Katherine Rivas

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Reportagem

Governo pode ganhar R$ 6,3 bi em dividendos da Petrobras; quem mais recebe?

O dia 25 de abril representa uma data decisiva para os investidores da Petrobras (PETR4). Eles devem votar, em Assembleia Geral de Acionistas (AGO), a proposta do Conselho de Administração da petroleira de distribuir 50% dos dividendos extraordinários que estavam retidos em reserva. O montante é de R$ 21,95 bilhões. O governo ficaria com R$ 6,3 bilhões.

Para quem não se lembra da polêmica, a Petrobras reteve 100% dos dividendos extraordinários (R$ 43,9 bilhões) em uma reserva de remuneração do capital no dia 7 de março. O mercado não enxergou esse movimento com bons olhos, e o efeito foi uma forte queda no valor de mercado da petroleira. No dia 8 de março, a companhia perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. As quedas prosseguiram durante os cinco pregões seguintes. Apenas no dia 12, a petroleira começou a recuperar parte do valor perdido, com alta de R$ 14,6 bilhões. Os dias seguintes foram marcados por forte volatilidade.

Agora, a maioria do mercado já dá como certo que o pagamento dos R$ 21,95 bilhões em dividendos extraordinários seja aprovado em Assembleia Geral de Acionistas (AGO) nesta quinta-feira (25).

Mas vale investir? O que dizem analistas? Veja aqui se é melhor investir em junior oils ou na Vale, que também liderou no pagamento de proventos.

O que mudou

Na queda de braço entre o mercado e o governo, a vitória aparentemente foi do mercado, que fez o comando da companhia rever a decisão sobre a distribuição de proventos extraordinários. A alternativa foi liberar 50% e deixar a outra metade para ser distribuída a título de dividendos intermediários ao longo do exercício de 2024.

Mas será que o governo perdeu totalmente? Quem são os principais beneficiados no pagamento de proventos extraordinários da petroleira?

Quem ganha com os dividendos da Petrobras (PETR4)?

Levantamento exclusivo de Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, para a coluna revela que os R$ 21,95 bilhões, a serem distribuídos como 50% dos dividendos extraordinários, representam R$ 1,68 por ação PETR3 e PETR4, equivalente a um dividend yield (retorno com proventos) de 4,07% considerando o preço do papel no fechamento de 23 de abril. Se a companhia optasse por distribuir 100% dos dividendos extraordinários, o valor por ação seria de R$ 3,37 e o dividend yield de 8,14%, A Petrobras possui 13,044 milhões de ações.

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Segundo informações da B3, os acionistas com participação relevante na Petrobras são: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (1,04%), BNDES Participações - BNDESPAR (6,90%), BlackRock Inc (2,15%), GQG Partners LLC (5,45%), União Federal (28,68%) e outros acionistas (55,78%). Os dados mais recentes são de 21 de março de 2024.

Caso a Petrobras distribua 50% dos dividendos extraordinários, o governo seria beneficiado com R$ 6,3 bilhões. Os investidores estrangeiros mais representativos são a gestora BlackRock e a GQG Partners, diz Duarte. Com o pagamento de metade dos dividendos extraordinários, os investidores estrangeiros seriam beneficiados com R$ 471,93 milhões e R$ 1,2 bilhão.

Veja quem é beneficiado com o pagamento:

  • Outros investidores: 55,78%; R$ 12,24 bilhões
  • União Federal: 28,68%; R$ 6,3 bilhões
  • BNDES Participações - BNDESPar: 6,90%; R$ 1,51 bilhão
  • GQG Partners LLC: 5,45%; R$ 1,2 bilhão
  • Black Rock Inc: 2,15%; R$ 471,93 milhões
  • Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES: 1,04%; R$ 228,28 milhões

O governo precisa mesmo desses dividendos?

O governo brasileiro precisa de receita diante das metas fiscais. "A meta era de um superávit primário de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e foi alterada pelo governo para 0% no próximo ano", aponta Phil Soares, analista chefe da Órama. Para 2025, a expectativa do mercado é de um déficit primário de 0,60% do PIB.

