Mariana Barbosa

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Reportagem

Banco Central deve fazer 'avaliação honesta' do patrimônio do Master

A análise do Banco Central sobre a operação do Master com o BRB, o banco estatal do Governo do Distrito Federal, deverá centrar-se em uma avaliação "honesta" do balanço patrimonial do banco de Daniel Vorcaro — hoje considerado inflado pelos agentes do mercado.

"Os ativos estão fora do preço. Uma fatia importante dos ativos não vale metade do que está reportado no balanço", avalia um ex-diretor do Banco Central que conversou com a coluna sob condição de anonimato.

O real patrimônio do Master é uma incógnita. O Master encerrou o ano com patrimônio líquido de R$ 4,6 bilhões, sendo R$ 73 bilhões em ativos — número que o mercado entende estar distante da realidade, mascarando uma supervalorização de ativos como investimento em empresas vistas como problemáticas e precatórios superdimensionados.

"Tem que fazer uma avaliação honesta do que é o balanço. Não sei se o BRB fez isso, mas o Banco Central vai ter que fazer. E se for comprovado que o patrimônio é uma fração do que ele está dizendo que é, é caso de intervenção. Esse é o único caminho, que já deveria ter acontecido há muito tempo."

A operação de aquisição do Master deixa de fora os ativos explicitamente problemáticos, avaliados em R$ 23 bilhões. O ponto em que o Banco Central terá de se deter na avaliação será justamente nos R$ 50 bilhões.

O ex-diretor acredita que o rombo do Banco Master é muito maior do que o do banco Panamericano, que pertencia ao grupo Silvio Santos até ser adquirido pela Caixa em 2009 (e posteriormente vendido para o BTG). No ano seguinte à aquisição pela Caixa, o Banco Central identificou um buraco de R$ 2,5 bilhões em fraude contábil, com o balanço inflado por ativos fictícios. No caso do Pan, o FGC foi acionado e arcou com R$ 3,8 bilhões.

Supervalorização de ativos

Gestão fraudulenta por meio da supervalorização de ativos é uma prática pela qual Vorcaro já foi condenado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O caso se refere a um fundo chamado Brazil Realty. Vorcaro e o Banco Master supervalorizam o fundo com a integralização de um terreno cujo valor foi superfaturado em R$ 56 milhões. A multa estipulada é de R$ 1 milhão. Vorcaro propôs um termo de compromisso, rejeitado pela procuradoria da CVM, e o caso ainda terá de ser decidido pelo colegiado da CVM.


Fundo Garantidor de Crédito

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Apenas a avaliação sobre a real situação da "parte boa" que o BRB está comprando do Master vai definir se haverá necessidade de recorrer ao Fundo Garantidor de Crédito para pagar investidores. O FGC é um fundo privado alimentado pelos bancos para ser usado para pagar investidores em caso de falência ou intervenção de uma instituição, até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.

Hoje o FGC tem uma liquidez de R$ 102 bilhões — enquanto o Master captou o equivalente a 40% disso pagando um título de CDB com as maiores taxas do mercado.

O banco de Vorcaro cresceu justamente com um marketing que explora a garantia do FGC, oferecendo CDBs com rendimento de 120% a 140% do CDI, e fartas comissões para as plataformas que distribuem os papeis, como a XP. O volume de depósitos, concentrado majoritariamente em CDBs, saltou de R$ 2,5 bilhões em 2019 para mais de R$ 40 bilhões no ano passado.

"O FGC se tornou uma enorme distorção. Vai ser preciso mudar as regras de concentração do uso do fundo, limitando o uso por uma instituição. Uma eventual intervenção do Banco Central no Master pegaria um volume grande do FGC", diz o ex-diretor.

O Banco Central tem 360 dias para avaliar a operação.

Reportagem

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