PETR4 ou VALE3: qual ação paga mais dividendos com o menor risco?
Investir em empresas de commodities com foco em dividendos pode proporcionar momentos de alegria, mas também dissabores. A volatilidade das remunerações costuma ser uma marca registrada deste tipo de companhias: quando o preço da commodity está em alta, os proventos podem ser absurdamente elevados, enquanto nos ciclos de queda as companhias podem até não pagar dividendos aos seus acionistas.
Entre as empresas do setor que mais se destacaram nos últimos anos estão Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). A primeira chegou até mesmo a figurar entre as maiores pagadoras de dividendos do mundo em 2022, apesar de ser estatal. Já a segunda, entre altas e baixas do minério de ferro, conseguiu remunerar os seus investidores de forma consistente desde 2019, distribuindo no mínimo R$ 1,41 por ação.
O cenário em 2024 parece ser promissor para o petróleo e minério de ferro, na visão de agentes de mercado consultados pela coluna. Afinal, qual é a melhor alternativa para quem busca receber dividendos com exposição às commodities: Petrobras ou Vale? Confira nesta queda de braço!
Essas ações são recomendadas?
Petrobras: Levantamento de consenso de mercado do TradeMap feito para a coluna revela que de 14 casas de análise, bancos e corretoras que acompanham Petrobras (PETR4), cinco possuem recomendação de compra e nove optam por manter a ação, com uma visão neutra diante das incertezas com dividendos extraordinários e comando da estatal. Não houve recomendação de venda.
Vale: 13 instituições têm o papel em carteira. Destes, 10 recomendam compra e três a manutenção. Ninguém recomenda a venda da mineradora.
O preço-alvo médio - que determina a visão das casas de até quanto a ação pode valorizar em 2024 - é de R$ 42,33 para PETR4 e R$ 81,82 para VALE3.
Como as empresas remuneram seus acionistas?
Ambas as companhias têm políticas de dividendos bem estruturadas. A política de remuneração da Petrobras (PETR4), definida em 2023, estabelece distribuir 45% do seu fluxo de caixa livre - o fluxo de caixa menos investimentos e aquisições -, desde que tenha uma dívida líquida inferior a US$ 65 bilhões. No passado, a política de remuneração anterior previa distribuir 60% do fluxo de caixa livre, com o mesmo limite de dívida. A Petrobras costuma fazer distribuições trimestralmente. E há espaço na sua política para dividendos extraordinários.
Já a Vale tem como objetivo distribuir no mínimo 30% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, menos o investimento corrente (capex). A companhia, que também tem espaço para pagamentos extraordinários, remunera seus investidores sempre em duas parcelas, em março e setembro. Confira nesta matéria 16 ações que pagam dividendos regularmente.
Vale é mais previsível do que Petrobras. Levantamento da Comdinheiro para a coluna mostra que, nos últimos cinco anos, a Petrobras não distribuiu dividendos todos os anos. Já em relação a Vale, a mineradora entregou proventos ininterruptamente de 2019 até 2024. "Se olhar historicamente, a Vale pagou dividendos todos os anos, mesmo quando aconteceu o episódio de Brumadinho; ela já tinha feito distribuições antes do incidente", explica Gabriel Duarte, analista da Ticker Research.
Quanto as empresas pagaram em cinco anos?
Em relação a valores distribuídos, a Petrobras alcançou seu auge em 2022, com R$ 16,77 por ação. Enquanto a Vale chegou ao patamar de R$ 14,65 por papel em 2021. Veja o pagamento de dividendo por ação, o dividend yield (DY) e o retorno total (RT), da valorização e dos dividendos, em cinco anos:
Petrobras
- 2019: R$ 0,94; DY 3,25%; RT 37,48%
- 2020: R$ 0; DY 0%; RT -6,09%
- 2021: R$ 5,65; DY 19,86%; RT 23,51%
- 2022: R$ 16,77; DY 49,93%; RT 47,36%
- 2023: R$ 7,29; DY 24,63%; RT 96,41%
- 2024: R$ 0; DY 0%; RT 6,04%
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Quero receberVale
- 2019: R$ 1,41; DY 2,58%; RT 7,28%
- 2020: R$ 2,41; DY 4,01%; RT 70,93%
- 2021: R$ 14,65; DY 15,66%; RT 4,87%
- 2022: R$ 7,58; DY 8,97%. RT 24,95%
- 2023: R$ 6,08; DY 8,07%; RT -5,73%
- 2024: R$ 2,74; DY 4,28%; RT -16,85%
Fonte: Comdinheiro
Petróleo e minério de ferro: o futuro das commodities
O cenário em 2024 é mais sólido para o petróleo, acredita Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. Embora EUA e China não mostrem dados sensacionais, não há expectativa de nenhum tipo de solavanco, pelo contrário. "Tem os dados de produção global, preços, do mercado de trabalho que mostram um nível bom de resiliência. Isso é positivo para o petróleo e seus derivados", destaca.
O petróleo costuma ter uma correlação forte com a taxa de juros dos EUA. Se os cortes demorarem a acontecer, a demanda deve continuar forte. A guerra da Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio, intensificados com os ataques entre Irã e Israel, "trouxeram complicações para a oferta de petróleo, o que deve permitir que os preços fiquem altos nos próximos meses", afirma Arbetman. A expectativa é que o preço do Brent fique entre US$ 100 e US$ 110 o barril.
