Graciliano Rocha

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Reportagem

A costura política entre mercado e governo para escolha do novo CEO da Vale

A escolha do atual vice-presidente de finanças Gustavo Pimenta para presidir a Vale, segunda maior mineradora do mundo, é o ponto final de um processo conturbado que incluiu tentativas de interferência política. Quando assumir em janeiro, Pimenta vai substituir Eduardo Bartolomeo, que estava no cargo desde abril de 2019, após a tragédia de Brumadinho.

Ao ser escolhido o novo CEO por unanimidade, Pimenta superou outros 14 candidatos externos apresentados por uma consultoria e obteve apoio tanto de conselheiros ligados ao mercado quanto dos indicados por fundos de pensão - sobre quem o governo federal teria influência. Lula inicialmente queria o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) no posto, mas enfrentou resistência e não conseguiu emplacá-lo.

Agora, nos bastidores, pesou a habilidade política atribuída a Pimenta, que conseguiu apoio tanto dos representantes de investidores privados como do ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia). Silveira, que é do PSD, é hoje um dos ministros com maior influência junto a Lula.

O consenso da escolha de Pimenta será testado na agenda de curto prazo do novo presidente, igualmente tumultuada, que deve opor interesses dos investidores aos do atual governo:

  • No campo corporativo, a empresa tem sido castigada pela queda do preço do minério de ferro na cena internacional, em virtude da menor demanda da China por aço.
  • Caberá provavelmente ao novo CEO a conclusão das negociações, ainda em aberto, do acordo para reparação de infraestrutura e compensações em virtude do rompimento da barragem de Mariana, em 2015, que deixou 19 mortos. Em junho, a Vale confirmou proposta de pagamento, em 20 anos, de R$ 140 bilhões à União, aos estados atingidos (MG e ES) e outras entidades. Governo federal resiste.
  • Um impasse é o das ferrovias usadas pela Vale para escoar minério do Pará (Carajás) e Minas (Vitória Minas). O governo federal quer a revisão da antecipação da concessão de 30 anos, fechada em 2020.

A escolha do novo presidente foi bem recebida no mercado. Por volta das 12h30 desta terça (27), a ação da mineradora subia 3% na B3.

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