Graciliano Rocha

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Ex-CEO das Americanas diz que gestão atual tenta proteger trio controlador

Em depoimento por escrito à CPI das Americanas, o ex-CEO da companhia Miguel Gutierrez chamou de "mentirosa" a versão da atual gestão da companhia segundo a qual os antigos diretores teriam enganado o conselho de administração e os acionistas para ocultar o rombo bilionário que levou a varejista à lona.

No texto de 17 páginas, Gutierrez acusa a nova gestão de sustentar uma versão para afastar as investigações do trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e, o mais ligado às Americanas, Beto Sicupira, desde a revelação do rombo em janeiro.

"Em definitivo, então, a acusação contra mim formulada pelas Americanas, além de falsa, é claramente enviesada, produzida com o objetivo de induzir o mercado e as autoridades investigativas a erro. Confio, assim, que esta CPI não se deixará enganar por esta clara manobra das Americanas para proteger seus acionistas controladores", escreveu o ex-executivo.

Gutierrez está no exterior, realizando um tratamento para uma doença renal, segundo o atestado médico que enviou à CPI. Ele afirmou que, depois que foi noticiado que ele não ficaria em silêncio se depusesse à CPI, ele passou a ser seguido.

Desde janeiro, a empresa está em recuperação judicial com mais de R$ 40 bilhões em dívidas declaradas, além de outros quase R$ 7 bilhões em debêntures. A Justiça do Rio homologou no mês passado os acordos de delação premiada do ex-diretor financeiro Marcelo Nunes e da ex-superintendente Flavia Carneiro.

"Nas últimas semanas, após ser veiculada a notícia de que me prontificara a depor abertamente perante essa CPI, passei a ser constantemente seguido nas ruas - fato que já ocorria esporadicamente no Brasil e que recentemente se tornou ininterrupto, fazendo-me temer por minha integridade", disse, sem oferecer outros detalhes sobre o assunto.

Se não for prorrrogada, a CPI deve chegar ao final em 12 de setembro. O relator, Carlos Chiodini (MDB-SC), entregou seu relatório final dos trabalhos da comissão nesta segunda-feira (4). O documento diz que houve fraude contábil na empresa e afirma que ex-diretores e ex-executivos da empresa podem estar envolvidos, mas não aponta nenhum responsável.

"No dia 11/01/2023, a Americanas publicou fato relevante informando ter descoberto 'inconsistências contábeis' e informando que teria constituído 'comitê independente' para investigar esse fato. Inicialmente, a Americanas tentou incluir, como membros do comitê independente, uma sujeita que integrava o comitê de auditoria e um sujeito da KPMG, que havia auditado as contas da companhia no passado recente", escreveu o ex-executivo.

"Diante de pressão dos credores, que obviamente viram naquelas indicações uma clara tentativa de afastar as investigações do comitê de auditoria (e, portanto, do conselho de administração e dos controladores), aqueles dois nomes foram trocados", continua.

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A palavra "fraude" só substituiu o eufemismo "inconsistências contábeis" em 13 de junho deste ano quando o atual presidente, Leonardo Pereira, foi depor na CPI. No mesmo dia, a companhia publicou um fato culpando os antigos diretores pelo rombo. Para Gutierrez, o movimento do atual presidente teve "claro objetivo de proteger o conselho de administração (que se mantém inalterado) e os acionistas controladores".

O UOL ainda não conseguiu contato com representantes das Americanas e do trio Lemann-Telles-Sicupira para comentar as acusações de Gutierrez. Tão logo, eles emitam comentários, essa reportagem será atualizada.

Acionistas chamam Gutierrez de "malfeitor"

Em nota assinada pela empresa LTS Investments (acrônimo de Lemann, Telles e Sicupira), os acionistas de referência dizem que o ex-CEO das Americanas Miguel Gutierreznão traz "qualquer prova de suas alegações" ou "refutam evidências de sua participação na fraude".

"As ilações de uma pessoa que deixou o país depois de ter tido um requerimento de participação à CPI aprovado não têm coerência com os fatos até agora expostos pelas autoridades, tampouco nenhuma prova apresentada pela companhia há três meses foi questionada até o presente momento", diz o texto.

E prosseguem: "Os acionistas de referência sempre atuaram com o máximo de zelo e ética sobre a companhia, observando rigorosamente as normas e a legislação aplicável. Ainda assim, todos os acionistas da Americanas foram enganados por uma fraude ardilosa cujos malfeitores serão responsabilizados pelas autoridades competentes."

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Americanas refutam versão de ex-CEO

Em nota, as Americanas "refutam veementemente as argumentações apresentadas pelo senhor Miguel Gutierrez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na véspera da apresentação do relatório final."

Segundo as Americanas, o ex-dirigente da Americanas não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à Comissão no dia 13 de junho, que demonstram a sua participação na fraude.

"A Americanas reitera que o relatório apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito em 13/06, baseado em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela Administração e seus assessores jurídicos, indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez", diz trecho da nota.

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