Queimadas podem elevar custo de produção da soja na safra 2024/25
Todo começo de calendário-safra tem o mesmo dilema: os custos de produção foram calculados antecipadamente para viabilizar a compra dos insumos, mas até o grão ser realmente colhido existe a incógnita se o preço a ser pago irá compensar.
Nesta equação entre custo de produção e preço pago ao produtor, existe o dia a dia da lavoura, que inclui desafios como clima, pragas, doenças e outras adversidades da famosa indústria a céu aberto. Só que nesta safra 2024/25, outro fator ronda os horizontes do agricultor: a consequência das queimadas.
A avaliação é de Felippe Serigati, coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio da FGV Agro. Ele analisa que as queimadas não devem representar redução de área plantada, mas podem significar elevação nos custos ao longo do desempenho da safra.
"Essas queimadas, quando acontecem para além do que seria normal de acontecer no Cerrado, acabam reduzindo o teor de umidade do solo. Isso vai demandar tratos culturais mais intensos, o que representa aumento de custo de produção", explica. O especialista se refere ao bioma por ser o maior produtor de soja, principalmente pela performance do Mato Grosso.
Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram detectados 18.061 focos de incêndio em Mato Grosso no mês de setembro, até o momento. Também por conta do tempo seco, os agricultores estão aguardando para iniciar a semeadura da soja.
No estado, de acordo com o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), o plantio até a semana passada havia acontecido em 0,27% da área prevista para a safra 2024/25, percentual menor do que o 1,82% do ano passado. É muito cedo para cravar atraso no plantio, já que a confiança de muitos agricultores está depositada no mês de outubro, cuja previsão de chuvas é mais favorável.
"Os talhões cultivados até esse momento são áreas de pivôs, uma vez que as chuvas estão atrasadas na maior parte de Mato Grosso ou ocorreram de forma pontual em alguns municípios, sendo insuficientes para o início dos trabalhos nas áreas de sequeiro", explica o relatório do Imea.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) ainda não informou qual a expectativa do tamanho da área plantada ou o que espera de produtividade. Enquanto isso, os Estados Unidos encerram uma safra positiva em volume produzido de soja e a expectativa do Departamento de Agricultura do país (USDA) prevê uma safra recorde para a Argentina.
"Ao olhar o cenário internacional, o ponto de partida é uma safra cheia, o que não gera pressão altista", diz Serigati.
Com muitos grãos no mercado, o preço tende a cair - e o produtor rural, embora esteja mais preocupado agora com a chuva, está de olho nessa movimentação. Afinal, a safra precisa ser boa o suficiente para pagar os custos e obter lucro, mas uma inundação de soja no mercado externo pressiona os preços para baixo.
Ainda sobre o mercado internacional, a relação de custo-benefício e o possível aumento com os tratos culturais em decorrência das queimadas, o coordenador da FGV diz que um ponto de atenção são os fertilizantes chineses. O insumo é utilizado para complementar os nutrientes do solo, e deve ser altamente demandado em regiões atingidas direta ou indiretamente pelo fogo.
"No momento, o que está dando dor de cabeça são os fosfatados. A China está postergando as exportações de fertilizantes e isso acaba pressionando os preços", explica. A movimentação do país asiático de reter o fertilizante visa conter os preços internos e garantir a própria segurança alimentar.
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