José Paulo Kupfer

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Opinião

Salto da inflação foi pontual; taxa de fevereiro pode ser mais alta do ano

A inflação de fevereiro, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), se consideradas as informações disponíveis, foi um ponto fora da curva. De acordo com projeções, o avanço mensal de 0,83% pode ter sido o mais alto do ano.

Apesar do salto em relação a janeiro, quando a alta foi de 0,42%, a trajetória prevista para 2024 é benigna. Com base nas indicações do IPCA de fevereiro, analistas não veem razão para o Copom (Comitê de Política Monetária) alterar as indicações de continuidade de redução da taxa básica de juros (taxa Selic), ao ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião, até encerrar o ciclo de cortes em torno de 9%, como aponta a mediana das projeções do Boletim Focus.

O que vem pela frente?

Para março, as previsões são de inflação em torno de 0,2%, nível de variação que pode se repetir, mês a mês, até o fim de 2024, com exceção de abril, maio e dezembro. Nestes meses, a inflação mensal avançaria nas vizinhanças entre 0,3% e 0,4%. As projeções são do economista Fabio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da LCA Consultores.

"De acordo com nossas coletas de preços, alimentação vai perder força em março, assim como os serviços, que estavam assustando, já vieram menos pressionados em fevereiro. Tudo considerado, a composição do IPCA sinaliza uma perspectiva mais bem comportada para a inflação nos próximos meses". Fabio Romão, economista da LCA Consultores

Se esse ritmo de alta for confirmado, a inflação fecharia 2024 em 4% ou ligeiramente abaixo, dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, que varia de 1,5% a 4,5%, mas ainda acima do centro da meta, fixado em 3%. Em fevereiro, no acumulado em 12 meses, a variação do IPCA foi de 4,5%, praticamente repetindo o resultado de janeiro.

Com base nas projeções, a marcha da inflação, ao longo de 2024, no acumulado em 12 meses, recuaria até pouco acima de 3,5%, em abril, subindo, de maio a julho, a 4%. No segundo semestre, a alta dos preços voltaria a arrefecer, em 12 meses.

Preços de alimentos e serviços em acomodação

A inflação de fevereiro, que ficou ligeiramente acima das expectativas, foi puxada, como ocorre sempre neste mês, pelo grupo Educação. Mas também houve altas acima das esperadas em alimentação fora do domicílio e combustíveis — estes com preços sob pressão de aumentos em tributos estaduais.

Embora a média dos núcleos de inflação — medida de alta de preços que exclui elementos sazonais ou imprevistos — tenha subido um pouco, o índice de difusão — que registra quantos bens e serviços nos quase 400 que compõem o IPCA subiram de preço no mês — veio abaixo de janeiro e abaixo também da média histórica.

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Houve recuo na inflação dos chamados "serviços subjacentes" — uma espécie de "núcleo" do segmento de serviços, que exclui preços mais voláteis, como os das passagens aéreas. Trata-se, segundo analistas, de sinal importante de que a pressão de demanda, com origem no aquecimento do mercado de trabalho e da massa salarial, tende a uma acomodação. A inflação dos serviços, no atual momento, é uma das preocupações do Copom, na determinação da taxa Selic.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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