José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Dados de agosto sinalizam queda do PIB no 3º tri e furam onda de otimismo

A freada na atividade econômica em agosto foi mais forte do que o projetado pelos analistas. O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), apurado mensalmente pelo Banco Central, com base no desempenho dos grandes setores da economia, divulgado nesta sexta-feira (20), recuou 0,8% em relação a julho, contra queda de 0,3% das previsões, devolvendo metade do avanço de 0,42% em julho.

Projeções que já incorporam o IBC-Br de agosto apontam retrocesso entre 0,3% e 0,5%, na atividade econômica entre julho e setembro. A constatação é que a economia perde ritmo desde o avanço surpreendente do primeiro trimestre.

Cenário de acomodação do crescimento

Com a perspectiva de queda no terceiro trimestre, a subestimação da expansão PIB (Produto Interno Bruto), no começo do ano, que derivou para surpresas com o crescimento acima do previsto, no primeiro semestre e, em seguida, para uma onda de otimismo no restante de 2023, pode agora furar essa onda e encontrar um caminho mais comedido e realista.

No acumulado em 12 meses, o IBC-Br desce a ladeira desde abril — de expansão de 3,7% para crescimento de 2,8%. A média móvel trimestral do IBC-Br ficou estável, indicando acomodação depois da expansão no primeiro semestre.

Para o ano como um todo, o IBC-Br de agosto sinaliza crescimento de 2,7%. No relatório Focus mais recente, divulgado na segunda-feira (16), mostra mediana das projeções de crescimento de 2,9%, em 2023, já estacionada neste nível há três semanas. Analistas de prestígio, contudo, ainda mantêm expectativa de que a economia cresça 3% no ano, mas o viés agora é de ligeira baixa.

Corte nos juros básicos ganha reforço

Do ponto de vista da política de juros, a freada de agosto, antecipando o retrocesso da atividade no terceiro trimestre, reforça a perspectiva de corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica (taxa Selic), para 12,25% nominais ao ano, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no primeiro dia de novembro. Dependendo da evolução da atividade no último trimestre do ano, a hipótese de um corte acima de 0,5 ponto, em meados de dezembro, pode voltar ao radar.

Exceto a indústria, que registrou expansão de 0,5% no mês, os demais setores tiveram queda, na comparação com julho. Serviços mostrou quedas disseminadas, chamando a atenção a fraqueza no segmento de transporte de cargas. O comércio também andou para trás, principalmente no conceito ampliado, que inclui venda de veículos e materiais de construção, e o mesmo ocorreu com agropecuária.

Condições financeiras ainda limitadoras

Já sem os transbordamentos dos choques positivos da produção agropecuária no primeiro trimestre, e da extrativa mineral — petróleo e minério de ferro —, no período abril-junho, a economia ainda sente as limitações das condições financeiras, impostas pelas taxas de juro elevadas, cujo alívio só deve ocorrer a partir de meados de 2024.

Continua após a publicidade

Para driblar a estagnação, a atividade econômica dependeria de novos estímulos que possam vir de iniciativas do governo, depois da acomodação dos efeitos positivos da retomada de programas de transferência de renda e de valorização do salário mínimo. Seria o caso, por exemplo, de o Programa Desenrola deslanchar em ritmo mais acelerado, destravando orçamentos domésticos, e também de um aumento no ritmo dos investimentos em obras públicas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes