José Paulo Kupfer

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Copom resistiu a acelerar cortes nos juros, mas sinais são de que vai ceder

Em que ponto a taxa básica de juros (taxa Selic) vai parar, no fim de 2024? Essa é a pergunta que o Copom (Comitê de Política Monetária) deixou para os analistas responderem, depois de cortar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, por unanimidade, na reunião desta quarta-feira (13), para 11,75% nominais ao ano.

No mercado, o pessoal que tem experiência na interpretação das mensagens cifradas do Copom entendeu que os cortes continuarão no ritmo de 0,5 ponto, pelo menos nas reuniões de janeiro e março de 2024. Assim, em março, nada mudando, a Selic estaria em 10,75%.

Intervalo das divergências é pequeno

Daí para a frente é que não existe mais consenso, embora o intervalo das divergências seja pequeno, e o viés, depois do Copom de dezembro, seja de baixa. Um estudo de economistas do BNDES delimitou esse intervalo entre taxas básicas nominais de 8,75% a 10%, em fins de 2024. No Boletim Focus desta segunda-feira (12), a previsão é de que a Selic feche o ano que vem em 9,25%.

Essas estimativas se apoiam na expectativa de que o Copom mantenha política de juros restritiva, limitando a oferta de dinheiro, até que se complete a convergência da inflação para o centro da meta. Uma Selic na previsão mais otimista, de 8,75%, implica em juros um ponto acima da taxa nominal de equilíbrio, se a inflação estivesse na meta, em 3%, no fim de 2024, ainda, portanto, contracionista.

Juros afetam dinâmica econômica

Não há dúvida da importância da fixação da taxa básica de juros para a dinâmica da atividade econômica. Uma política de juros restritiva, como a exercida no momento pelo Banco Central, reduz a oferta de crédito, aumenta o custo do dinheiro e desestimula tanto decisões de investimento das empresas quanto as de consumo pelas pessoas. Afeta, negativamente, o ritmo de crescimento.

Enquanto a Selic, taxa de referência do mercado, e a mais baixa entre todas as modalidades oferecidas, ainda roda perto de 12% ao ano, os juros dos empréstimos a empresas e pessoas ficam em outro patamar, bem mais elevado. A taxa de juros média, no mercado livre, para pessoas físicas, por exemplo, está em 55% ao ano, o que expressa um custo mensal de 4,5%.

Essa é a taxa média para o crédito pessoal, havendo financiamentos a custos muito mais elevados, sem falar no rotativo do cartão de crédito, que cobra taxas escorchantes. Comparado com uma inflação de 0,5% ao mês, uma taxa mensal média de 4,5% é ainda muito alta.

Controle das contas públicas no foco

Não só na visão do mercado financeiro, mas também nos termos do comunicado da reunião do Copom de dezembro, o fator que pode acelerar os cortes na taxa básica de juros é a política fiscal. Para os analistas, e membros do Copom, a política de juros teria espaço para acelerar o passo, depois de março, em sintonia com avanços na execução da política de controle das contas públicas.

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Na avaliação do professor e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em relatório a clientes, o comunicado divulgado pelo Copom, no encerramento da reunião de dezembro, repetiu, basicamente, o anterior, mas trouxe novidades. As novidades vão na linha de considerar que a inflação caminha para a meta, um sinal de que reduções na Selic podem vir mais rápidas.

"Os diretores do Banco Central, que compõem o colegiado, destacam que a inflação corrente não é incompatível com o cumprimento da meta, e reconhecem a convergência dos núcleos de inflação para a meta", observa Gonçalves. Os núcleos são o coração da inflação, pois descartam mudanças inesperadas ou sazonais nos preços.

BC americano aponta para cortes

A percepção dos analistas de que o Copom possa acelerar o ritmo de cortes nos juros básicos, em algum momento do ano que vem, não se prende apenas aos termos do comunicado. Vem também da decisão do Fed (Federal Reserve, banco central americano), que, na mesma quarta-feira manteve os juros de referência na economia americana inalterados, mas indicou que pode começar um ciclo de cortes.

Manter um diferencial entre a taxa básica americana e a Selic, capaz de pelo menos não desestimular aplicações de investidores estrangeiros no mercado brasileiro, é um dos critérios usados pelo Copom, para calibrar os juros básicos domésticos. A decisão americana foi "dovish" — ou seja branda, com tendência para aliviar o controle do dinheiro — e, segundo analistas, fez com que o comunicado do Copom ficasse "datado" ou "defasado", já ao ser divulgado.

Depois dessa avaliação, as previsões de que a taxa Selic ficará abaixo de 10% ao ano, e talvez perto de 9%, no fim de 2024, ganharam fôlego.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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