José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Freada do PIB é forte no 3º tri, e sinais são de estagnação no fim do ano

A atividade econômica voltou a surpreender os economistas e avançou 0,1%, no terceiro trimestre de 2023, na comparação com o segundo trimestre, como divulgou o IBGE nesta terça-feira (5). A surpresa foi pequena, uma vez que uma boa parte dos analistas previa queda de 0,2%.

Não houve surpresa, porém, na avaliação de que a economia continua perdendo impulso, registrando desaceleração no ritmo de crescimento desde abril. A freada é evidente e forte, conduzindo para um quadro de estagnação no fim deste ano.

Atividade desce a ladeira

As taxas anualizadas de crescimento — ou seja, aquelas que indicam quanto teria sido a expansão da atividade econômica se a variação do trimestre se repetisse nos demais trimestres do ano — dão uma ideia clara da descida da ladeira. No primeiro trimestre a expansão se deu a uma taxa anualizada de 8%, daí desceu para 3,6%, no segundo trimestre, e bateu em avanço modesto de 0,4%, agora no terceiro.

Para o quarto trimestre, as projeções apontam outro período de estabilidade, em relação ao terceiro trimestre, com ligeiro viés de baixa. Se ocorrer a estabilidade prevista, o transbordamento das variações do PIB (Produto Interno Bruto), nos três primeiros trimestres, garantirá crescimento econômico de 3%, em 2023 — a estimativa atual do governo é de um crescimento de 3,2%.

Caso, contudo, a economia recue, mesmo que pouco, nos últimos três meses do ano, como estimam alguns economistas, o PIB de 2023 avançaria entre 2,5% e 2,7%. Uma boa diferença, de todo modo, diante do 0,8% de expansão, previsto no começo do ano.

Impulso nulo para 2024

Mesmo que a economia não sofra retrocesso no último trimestre, a herança estatística para o crescimento em 2024 será nula. As projeções atuais apontam continuidade da perda de ritmo da economia, com o PIB avançando não mais de 2%, no ano que vem.

Uma das explicações para as novas e pequenas surpresas positivas, no terceiro trimestre, tem origem nas revisões nos resultados do PIB de 2022 e dos primeiros dois trimestres de 2023, tradicionalmente efetuadas pelo IBGE, juntamente com a divulgação dos dados da atividade, no período julho-setembro. O PIB de 2022, por exemplo, depois da revisão subiu ligeiramente de 2,9% para 3%.

Já nos dois primeiros trimestres de 2023, a agropecuária avançou ainda mais do que a expansão excepcional anteriormente divulgada. O crescimento atualizado do setor, no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano anterior, subiu de 18,8% para 22,9%, e de 17% para 20,9%, no segundo trimestre. Simplificadamente, foi o garantiu o crescimento mais razoável de 2023.

Continua após a publicidade

Os serviços também cresceram um pouco mais, na revisão do primeiro semestre, assim como o próprio PIB, que progrediu 4,2% — e não 4% —, sobre o primeiro trimestre de 2022, registrando avanço de 3,5% — contra 3,4% na divulgação anterior —, no segundo trimestre.

Consumo puxa para cima, investimento, para baixo

No retrato específico do terceiro trimestre deste ano, observa-se que o consumo das famílias e o setor externo — com alta robusta das exportações e recuo nas importações — puxaram o PIB para cima. O investimento, representado pela formação bruta de capital fixo, puxou para baixo. O resultado desse puxa-estica foi de virtual estagnação econômica, entre julho e setembro.

Parte da expansão do consumo, no período, pode ser creditada à queda da inflação, principalmente de alimentos, que aliviou o orçamento das pessoas, com ênfase na ampla população de menor renda. A manutenção da massa salarial em níveis positivos também contribuiu para o razoável impulso no consumo, assim como os gastos do governo com programas sociais e diversos projetos de renegociação de dívidas do tipo Desenrola.

Esses impulsos, porém, dão sinais de esgotamento. Restarão para 2024 os efeitos defasados da redução das taxas de juros, nos investimentos e no crédito em geral. No terceiro trimestre, a taxa de investimento ficou em 16,6% do PIB, recuo importante diante dos 18,3% registrados no terceiro trimestre de 2022, enquanto a taxa de poupança também retrocedeu, no terceiro trimestre, sobre o mesmo período do ano passado, de 16,3% do PIB para 15,7% do PIB.

Há expectativas de que o investimento apresente alguma recuperação no ano que vem, mas apenas porque a base de comparação é muito baixa. A taxa de investimento, ao lado da taxa de poupança, estão entre os principais indicadores do crescimento futuro da economia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes