Dividendos da Petrobras podem cair com troca de comando, diz mercado
Com uma visão mais desenvolvimentista e alinhada ao governo, é provável que a futura presidente da Petrobras, Magda Chambriard, aumente os investimentos da estatal. Ela foi a indicada pelo Ministério de Minas e Energia para substituir Jean Paul Prates, depois de sua demissão do comando da Petrobras pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ontem, 15.
Para analistas do mercado, há incertezas sobre os retornos das ações e o pagamento dos dividendos aos acionistas, com maior investimento em outras áreas, como energias renováveis e refino. Já outros acreditam que o retorno com dividendos, o DY, não deve mudar e que a empresa tem boas regras de complicance. Veja abaixo:
O que dizem especialistas
O plano de investimentos da empresa deve ser revisto, e a intenção é que a estatal invista mais em outras áreas, sem distribuir esses recursos aos acionistas, como energias renováveis e em refino, dizem analistas do mercado.
É melhor distribuir lucros do que investir onde não há garantia de retorno, avaliam especialistas. Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, fala de investimentos frustrados, como no setor naval, de fertilizantes, geração de energia e outros. "Raramente conseguiu retornos que justificassem esses aportes. Na grande maioria dos casos, seria melhor ter distribuído os recursos na forma de dividendos".
Se os dividendos caírem, pode deixar de valer a pena investir na empresa. "Apesar de todos os riscos políticos envolvidos na tese nos últimos anos, os rendimentos via dividendos (dividend yield) acima de 15% traziam bastante atratividade para PETR3 e PETR4. No entanto, a depender da mudança na política de investimentos e da criatividade da nova gestão em encontrar "oportunidades" de usar o caixa gerado em E&P em segmentos de retornos baixos, podemos ver essa distribuição cair bastante, a ponto de não compensar mais os riscos políticos envolvidos", diz Hungria.
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, lembra que a eleição de Prates também foi marcada por ruídos, por causa de sua atuação política. "Foi toda aquela situação, que era esperado que ele não pudesse exercer o cargo, e no fim das contas ele fez um excelente trabalho até aqui", diz.
Governo também precisa dos dividendos
O BTG lembra que o governo também precisa do pagamento de dividendos para equilibrar suas contas. "Acreditamos que esse pragmatismo permanecerá em vigor, impulsionado pela necessidade do governo federal de continuar gerindo as contas fiscais e por conta das rigorosas regras de governança e métricas de rentabilidade necessárias para a aprovação de investimentos inorgânicos." Mas a posição de Magda Chambriard sobre a remuneração dos acionistas ainda é obscura. "Esta questão será crucial para fornecer segurança ao mercado, analisou o BTG.
Petrobras é vaca leiteira. "Outro ponto que a gente tem que levar em mente é que os dividendos da Petrobras mexem com muita coisa além do que é imaginado pelo mercado. É um dividendo que é importante para o fiscal do país", destaca Duarte. "O que interessa é que o fiscal é deficitário, o governo precisa de dinheiro e a Petrobras é uma vaca leiteira. Então, eu não imagino que a Petrobras vá parar de pagar dividendos, por mais agressivo que seja o discurso que o partido tenha."
Já o UBS acredita que ela deve manter a política da estatal. "Nossa visão é que a governança deverá dar suporte para a manutenção da estratégia, retorno e alocação de capital de forma racional e, em última análise, retornos aos acionistas."
A Magda tem histórico de crítica ao pagamento de dividendos. Tem uma abordagem desenvolvimentista.
Tiago Reis, fundador da Suno Research
Empresa pode ficar com uma dívida maior e, assim, reduzir dividendos. Isso porque sua política atual de proventos regulares é condicionada a uma dívida bruta inferior a US$ 65 bilhões - e hoje é de US$ 61,8 bilhões.
"Uma simples aquisição ( como da Braskem, por exemplo) que eleve esse indicador condicionaria a companhia a realizar apenas o pagamento mínimo de US$ 4 bilhões para anos em que o preço do petróleo do tipo Brent seja superior à US$ 40. Em suma, em apenas um movimento, a companhia poderia condicionar o pagamento total de proventos futuro à apenas cerca de R$ 1,50/ação por ano (considerando um câmbio à R$ 5,00)", disse a Ativa Investimentos.
O mercado está muito mais consciente hoje do que 10-15 anos atrás das consequências de uma abordagem desenvolvimentista da indústria de petróleo. Provavelmente, o valor da empresa será alterado em função disso antes mesmo de os resultados aparecerem. Isso deve pressionar o governo em algum momento.
Tiago Reis, fundador da Suno Research
Analistas ainda não mudaram previsão de retorno para este ano.
Tiago Reis, da Suno, mantém a projeção de um DY de, no mínimo, 10%. "Ainda não trabalhamos com o cenário de que a política de dividendos atual, que já havia sido diminuída, diminua ainda mais", disse. Duarte, da Ticker, também mantém a previsão de um DY de 15% a 17%.
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Quero receberMarco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, também não altera o DY projetado de 15% para 2024. "Quando aumenta a percepção de risco, muda o valuation da empresa, o desconto dela em Bolsa é maior. Precisamos ver como será a comunicação com o mercado da nova CEO", disse.
Não dá para ter uma visibilidade clara ainda sobre os dividendos. O Prates tinha uma visão de distribuir os lucros, e o governo tinha outra visão de colocar em investimentos.
Felipe Moura, analista da Finacap
Ainda é difícil saber quais serão as mudanças, mas a julgar pelo alinhamento da nova CEO com as ideias expansionistas do governo, a tendência é que o nível de investimentos aumente e sobre menos recursos para os dividendos. No entanto, é impossível neste momento saber quanto os dividendos serão impactados e qual é o novo nível de dividend yield.
Ruy Hungria, analista da Empiricus Research
O que fazer com as ações agora
Felipe Moura, analista da Finacap, diz que as ações ainda ficarão instáveis nos próximos dias. Isso porque ainda não há a definição final de CEO ou uma comunicação para o mercado.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, recomenda manter. "Na minha opinião, quem tem ações da empresa, não vale sair agora vendendo. Mesmo não ficando feliz com a situação, eu não sairia. É uma empresa que tem potencial muito bom, e o governo não fica para sempre", afirmou.
Para Duarte, é uma oportunidade de compra, já que as ações podem ficar ainda mais baratas. "Todo mundo que investe em Petrobras já é ou deveria estar ciente que existem esses ruídos, que sempre vão existir enquanto a empresa for estatal ou pelo menos enquanto os governos forem intervencionistas. A Petrobras, independente da cotação, quando você olha por múltiplo, quando você olha por valuation, é uma empresa muito barata", declarou. "Faz sentido, sim, a gente ter Petrobras na carteira pensando em dividendos, pensando em renda."
Para Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, a destruição dos fundamentos da Petrobras ainda poderiam levar um tempo para acontecer, desta forma no curto prazo a petroleira ainda teria capacidade de entregar dividendos entre 10% e 12%.
No entanto, Queiroz não acredita que a queda das ações seja uma oportunidade de entrada no papel, isso porque a companhia deve mudar sua estratégia para fazer mais investimentos (capex) mas o histórico do governo já prova uma destruição de valor.
Vemos uma possível retomada da Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), um projeto extremamente furado que não dá retorno. A possível compra da Braskem, que é um péssimo negócio, e a volta da refinaria Abreu e Lima, que é um antro de dinheiro no ralo
Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital
Para o analista da L4 Capital existem melhores oportunidades no setor de óleo e gás para surfar em crescimento e até dividendos. Ele não aconselha a compra e cita que tem uma posição short (vendida) de 3R Petroleum contra Petrobras há algum tempo.
"A Petrobras também não cabe em uma estratégia de valor, então não vejo com bons olhos essa correção e não faz nenhum sentido aproveitar", pontua.
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