças aceleradas, com menos garantias estruturais, cada indivíduo é desafiado a se colocar como construtor de si —mesmo que não tenha sido preparado para isso.

A responsabilidade agora é sua

Por muito tempo, a carreira organizacional foi tratada de maneira bastante objetiva e seu direcionamento era responsabilidade das empresas, que desenhavam planos bem estruturados, com parâmetros lineares como tempo de casa, formação escolar e cursos, métricas matemáticas de performance, proficiência em idiomas, rodízio de áreas de atuação, experiências complementares etc., que serviam como critérios de avanço na escada organizacional. Além disso, a linearidade das escolhas profissionais era vista como consistência e até caráter do profissional. Pensava-se: "Ficou 20 anos na mesma carreira? Tá aí uma pessoa confiável..."

No entanto, nas últimas duas décadas, a carreira tem sido reconhecida como elemento vivo da experiência social do trabalho, colocando sobre as pessoas a responsabilidade e a oportunidade de desenharem suas jornadas, com maior flexibilidade. Para alguns, essa mudança se coloca como oportunidade; para outros, como fardo. Atualmente, haverá quem pense: "Ficou 20 anos na mesma carreira? Tá aí uma pessoa acomodada e desatualizada..."

Nem tanto lá, nem tanto cá, né?

A quebra dos padrões rígidos de carreira e aceitação da flexibilidade e da mudança como partes da construção de quem somos e do que escolhemos ao longo da nossa jornada é essencial para que possamos considerar nosso próprio desenvolvimento, crescimento e autoconhecimento. Você, certamente, não é a mesma pessoa de 10, 20 ou 30 anos atrás. Portanto, é perfeitamente natural que tenha novos interesses e anseios de carreira.

No entanto, é impossível ignorar que tem havido um abandono das empresas em seu (des)compromisso de oferecer suporte às pessoas. Dizer "você é o único responsável por sua carreira", como muitas organizações fazem, atualmente, é menosprezar o fato de que a carreira é composta por um elemento sociológico (da estrutura), além do psicológico (do indivíduo); do elemento objetivo (das oportunidades reais), além do subjetivo (da interpretação das oportunidades).

Portanto, a responsabilidade tem que ser compartilhada.

Caso contrário, o vínculo entre profissional e empresa ficará cada vez mais fragilizado, e os trabalhadores se sentirão ainda mais pressionados a acertarem suas escolhas, sem reconhecer que as decisões de carreira não são sobre acertar, mas sim sobre criar novas versões de si, a partir do olhar interno para suas potencialidades.

Nesse sentido, aproveite o texto para refletir: o que você e sua empresa têm feito para contribuir com decisões de carreira mais acertadas? Se houve um incômodo com a resposta, é hora de se movimentar!

Um abraço, boa semana e muito bom Trabalho!

(Deixe seus comentários aqui no texto ou interaja comigo lá no instagram @pellaes)

Lugares Incríveis para Trabalhar

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e as empresas vencedoras devem ser anunciadas em setembro.