Entenda a briga dos donos de EMS e Hypera, gigantes do setor farmacêutico
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Uma disputa bilionária entre duas das maiores farmacêuticas do Brasil — EMS e Hypera — movimenta os bastidores do mercado e chama a atenção de investidores, reguladores e especialistas em governança corporativa. No centro da briga, está a tentativa do controlador da EMS, Carlos Sanchez, de emplacar aliados no conselho de administração da Hypera, sua principal concorrente no país.
Em essência, o que está em jogo é o controle da Hypera, uma empresa que se tornou uma gigante do setor através de uma estratégia agressiva de aquisições e cujo preço de mercado supera os R$ 12 bilhões hoje.
Como começou
Em outubro do ano passado, quando Sanchez apresentou uma proposta de fusão entre as duas companhias, com uma oferta pública de aquisição (OPA) atribuindo prêmio de 39% sobre as ações da Hypera. Isto é, ele ofereceu comprar todas as ações da Hypera, a um preço de R$ 30 por ação. Naquele mês a cotação do papel variou entre R$ 25 e R$ 27.
A proposta foi sumariamente rejeitada por João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, fundador e principal acionista da Hypera. Desde então, o que se desenrola é uma batalha societária por espaço no conselho e poder de influência na empresa rival.
Sanchez, que detém hoje entre 6% e 8% da Hypera, tem feito articulações intensas para conquistar até três cadeiras no board da farmacêutica, incluindo a indicação de Lírio Parisotto — um nome de peso no mercado financeiro e, sobretudo, amigo íntimo do dono da EMS
Vinhos, barco e conflito
A proximidade entre Sanchez e Parisotto extrapola o ambiente de negócios. Segundo o Brazil Journal, os dois mantêm sociedade em adegas de vinho e até em um barco, além de Parisotto gerir parte dos investimentos pessoais do empresário
A relação é tão próxima que levantou questionamentos sobre eventual impedimento de Parisotto assumir uma cadeira no conselho da Hypera — especialmente pelo risco de compartilhamento de informações sensíveis entre competidores diretos.
Nova aliança e contra-ataque
Ciente do avanço da EMS, Júnior contra-atacou ampliando sua fatia acionária. O fundador firmou acordo com a mexicana Maiorem e trouxe a Votorantim para o bloco de controle. Hoje, esse grupo concentra cerca de 54% do capital da companhia e já costurou uma nova chapa para a eleição do conselho, incluindo a volta de Júnior ao colegiado depois de sete anos afastado
A estratégia é evitar que o maior concorrente da companhia tenha qualquer influência em decisões estratégicas da Hypera.
Indicações para o conselho
O novo capítulo da disputa veio à tona às 14h19 de hoje quando a Hypera comunicou ao mercado que o fundo Geração L. PAR, ligado a Lírio Parisotto protocolou a indicação de três nomes ao conselho da Hypera para concorrerem por meio do mecanismo de voto múltiplo.
Além do próprio Parisotto, também acionista minoritário da empresa, também foram indicados o advogado e conselheiro Marcelo Gasparino e a executiva Rachel Maia.
A iniciativa partiu do fundo, mas é interpretada no mercado como uma tentativa de Sanchez de influenciar o conselho da rival após a rejeição da proposta de fusão feita em 2024.
A Hypera reagiu. Em comunicado ao mercado, a companhia afirmou que os três indicados não passaram pela análise do atual conselho, invocando previsão de "práticas de governança interna". A empresa reiterou a recomendação para que os acionistas apoiem os nomes apresentados pela administração original.
O comunicado foi assinado pelo diretor financeiro e de relações com investidores da Hypera, Ramon Sanches Frutuoso Silva.
A assembleia geral está marcada para o próximo 25 de abril.
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