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Mercadante vai presidir BNDES com menos poder de fogo do que na era Dilma
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Recebido com ceticismo pela indústria financeira, Aloizio Mercadante vai presidir um BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com bem menos poder de fogo do que aquele que o banco estatal tinha nos tempos do último governo do PT, quando despejou dinheiro a juro negativo para subsidiar os campeões nacionais. Em linguagem de gente, campeão nacional era o apelido para impérios empresariais que cresceram e se consolidaram com um jurinho de pai para filho, graças à proximidade com o Palácio do Planalto.
Durante a era Dilma Rousseff (2011-2016), o BNDES emprestava, em média, R$ 190 bilhões por ano - cerca de R$ 300 bilhões corrigidos pela inflação, segundo uma análise do banco americano JP Morgan, publicada neste mês.
No ano passado, o banco estatal desembolsou "apenas" R$ 65 bilhões para empresas no país. O perfil de quem pega dinheiro na quitanda mudou: projetos de infraestrutura ocuparam o lugar dos antigos campeões nacionais.
"MAKE BNDES BIG AGAIN?": O documento, firmado por quatro analistas do banco americano, é intitulado "Make BNDES Big Again" ("faça o BNDES grande de novo", trocadilho com o slogan de campanha do ex-presidente Donald Trump).
Enquanto o BNDES encolheu, o mercado privado de financiamento da atividade das companhias brasileiras floresceu, tendo crescido em torno de quatro vezes no período. Isso ocorreu por meio de instrumentos de renda fixa, como debêntures, recebíveis imobiliários (CRI), agrícolas (CRA) e fundos de direitos creditórios (FIDC).
De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), entre janeiro e novembro de 2022, empresas brasileiras obtiveram R$ 389 bilhões no mercado privado, por meio desses instrumentos de renda fixa.
"É verdade que o aumento das taxas e as incertezas eleitorais levaram as empresas a acelerar o refinanciamento da dívida, e já observamos um mês de novembro mais fraco. Ainda assim, acreditamos que a menor participação do BNDES nos últimos anos também pode explicar esse bom momento do setor", diz trecho do relatório sobre as perspectivas do mercado de financiamento corporativo no Brasil.
Os analistas do JP Morgan frisam que a participação do BNDES nos empréstimos comerciais caiu de 37% em 2015 para 18% em 2022. O espaço foi ocupado por bancos privados. "Notavelmente, os bancos privados passaram de 43% de participação em 2016 para 57% de participação de mercado hoje em empréstimos atuais", diz o documento.
DE ONDE VEM O DINHEIRO DO BNDES: Sob Dilma, o BNDES conseguiu tocar uma política expansionista porque conseguia dinheiro fácil de fontes como o Tesouro Nacional, Fundo do Amparo ao Trabalhador, o Fundo da Marinha Mercante ou financiamento externo. Isso permitia que o banco emprestasse dinheiro com taxas inferiores à da Selic (o juro básico da economia).
Os instrumentos disponíveis no banco para Mercadante retomar uma política expansionista são, por ora, muito mais restritos. As mesmas fontes de recursos públicos continuam existindo, mas o dinheiro está mais difícil, principalmente no Tesouro.
Com algum esforço, o novo governo ganhou uma autorização de um ano para gastar acima do teto para cumprir promessas de campanha como os R$ 600 para o novo Bolsa Família e ainda não foi definida qual será a nova regra para disciplinar os gastos públicos daqui para frente.
Nos últimos dias, Mercadante tem tentado desfazer a má impressão com o anúncio de seu nome para o banco. O petista tem se encontrado com gestores de fundos, banqueiros e representantes da indústria para falar de seus planos.
Ele anunciou alguns nomes egressos do mercado que pretende incorporar à sua equipe, como Natalia Dias (Standard Bank Brasil), Luciana Costa (Natixis, um banco de investimentos francês) e José Luis Gordon (Embrapii, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).
UMA ANEDOTA: Em outubro de 2015, Dilma Rousseff ainda estava no poder, não se falava em impeachment e a política dos campeões nacionais ainda entregava dinheiro do contribuinte para grandes empresários.
Naquele mês, Joesley Batista foi recebido com uma provocação em um evento da revista The Economist, em São Paulo. "Muitas pessoas no mercado chamam a JBS de JBNDES...", estocou o jornalista da publicação britânica, antes de formular a primeira pergunta.
Joesley não escondeu o dissabor com a insinuação de que sua empresa só crescia por causa das boas relações com o PT.
Se alguém tivesse escorregado no corredor do hotel Grand Hyatt (onde ocorreu aquele evento), batido a cabeça e acordado do coma somente em dezembro de 2022, teria levado um susto.
Dilma não completou o mandato, Joesley fechou um acordo de delação premiada, grampeou uma conversa com o sucessor da petista, Michel Temer, e acabou preso. Bolsonaro ganhou a eleição de 2018 e se tornou o primeiro presidente a perder a reeleição. Lula foi preso, solto e foi eleito para um terceiro mandato.
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