José Paulo Kupfer

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Opinião

Erro do Copom rachado de maio se reflete na decisão dúbia de julho

Não era difícil imaginar que o comunicado, resumindo os pontos que levaram à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa básica de juros (taxa Selic) em 10,5% nominais ao ano, na reunião desta quarta-feira (31), produziria avaliações negativas entre os operadores de mercado.

A falta, no texto, de uma direção mais clara da visão do colegiado que reúne os diretores do Banco Central sobre os próximos passos da política de juros será interpretada por muitos como uma espécie de passada de pano na piora evidente das trajetórias projetadas de inflação daqui até pelo menos fins de 2025.

Projeções indicam que a inflação bordejará, mês a mês, o teto de intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%, até novembro, só caindo para as vizinhanças de 4,2% no fechamento do ano. Mas, em julho, o Copom estendeu o "horizonte relevante" para a convergência da inflação à meta até o primeiro trimestre de 2026, quando projeta alta de preços pouco acima de 3,5%, mais perto do centro da meta, de 3%. Até lá, as projeções do próprio Copom são de altas na inflação.

Por duas vezes, no comunicado, o Copom registra estar "vigilante" diante das oscilações da taxa de câmbio, que afetam as expectativas de inflação. No idioma do Copom — o "coponês" —, a palavra indica a perspectiva de que o colegiado tenha de aumentar os juros básicos para retomar a convergência da inflação para a meta.

É uma indicação de que o quadro econômico que leva a pressões sobre a inflação se agravou, principalmente porque as cotações do dólar se acomodaram em patamar mais alto desde a reunião do Copom em junho. Como não houve, porém, sinalização mais firme nesta direção, restou a possivelmente interpretação de que há limitações políticas para sustentar uma decisão de elevar a Selic antes do fim do ano.

Comunicado dúbio

O viés meio dúbio do comunicado reflete o erro cometido na reunião do Copom de maio, quando ocorreu um racha no Copom, e a maioria de cinco diretores, seguindo a posição do presidente do BC, Roberto Campos Neto, optou por cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, enquanto os outros quatro, justamente os indicados já no governo Lula, preferiam reduzir a taxa em 0,5 ponto, preservando a orientação sinalizada nas decisões anteriores do colegiado.

As suspeitas de que a virada ocorrida em maio tumultuaria a condução da política monetária agora se confirmam, com a perda de margens de manobra na tarefa de fazer a inflação convergir para o centro da meta, fixada para 2024 e, continuamente, a partir de 2025, para 3% anualizados.

Ao manter, em maio, um pouco mais alta a taxa básica, o Copom reduziu, desde então, o espaço para retomadas de altas nos juros básicos, mesmo que necessários, diante de uma piora nos fatores relevantes na determinação da inflação. Com a substituição do presidente do BC no fim do ano, esse espaço ficou ainda menor, até pelo menos a indicação do substituto de Campos Neto.

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Prova dos erros

Nomeado por Jair Bolsonaro, logo no início de seu governo, Campos Neto errou na entrada e na saída. Na entrada, o erro foi reduzir demais a taxa Selic. Na saída, em 2024, foi mudar, inesperadamente, fora da comunicação institucional do BC, a orientação sobre os próximos passos da política de juros, com as consequências negativas com as quais o Copom se vê agora.

Campos Neto pegou a taxa básica em 6,5%, em fevereiro de 2019, e a cortou para 4,25%, em fevereiro de 2020, antes da pandemia de Covid-19. Com a pandemia, derrubou a Selic para 2%, em agosto de 2020, mantendo-a até março de 2021.

A partir daí, comprovando o corte excessivo, deu início a uma escalada acelerada de altas da taxa básica, com elevações incomuns de 1 ponto percentual, ou mesmo 1,5 ponto, reunião após reunião do Copom, até alcançar 13,75%, em agosto de 2022. A Selic foi mantida nesse nível alto até junho de 2023, quando teve início a série de cortes de 0,5 ponto que levou a taxa aos atuais 10,5%.

Escaladas aceleradas de taxas Selic são boas indicações de erro na condução de política monetária. O mesmo ocorreu em 2008, quando o BC, no segundo mandato de Lula, era presidido por Henrique Meirelles.

Depois de subir a taxa básica de juros ao longo de 2008, quando já eram visíveis sinais de uma crise bancária global, o Copom de Meirelles elevou a Selic também para 13,75% ao ano em setembro, às vésperas da quebra do banco Lehman Brothers, ponto simbólico do início do hoje conhecido como o "grande crash global de 2008".

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Daí para frente, após dois meses sem alteração nos juros, Meirelles iniciou uma corrida de cortes na Selic, igualmente com reduções fortes, de 1 ponto e 1,5 ponto, a cada reunião do Copom, só interrompida com a taxa em 8,75%, em março de 2010, e a retomada das altas até entregar o cargo, no fechamento do segundo governo de Lula, com taxa básica a 10,75%.

Reação negativa

Na manhã seguinte à decisão do Copom em julho, as cotações do dólar oscilavam, com períodos de alta e outros de baixa, indicando que o comunicado da reunião deixou mais dúvidas do que indicações dos rumos da política monetária no futuro próximo. Na sessão da tarde, também impulsionado pelos temores de intensificação de conflitos no Oriente Médio, o dólar disparou, passando de R$ 5,70. O mesmo recado vinha da trajetória dos juros futuros, que registrava quedas nos ramos curtos da curva e alta nos ramos mais longos, sinalizando incertezas dos operadores sobre os rumos da política monetária.

Resta esperar que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) confirme em setembro as indicações dados por seu presidente Jerome Powell, depois de manter a taxa de referência em 5,5% ao ano, também em decisão desta quarta-feira. A redução dos juros nos Estados Unidos ajudaria a amenizar a armadilha em que o Copom se meteu.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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