Antes do Copom, taxa de chutes sobre rumos da Selic está em alta forte
Antes da reunião de setembro do Copom (Comitê de Política Monetária), que vai definir o nível da taxa básica de juros (taxa Selic), pelo próximos 45 dias, uma outra taxa está em alta forte. É a taxa de chutes sobre quanto será o aumento dos juros básicos nesta quarta-feira (18).
Os analistas de mercado ainda estão muito divididos sobre o tamanho da elevação da Selic, se 0,25 ponto de percentagem ou 0,5 ponto, com os juros básicos iniciando um novo ciclo de altas, saindo de 10,5% nominais ao ano, que vinham sendo mantidos desde maio, para 10,75% ou 11%.
Também não há consenso entre os analistas em relação ao fim do novo ciclo de altas que a maioria acredita ter início no Copom de setembro. Observa-se alguma convergência para uma Selic de 11,75% no fim do ano, avançando mais 0,25 ponto em janeiro, para 12%.
Na definição da marcha da Selic, contudo, as apostas estão mais "desancoradas". A pesquisa econômica do Itaú, por exemplo, fecha com 11,75% — juntando à previsão majoritária —, mas a do Bradesco projeta Selic a 11,25% no fim do ano, enquanto BofA (Bank of America) avança para 12% e JP Morgan estima que a taxa básica chegará a 11,5%, a mesma esperada pelo Santander.
Um sinal de que, entre os analistas, reina mais incertezas do que o normal, é que, apesar da convicção geral de que os juros vão começar a subir aqui e a cair, nos Estados Unidos, que também decide nesta quarta-feira o nível das taxas dos Fed funds — a taxa básica nos Estados Unidos —, as curvas de juros futuros, nos dois mercados, estão inclinadas para cima, nesta terça-feira (17). Altas dos juros futuros indicam que o mercado espera taxas mais altas do que sinalizam as expectativas
Mesmo quem considera que não seria necessário subir a Selic agora em setembro reconhece que o Copom iniciará um roteiro de altas. É o caso do economista José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, o mesmo no qual o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado à presidência do BC por Lula, foi presidente por quatro anos.
Com grande experiência no mercado, Gonçalves vê "um balanço incerto entre fatos e ideologia", nas avaliações em torno dos rumos da política de juros. O economista nota que apostas sobre a decisão do Copom de setembro não escondem que permanece a desconfiança de parte do mercado em relação ao compromisso de Galípolo com a convergência da inflação para o centro da meta. Apesar de todas as indicações dadas por Galípolo de que não será leniente com a inflação, "como nos filmes, o novato tem de dar um tiro no cadáver para passar a ser parte da família", como escreve o Gonçalves, em relatório a clientes.,
Vêm dessas desconfianças, inspiradas na atuação duramente criticada de Alexandre Tombini, na presidência do BC, no governo de Dilma Rousseff, alguns dos argumentos para que o ciclo de altas da Selic comece com uma elevação de 0,5 ponto.
De acordo com essa interpretação, Galípolo defenderia e negociaria com os colegas do Copom uma subida mais forte da taxa básica como forma de "atirar no cadáver". Também tentaria inclinar o colegiado a uma elevação mais acelerada da Selic, para deixar com seu antecessor, Roberto Campos Neto, que deixa o cargo no último dia de 2024, o ônus da alta mais pesada. Corre ainda a narrativa de que, à moda de um Maquiavel da política monetária, Galípolo faria o "mal" logo e de uma vez.
De outra lado, conforme avaliações que circulam no mercado, Campos Neto, de saída da presidência, teria interesse em dar um lustro em seu currículo, amenizando as altas até o fim do ano e receitando uma política de ajuste gradual na taxa básica de juros. O único fato em que esse tipo de análise se sustenta é o da existência de grande incerteza em relação ao que o Copom vai decidir. O resto dessas análises está distante dos fatos e mais perto das ideologias.
A aposta em alta de 0,5 ponto, porém, às vésperas do Copom, ainda não é majoritária no mercado. Prevalece a expectativa de que a Selic suba 0,25 ponto, para 10,75%. Mas também a manutenção inalterada da taxa básica tem defesa técnica.
Mesmo com inflação em alta — a severa seca deste meio de ano, afetará, negativamente, as tarifas de energia e os preços dos alimentos — e projeções de que fecharia 2024 na borda de 4,5%, teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, um corte na taxa de referência americana, ainda mais se chegar a 50 pontos, como se cogita, seria um fator relevante para aliviar a marcha da inflação no Brasil.
As previsões de que a atividade passará a desacelerar neste segundo semestre, em combinação com a previsível valorização do real, caso a diferença entre juros brasileiros e americanos se abra, como previsto, permite imaginar redução gradual e ao longo do tempo de pressões inflacionárias.
Reforçam esse quadro de mais moderação no crescimento e na inflação o bom comportamento das cotações de commodities, no mercado internacional, e, no campo doméstico, uma provável desaceleração de gastos e transferências públicos — reduzindo o peso negativo dos projetos déficits fiscais nas análises. Ao mesmo tempo, altas na Selic, e ainda mais se aceleradas, só produzirão efeito concreto em meados de 2025, ainda que influenciem expectativas desde já. Em meados de 2025, com juros reais mais restritivos e perto das nuvens de 8%, a atividade econômica, segundo as análises predominantes, já estaria mais acomodada, dispensando tantas amarras monetárias.
Tudo isso bem pesado, é possível dizer, pegando carona com o economista Gonçalves, do Fator, que a taxa básica vai subir mais para atender ideologias do que a fatos.
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