Avançar com o Plano Nacional de Fertilizantes é questão de competitividade
Muitos assuntos, no Brasil, parecem ser prioridade apenas do governo da vez, e não questões de Estado. Mas o Plano Nacional de Fertilizantes está dando sinais de que caminha independente de quem quer que ocupe a Presidência da República.
Por quê? Diminuir a dependência dos fertilizantes importados e ser mais autossuficiente nesse insumo é uma necessidade inquestionável do país, a despeito das vontades do mandatário do momento.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, com 8% do total global. Fica atrás da China, da Índia e dos Estados Unidos. No entanto, mais de 80% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados, o que deixa o setor produtivo nacional na mão de poucos fornecedores.
Em um cenário internacional de guerras simultâneas e problemas logísticos que incluem a falta de navios e a alteração de rotas marítimas, o Brasil fica suscetível à elevação dos preços internacionais de fertilizantes e do custo do frete. Tudo isso encarece não somente a produção de commodities agrícolas, mas também dos alimentos básicos do dia a dia, como arroz e feijão.
Esse é o contexto no qual aconteceu, na semana passada, a 4ª Reunião Ordinária do Confert (Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas), que é liderado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Em volta da mesa, em Brasília, homens engravatados, líderes de grandes companhias e entidades do setor discutiram os caminhos para o país ter produção própria de um insumo essencial para o agronegócio. O encontro teve apresentação de Bernardo Silva, diretor-executivo do Sinprifert (Sistema Nacional de Informações para Produção e Comércio de Fertilizantes e Corretivos do Solo).
Entre os participantes estavam Marcelo Silvestre, diretor-presidente do Grupo Galvani, Rodolfo Galvani Jr, presidente do Conselho do grupo, Clorialdo Roberto Levrero, presidente do Conselho Deliberativo da Abisolo (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal ) e Jacyr Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo).
A Itafos, fabricante de fertilizantes listada na Bolsa de Toronto, também teve lugar à mesa, com a presença do presidente das operações no Brasil, Felipe Coutas. Em Arraias, no Tocantins, a empresa consegue produzir 500 mil toneladas de fertilizantes. A capacidade ainda está ociosa, mas vem aumentando significativamente. Em 2023, a produção foi de 32 mil toneladas e a projeção para 2024, ainda sem os números consolidados do quarto trimestre, é de que a companhia chegue a 100 mil toneladas de fertilizantes.
É do interesse da Itafos participar das discussões em Brasília, pois um plano de operação em Santana do Araguaia, no Pará, está contemplado na carteira de projetos estratégicos do Confert (Conselho Nacional de Fertilizantes), que lidera o Plano Nacional de Fertilizantes. Nessa unidade, a capacidade prevista é de 65 milhões de toneladas de fosfato, que pode atender não somente fertilizantes mais concentrados mas também o mercado de nutrição animal. A estratégia é acertada, já que a região paraense, próxima de São Félix do Xingu, tem alta concentração de atividade pecuária.
Quanto à reunião, Coutas diz que o Plano Nacional de Fertilizantes precisa garantir segurança jurídica. "Não pode ser política de governo. Os investidores querem a segurança jurídica de Estado. Tenho visto seriedade e interesse. A própria presença do Alckmin já demonstra que o Brasil está investindo nisso", avalia.
Ele também destaca a presença, no evento, de representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), do Ministério da Agricultura, da Embrapa e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), de forma que o plano cresça com arcabouço técnico e jurídico adequado.
Quem aproveitou o encontro em Brasília para sinalizar a retomada das atividades neste segmento foi a Petrobras, com previsão de investimentos de US$ 900 milhões no período de 2025-2029 para fortalecer a produção nacional de fertilizantes. De acordo com Wagner Felicio de Oliveira, gerente executivo de Processamento de Gás Natural da Petrobras, há pretensão de retomar atividades em Três Lagoas (MS), Araucária (PR), Camaçari (BA) e Pedra Branca (SE) em 2025. Somadas, essas unidades poderão alcançar uma capacidade total de produção de ureia equivalente a 35% do mercado nacional.
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