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Avaliação da S&P sobre Brasil é sinal de confiança, mas com um pé atrás
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A onda de otimismo do momento com a economia brasileira ganhou um reforço nesta quarta-feira (14) com o anúncio de uma pequena melhora na nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco S&P Global. Sem mexer na classificação atual, que continua como "grau especulativo" para investimentos, a classificadora alterou a perspectiva da nota brasileira de "estável" para "positiva". Foi o primeiro movimento desde 2019.
Uma tentativa de traduzir o significado do movimento da S&P poderia ser resumida na ideia de que se tratou de um sinal de confiança nos rumos da economia brasileira, mas com um pé atrás. Os mais conhecidos indicadores de "risco-país", como o CDS (Credit Default Swap), de 10 anos, e o Embi+ estão no ponto mais baixo em um ano, mas ainda perto do dobro do ponto em que estavam em 2010, último ano do segundo mandato de Lula.
Governo comemora, analistas ressalvam
No comunicado em que justifica o pequeno avanço na nota de crédito, a agência registra que dependendo dos resultados, em termos de crescimento econômico, das políticas adotadas, a classificação brasileira poderá retroceder para "estável" ou avançar para um nível mais próximo do grau de investimento. Seguindo a praxe de revisar as classificações de empresas depois da revisão da nota do país, nesta quinta-feira (15), a S&P ajustou as classificações de 13 empresas brasileiras, incluindo a Petrobras, de "neutro" para "positivo".
Comemorações naturais no governo, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, elogiando a "harmonia entre os Poderes" e aproveitando para ressalvar a não cooperação do Banco Central, fazem parte do roteiro acionado pela decisão algo inesperada da S&P.
Para a maioria dos analistas do mercado financeiro, a notícia é boa, mas não pode ser confundida com uma "validação" da política econômica do governo Lula. Reflete a expectativa de que o arcabouço fiscal, ao ser aprovado e posto em prática, dê previsibilidade aos gastos públicos, ainda que possa não ser suficiente para estabilizar a dívida pública.
Foco da classificação são as dívidas
É preciso entender o papel das agências de classificação. Elas existem para que investidores e gestores de investimento terceirizem a análise de risco de calote dos recursos aplicados. A função das agências é projetar esses riscos e classificá-los.
As classificações derivam da análise da composição das dívidas — do país ou de empresas —, sua administração e, principalmente, projeções de sua trajetória futura. Nível de bem-estar social, desigualdades de renda e outros indicadores sociais não estão entre os fatores mais relevantes levados em consideração na formação das classificações estabelecidas pelas agências. Também não se pode esquecer que as agências falham em suas avaliações, como ocorreu às vésperas da grande crise de 2008, quando bancos e empresas, tidos pelas classificadoras como seguros, quebraram.
As notas conferidas pelas agências de classificação de risco conferem uma espécie de selo de qualidade sobre as condições econômicas de um país ou de uma empresa, que orienta investidores e, principalmente, gestores de investimento, nas aplicações de recursos. As classificações ("ratings") buscam indicar o risco de calotes do investimento em países ou em empresas.
Em âmbito global, a S&P forma, ao lado das agências Moody's e Fitch, o trio líder do mercado de classificação de risco. A S&P, historicamente, é a primeira a anunciar alterações, positivas ou negativas, de "ratings" de países. Assim, é de se esperar que Moody's e Fitch sigam em breve pela mesma trilha.
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