José Paulo Kupfer

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Opinião

Inflação mensal cai depois de julho, mas deve fechar o ano no teto da meta

A marcha da inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), depois dos resultados de julho, divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (9), dá completa razão à ata do último Copom (Comitê de Política Monetária), em julho. A tendência é de que a alta de preços se mantenha, mês a mês, até o fim do ano, no limite de 4,5%, no acumulado em 12 meses, que é o teto de intervalo de tolerância do sistema de metas.

Reforçada com os números de julho, a marcha da inflação pode alimentar expectativas de alta da taxa básica de juros (taxa Selic) em alguma das três reuniões do Copom ainda este ano. Mas isso não significa certeza de a Selic sairá do atual nível de 10,5% ao ano, em 2024.

Fator político

Além de o próprio Copom considerar um horizonte mais longo para a convergência da inflação para a meta de 3% ao ano — agora o alvo vai até o primeiro trimestre de 2026 —, há um fator político relevante para que a taxa básica fique estacionada por mais tempo: a substituição, um tanto tumultuada, neste segundo semestre, do presidente do BC, Roberto Campos Neto, transformado em desafeto pelo presidente Lula, exige cautela, para repetir expressão costumeira usada pelo Copom em sua comunicação.

Pressões em serviços e em itens cujos preços são influenciados por elevação nas cotações do dólar, em combinação com a bandeira amarela que onerou as tarifas de energia e aumentos nos combustíveis, conforme destacado na ata do Copom, teriam levado a inflação de julho bem acima do 0,38% de alta registrada sobre junho, chegando a 2,87% de janeiro a julho, e batendo em 4,5%, no acumulado em 12 meses. O que moderou a elevação, trazendo o IPCA para menos de 0,4% foi o recuo forte de 1%, em julho sobre junho, nos preços dos alimentos.

Para agosto, as previsões são de pequeno avanço na inflação mensal, com elevações estimadas abaixo de 0,2%. Daí em diante, as expectativas são de altas mensais moderadas, entre 0,2% e 0,4%, mas sempre na fronteira do teto do intervalo de tolerância, quando considerado o acumulado em 12 meses.

Cigarros pressionam

Nas projeções e análises do economista Fábio Romão, especialista com larga experiência em acompanhamentos de preços da LCA Consultores, o quadro inflacionário não sofrerá alterações significativas nos próximos meses. Romão chama a atenção para uma pressão adicional sobre a inflação ainda neste ano, com origem no aumento do preço mínimo do cigarro, em agosto, e da alíquota cobrada sobre o produto, a partir de novembro.

"Daqui para frente, variações de preços em alimentação no domicílio vão deixar o terreno negativo, embora com taxas moderadas, ao mesmo tempo em que combustíveis pressionaram menos depois de julho sair do terreno. Mas reajustes em cigarros e as recentes desvalorizações do câmbio poderão desaguar sobretudo em artigos de residência e vestuário." Fábio Romão, economista da LCA Consultores especialista em acompanhamento de preços

Romão elevou de 4,2% para 4,4% sua previsão de inflação para 2024. Levou em conta também as pressões da conjuntura favorável no mercado de trabalho — e que em parte expressa um outro lado da moeda da expansão dos gastos públicos — sobre a inflação de serviços. Em julho, por exemplo, a inflação nos serviços avançou 0,75%, ritmo de alta equivalente ao dobro do registrado pelo IPCA cheio do mês. No ano, de acordo com projeções atualizadas do economista, a alta de preços nos serviços pode chegar a 4,6%.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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