Já o minério de ferro não teve um primeiro trimestre muito forte, por conta da China. Mas houve uma recuperação recente nos últimos meses, com maior demanda, "o que vai influenciar diretamente na cotação da Vale", pontua o analista.
Mas Arbetman tem mais dúvidas em relação ao minério e cita que a commodity tem um preço muito instável. A expectativa do mercado é que nos próximos meses o minério de ferro se estabilize acima de US$ 100 a tonelada.
Petrobras: ainda existe espaço para bons dividendos?
Na sexta-feira (19), a Petrobras comunicou ao mercado que o seu Conselho de Administração deliberou pela distribuição de 50% dos dividendos extraordinários retidos em reserva, no montante de R$ 21,95 bilhões. A mudança ainda precisa ser aprovada em Assembleia Geral de Acionistas (AGO), no dia 25 de abril. Apenas a distribuição de dividendos extraordinários já representaria um dividend yield (retorno com proventos) de 4% em relação ao preço atual do papel. O dividendo por ação é de cerca de R$ 1,68.
Somente com dividendos regulares, a Petrobras entregaria um dividend yield de 13%. Mas contando os proventos extraordinários, o retorno pode ser de até 20% em 2024, afirma Luís Moran, head da EQI Research. "Cremos firmemente que a metade remanescente de 50% dos dividendos extraordinários serão distribuídos até o fim deste ano, provavelmente no resultado do 3° trimestre", aponta.
Moran diz que a situação financeira da Petrobras é excelente e não há motivos para barrar a distribuição de proventos. "O governo federal também precisa dos recursos para fins fiscais. Acreditamos que uma eventual troca de diretoria já contemplaria a distribuição dos dividendos", defende.
Se o petróleo brent negociar acima de US$ 90 o barril nos próximos meses, a Petrobras vai continuar gerando muito caixa que vai virar dividendos recorrentes, diz Duarte, da Ticker. Veja mais sobre investimentos na Petrobras aqui.
Em relação aos principais riscos, Duarte cita a interferência política por se tratar de uma empresa estatal - como o visto recentemente em polêmicas envolvendo a distribuição de dividendos extraordinários e possível troca de comando da petroleira. "O governo pode definir na canetada alguma medida que não é interessante para a empresa e será ruim para o acionista. Isso vai afetar a empresa fazendo com que as cotações recuem de forma expressiva", observa.
O preço do petróleo em alta continua sendo benéfico para a companhia. Isso mesmo que a petroleira não tenha mais paridade de preços internacionais, diz Arbetman, da Ativa.
Confira abaixo as projeções para dividendos da PETR4 dos analistas consultados pela coluna:
- Ticker Research: DY 2024 entre 15% e 17%, considerando a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários.
- EQI Research: DY 2024 de 13% com proventos regulares. E até 20% com 100% dos dividendos extraordinários.
- GuiaInvest: DY 2024 de 7% apenas com proventos regulares. E até 11% considerando a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários.
- Ativa Investimentos: DY 2024 de 12,5%, dividendo por ação de R$ 5,10, considerando a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários.
Vale: é uma opção mais perene?
Vale tem menos risco de ingerência política. Por ser uma empresa privada, a sua estrutura societária blinda a companhia, diz Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest. "Para quem quer evitar o risco de ter o governo como sócio, Vale poderia sim substituir Petrobras", pontua Biz.
Para ele, ambas as empresas de commodities poderiam ser complementares dentro de uma carteira de dividendos. Outra vantagem são os diferenciais competitivos e de qualidade da Vale a nível internacional. Para Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, vale a pena ter a mineradora em uma carteira de dividendos. "Não vislumbramos mudança no curtíssimo prazo, ainda que essa instabilidade na China seja negativa para a empresa, a Vale deve continuar entregando dividendos robustos", cita o analista.
Para Paletta, a ação está com desconto e tem potencial. "Eu acho que investir em Vale vai trazer mais segurança jurídica ao investidor do que a Petrobras. Ainda que o governo tenha uma capacidade indireta de afetar a mineradora", avalia.
Entre os riscos, está a instabilidade do preço internacional do minério, da qual a Vale fica dependente para os seus resultados. A siderurgia chinesa é seu principal cliente, e nesse aspecto a ação seria mais arriscada do que a Petrobras. "Os riscos da Vale recaem sobre a saúde da economia chinesa", comenta Moran, da EQI Research. Contudo, para Paletta, o investidor que aporta em Vale já deve estar ciente da forte volatilidade.
Os agentes de mercado também recomendam monitorar possível aumento de provisões com os desastres ambientais de Mariana e Brumadinho, que podem pressionar os dividendos.
Confira abaixo as projeções para dividendos de VALE3 dos analistas consultados pela coluna:
- Ticker Research: DY 2024 entre 7% e 8%, dividendo por ação de R$ 4,70.
- EQI Research: DY 2024 de 9%.
- Monett: DY próximos 12 meses entre 10% e 11%.
- GuiaInvest: DY 2024 de 8,5%
- Ativa Investimentos: DY 2024 de 10,10%, dividendo por ação de R$ 6,30
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