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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PIB avança com consumo forte e riscos de desaceleração no fim do ano

01/09/2022 17h00

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O consumo das famílias cresceu 2,6% no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano, puxando o PIB (Produto Interno Bruto) para uma expansão de 1,2% entre abril e junho, acima do resultado acumulado de janeiro a março. Avanço do consumo nessa intensidade, descontada a recuperação atípica de 2021, pós-pico da primeira onda da pandemia, não era visível na economia brasileira há dez anos.

Resultados positivos e melhores do que as previsões, no segundo trimestre, devem promover revisões para cima nas projeções do crescimento da economia em 2022. De uma expectativa de crescimento em torno de 2% antes dos números divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (1), as estimativas devem subir para 2,5%, em linha com as estimativas do governo, já havendo previsões de alta de 3% para o PIB do ano.

Absorvendo mais de 60% da produção de bens e serviços da economia, o consumo cresceu forte — a taxa anualizada vai a mais de 10% —, impulsionado pelos programas de transferência e antecipação de renda, mas não só. Investimentos dos estados em obras, numa combinação de ano eleitoral com cofres públicos cheios, e alta nos preços das commodities que o Brasil exporta, elevou o emprego e encorpou a massa salarial.

A expansão mais intensa do consumo teve como reflexo, no lado da produção, crescimento também forte nos serviços, sobretudo os serviços prestados às famílias — educação, saúde, cuidados pessoais, alimentação fora do domicílio etc. O avanço nesses segmentos, no qual se encontram 30% dos trabalhadores ocupados, também em função da retomada de atividades presenciais, com o controle da pandemia, também foi forte, podendo chegar a 10% no conjunto de 2022.

Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores, uma das mais influentes do mercado, e pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), chama também a atenção para o elevado ritmo da atividade na construção civil. Na sua avaliação, a construção civil deve crescer em torno de 7,5% em 2022, bem acima da economia como um todo. "A construção civil representa metade do investimento na economia e tem influência direta nos níveis de emprego", lembra Borges.

Outro setor que, segundo o economista, mostra perspectivas de crescimento acima de 10% em 2022 é o de serviços de utilidade pública, que reúne segmentos como os de energia elétrica, saneamento e gás encanado. Depois da forte seca da primeira metade de 2021, de outubro do ano passado a abril deste ano, choveu acima da média histórica, deixando para trás dez anos de chuvas abaixo da média histórica. "Isso alavancou a energia hidrelétrica, mais barata, impulsionado a produção", explica Borges.

Uma parte do crescimento no primeiro semestre se deve, porém, a estímulos temporários, que já se esgotaram, como a permissão extraordinária para saques no FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), ou, pelo menos até aqui, deixarão de ser concedidos em dezembro. Aliado a uma série de outros fatores, a retirada de estímulos, permite prever uma tendência de desaceleração do crescimento para a economia em 2023.

Ao lado dos efeitos da política de juros, que ainda não se apresentaram na plenitude, da previsão de queda nos preços das commodities exportadas e da prevista desaceleração da economia chinesa, é possível adicionar as incertezas em relação às contas públicas em 2023. O governo está deixando um passivo estimado em mais de R$ 400 bilhões, perto de 5% do PIB, para ser equacionado no ano que vem. "Esse é um fator de incertezas que afeta o investimento e até mesmo o consumo, no caso da compra de bens de maior valor", afirma Bráulio Borges.

Antes dos resultados da atividade econômica no segundo trimestre, as projeções para o crescimento do PIB em 2023 estavam abaixo de 0,5%. A tendência dos analistas não é de revisar essa projeção, pelo menos imediatamente. De um lado, há impulso que pode transbordar de um maior crescimento em 2022 para 2023, apesar da desaceleração prevista para o terceiro trimestre e, principalmente, no último trimestre do ano, permitindo prever expansão mais robusta. De outro, contudo, uma base de comparação mais forte, indicaria avanço menor do PIB no ano que vem.