José Paulo Kupfer

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Opinião

Depois do IPCA-15, dúvida é se Selic deve seguir dados ou jogo político

A taxa básica de juros (taxa Selic) não seria elevada em setembro, permanecendo no nível atual de 10,5% nominais ao ano. Isso se valerem as declarações mais recentes do economista Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central, que o presidente Lula mandou ficar de sobreaviso para ser indicado como substituto de Roberto Campos Neto, na presidência da instituição, em 2025.

Numa palestra em Teresina (PI), nesta segunda-feira (26), de onde voltou antes do programado a Brasília, convocado para ficar de sobreaviso, Galípolo assegurou que o Copom (Comitê de Política Monetária) está "dependente dos dados" para definir a Selic, na reunião de meados de setembro. Além de depender dos dados para decidir, o Copom, na opinião do presumido novo presidente do BC, deve ser manter "cauteloso" na decisão.

Dados versus ambiente político

A verdade, contudo, nesta altura, é que a decisão do Copom sobre a Selic em setembro depende menos dos dados da marcha dos preços — e de uma visão mais cautelosa do BC — do que do ambiente e do comportamento políticos, no Congresso e entre os agentes de mercado. Provavelmente, o que vai valer em setembro, na definição da Selic, apesar de toda a encenação de uma decisão técnica com base em dados, será o jogo político.

Depois de uma verdadeira tempestade de juras de Galípolo — até sancionadas por Lula — de que os juros irão até onde devem ir para trazer a inflação ao centro de meta, de 3% ao ano, poderá sair mais "barato" confirmar logo com uma alta de juros a campanha para tirar da frente a ideia de que um BC presidido por economista próximo de Lula será leniente com a inflação. Os dados, nessa hipótese, não pesarão tanto.

É, aliás, no que acredita o mercado, que vem, pouco a pouco, aumentando a probabilidade de alta da Selic em setembro. Depois do IPCA-15 de agosto, por exemplo, a curva de juros futuros registrou elevação, refletindo já agora quase consenso na subida dos juros básicos, no Copom do mês que vem, apesar de, na média, considerar favoráveis os números da prévia da inflação de agosto.

Dados não exigem mais aperto

Pelo menos os dados de inflação, os mais relevantes para determinar dos juros básicos, não indicam a necessidade de elevar a Selic e tornar a política monetária ainda mais restritiva do que já é no momento. Não que as altas de preços estejam em rápida e intensa queda, mas, sim, que as variações registradas e as projetadas não chegam ao ponto de exigir determinar política monetária ainda mais restritiva do que a já em curso.

A cautela na avaliação dos dados, também sugerida por Galípolo, se realmente for seguida, suporia não fazer marola, sobretudo num momento em que a perspectiva, no Fed (Federal Reserve, banco central americano) é de cortes nos juros de referência. A diferença entre os juros básicos nos Estados Unidos e no Brasil, sobretudo quando o movimento, nos EUA, é de queda na taxa, é fator decisivo na contenção das pressões inflacionárias domésticas, com origem na cotação do dólar

Inflação se acomoda perto do teto

É certo que a inflação continua rondando os 4,5%, que é o teto do intervalo de tolerância do sistema de metas. No setor de serviços, preços continuam pressionados pela atividade econômica mais aquecida e a massa salarial mais elevada, núcleos de inflação se mantém com variação acima de 4% ao ano, mas as tendências, para um futuro um pouco mais longo, não parecem suficientes para que se decida impor política monetária mais restritiva.

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Os números da inflação de um mês não são suficientes para sustentar uma decisão sobre níveis de juros, mas eles colaboram na definição de tendências. O resultado do IPCA-15 de agosto, divulgado pelo IBGE nesta terça-feira (27), mostram mais acomodação do que perspectivas de explosão na marcha inflacionária.

Com alta de 0,19% no mês, acumulado de 3,02% no ano e recuando para 4,35% em 12 meses, contra 4,5% do IPCA cheio em julho, o IPCA-15 de agosto não acentuou as pressões esperadas, decorrentes de uma economia mais aquecida, na qual, com desemprego em queda e massa de salários em alta, tenderiam a pressionar a inflação com mais intensidade.

Viés de baixa

O IPCA cheio do mês, de acordo com boas projeções, registrará alta bem abaixo do que ocorrido no IPCA-15 do mês, em torno de 0,1%, o que levaria a inflação, no acumulado em 12 meses, a ficar abaixo de 4,5%. Previsões também apontam alta na inflação ao final de 2024, nas vizinhanças 4,5%, teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, mas num viés de baixa.

Depois de conhecidos os números do IPCA-15 de agosto, projeções do economista Fábio Romão, com experiência em acompanhamento de preços para a LCA Consultores, apontam para 2024, ligeiro recuo sobre a alta registrada no ano passado, de 4,6% para 4,4%. Em 2025, a previsão é de que a alta dos preços recuaria para o entorno de 4%.

Se a inflação parece acomodada, mesmo que não no centro da meta, mas no intervalo definido no sistema de metas, é de se perguntar quais as vantagens de apertar ainda mais os juros básicos, em vez de o governo, no conjunto, trabalhar para estreitar a sintonia entre as políticas monetária e fiscal.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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