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Soares lembra que nos governos Temer e Bolsonaro o dividendo da Petrobras foi muito utilizado para preencher essas lacunas. "É algo muito bom, principalmente no período atual em que o preço do petróleo está elevado", avalia. "A nossa convicção é que o governo vai precisar receber dividendos ao longo dos próximos anos", reforça.

Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a Petrobras contribui com a vida dos brasileiros por meio do pagamento de dividendos. Segundo o analista, quanto mais dividendos são pagos pela petroleira, mais o governo arrecada e, em consequência, consegue investir mais e tornar a vida dos brasileiros melhor. Além disso, Arbetman destaca que entre os principais acionistas quem têm direito a mais proventos está a União. Desta forma, o governo recebe mais do que qualquer investidor, até mesmo os estrangeiros.

Datas importantes para o investidor

Os proventos serão pagos na forma de dividendos em duas parcelas:

  • A primeira parcela será de R$ 1,45 por ação ordinária e preferencial. Desta, R$ 0,57 fazem parte das distribuições regulares e R$ 0,88 são dividendos extraordinários.
  • A segunda parcela também será de R$ 1,45 por PETR3 e PETR4, com R$ 0,57 de proventos regulares e R$ 0,88 referente a dividendos extraordinários.

Para o investidor garantir os proventos regulares e extraordinários, duas datas de corte (data com) serão aplicadas. Para os valores regulares, a data limite para garantir os proventos de PETR3 e PETR4 é no dia 25 de abril de 2024. A partir desta sexta-feira (26), as ações serão negociadas ex-direitos.

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Já em relação aos proventos extraordinários, a data de corte será em 2 de maio para as ações da petroleira negociadas na B3. A data-ex será no dia 3 de maio.

O pagamento dos proventos também será realizado em duas parcelas, sendo a primeira em 20 de maio e a segunda em 20 de junho de 2024.

Analistas atualizam projeções

Alguns analistas já ajustaram as suas projeções de dividend yield para 2024, considerando esta distribuição extra. Gabriel Duarte, da Ticker, espera que os dividendos da Petrobras fechem este ano no patamar entre 15% e 17% de yield - e que pode chegar a 20%, semelhante ao visto nos últimos anos, por causa do preço do petróleo.

Mas o ideal é não colocar mais de 10% do seu dinheiro na ação. Duarte reconhece os riscos de interferência do governo e o fato de depender de uma commodity e por isso não recomenda que os investidores tenham uma posição superior a 10% do portfólio alocada em Petrobras. "Eu teria preferencialmente em torno de 5% a 7% do meu patrimônio em Petrobras", aponta. Segundo Duarte, o preço ideal de compra da petroleira é no patamar de R$ 37 - atualmente, está negociando acima dos R$ 40.

Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, elevou a projeção de dividend yield para PETR4 de 10% para 15% neste ano. Saravalle comentou à coluna que espera também aumentar a posição em Petrobras na carteira de dividendos da MSX Invest. A recomendação é de compra. A empresa gera caixa, tem endividamento confortável e, agora, um retorno em dividendos acima da Selic.

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Arbetman, da Ativa, acha que o pagamento de 50% dos dividendos retidos mostra uma mudança de pensamento no comando da petroleira. "Se todo o dividendo retido em reserva for distribuído, teríamos uma carga de risco menor para a Petrobras", avalia. Embora admite que não dá para prever como serão as futuras distribuições de dividendos nos próximos trimestres. Arbetman projeta um dividend yield de 12,5% para Petrobras neste ano, com pagamento de R$ 5,10 por ação.

Phil Soares, da Órama, já é mais cético. "O investidor não pode considerar uma decisão individual e sim o conjunto destas", comenta. "Não teve nenhuma política estabelecida. Teve uma decisão individual que não é um sinal forte de que a situação continuará igual", defende. A Órama manteve a sua recomendação neutra para as ações PETR4, com preço-alvo de R$ 32,50 em 2024. O dividend yield projetado é de 15% já considerando o pagamento de dividendos extraordinários.

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